Sunday, October 16, 2016

Da Existência

(...) Não chegaria aos "vinte e catorze" para bruxulear-se; não em insossas confrarias. Carcomeram-se-lhe, espúrias; delas já sorvera a virtude. Seus séquitos bailantes ritmavam-se, desidiosos, em lorpa frivolidade. Os aforismos juvenis parafraseavam a decadência; não queria ser um cadáver e menos ainda atraente. Mais sublime fosse o propósito de alargar a juventude. Tal desejo não seria um adágio presunçoso, tão-somente uma afirmação da vida; da sua inebriante inefabilidade. Tempo houvera em que o envolvia radiância. Na humanidade apostara, entorpecido de esperança. Mas e aquela nossa infâmia, de onde viria? Aquele torpe besunte de imortalidade. A nossa dificuldade de assumir o lugar doutrem. A incompreensão. O egoísmo. A vaidade. A nossa repugnância. A negação da simplicidade.

Houvera-se-lhe também tempo de comoção. E houvera sempre uma mocinha; cândida e decerto módica em quase tudo, dos trejeitos ao intelecto, a despeito do seu escamoteado caos. Se de fato tivera rasgos de vida, nela se teriam encerrado. O nevoeiro da noite invernal que se lhe desabava era o corolário de tal ausência. "Ei-la no desfoque das luzes". No desdém à chuva, às gentes, ao futuro. E fazia-o questionar-se: "seria o compromisso com a consciência realmente superior à felicidade?". Sempre o sim impingia-se-lhe. Mas renovava a dúvida: não seria o sim antes uma manifestação de esperança deveras difusa e quiça pusilânime? - não o acometiam afirmações convictas que mitigassem a fleuma. Sufocava-se pela própria dialética, intencionalmente gongórica para se velar. Definhavam-no os silogismos. E de dilemas existencialistas já transbordara. Mas aquele era-lhe copioso tormento. "Valeria a pena importar-se?" - sim e não esfaqueavam-no alternadamente. Dava-se, pávido, à indiferença, ainda que probo, sob vigília dos conjurados escrúpulos. E percebia-se, sempre, amaldiçoado.

O sentido da sua vida nestas translações nada seria senão o martírio dos seres aprisionados no espinhoso limbo gnosiológico, já condenados à consciência.

Sobre a ignorância

O grande dilema existencialista dos pensadores:

O compromisso com a consciência seria realmente superior à felicidade, ao bem-estar pessoal?

Sim. 

Mas este sim não será, por sua vez, mais uma manifestação de esperança e responsabilidade do que uma afirmação convicta?

Será mesmo genuína a felicidade na celebração da ignorância, a despeito de ser uma "bênção"?