Wednesday, January 25, 2017

Qualquer coisa é mais bela que uma parede cinza


Cidade que me pariu, mas que nunca me exauriu. A maior do hemisfério; seu tamanho é deletério. A cidade da garoa e do submundo. Centro da alta finança, calvário do sujismundo. Produto urbano do desenvolvimentismo. Antítese do humanismo. Engrenagem por excelência da santíssima trindade do delírio mercadológico: Trabalho, Consumo e Produtividade. A cidade que não pára e que não dorme. A cidade supersônica. A cidade que implode. De uma velha vanguarda tão tacanha e anacrônica. A cidade concreta: tão líquida. A cidade discreta que se auto-decreta. Urbe brutal que impiedosamente esmaga, hospedeira dos parasitas da alta nata.

Motor de um modelo falido, esconderijo de subversivos. Os negócios nefastos, a arte rebelde: capital da ação e da reação. Cidade de tantos mundos e de tantos muros: painéis de cimento subvertidos que reluzem vida em cores grafitadas. Murais desalmados por prefeitos engomados. A cidade do chauvinismo e da diversidade. A cidade de contrastes, a cidade da vaidade. A selva de concreto, do homem primata do capitalismo selvagem. A cidade dos guetos sociais, dos nichos culturais, das tribos urbanas, das mentes profanas. Do sonho mundano, de beltrano e cicrano. A cidade acinzentada pelo capricho de barões que não sentem sua vivência mas esbanjam seus brasões. O cinzento de muralhas tão elucidativo: o funcionalismo de uma urbe que é o seu paliativo. Funcionários funcionais: a caducidade da vida em rotinas tão banais que são zona de conforto desse vício tão mordaz de viver numa cidade que combate o que apraz. Santa produtividade que nunca é assaz na religião das catedrais, do mercado voraz. 

São Paulo, que é meu berço, também é minha maldição: imponente e venenosa, se ergue em contradição. É o antídoto do veneno do seu próprio ferrão. São Paulo que se rebela, mas que sempre passa a vez; gigante que é presa fácil quando reina a pequenez. Província megalópole; provincianos megalómanos. Estirpe urbana tacanha; tanta gíria e pouca manha.

Decerto que pariu filho que lhe preteriu: não sou herdeiro, não quero o seu trono. Vendida que está a infames patronos, da tua decadência não me desmorono.


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