Tuesday, May 9, 2017

O papel do indivíduo na destilaria de ódio


Este texto é o meu humilde contributo contra o reino da brutalidade que toma conta do Brasil e a esta altura, entre outras consequências, dá 15% de intenções de voto a Bolsonaro segundo as últimas pesquisas relativas às eleições presidenciais de 2018. Vivendo distante, é o que posso oferecer contra o pensamento binário, contra a intolerância e o ódio, contra a polarização irracional e contra a celebração da ignorância. Este texto não faz apologia a nenhuma ideologia e a nenhum partido e é apenas a crônica de um percurso em busca da afirmação racional. Penso que apoiar figuras como o possível candidato presidencial citado (e o pacote de brutalidade que inclui homofobia, sexismo, racismo, vingacionismo e violência institucional, autoritarismo, apologia à tirania e negação à filosofia política) não é um posicionamento dentro do espectro político-partidário, mas uma carência intelectual e/ou um desvio psicossociológico.

O apoio a elementos anti-humanistas e anti-democráticos é o resultado do irracionalismo com que as massas têm sido induzidas a se posicionar perante o confuso cenário político brasileiro pelo decisivo papel parcial dos meios de comunicação e por forças partidários irresponsáveis e comprometidas com vícios de poder que instauraram o caos e fizeram tremer as instituições e os próprios pressupostos iluministas. Tento resistir como posso ao festival de embrutecimento e essa resistência requer uma força interior descomunal, porque a tendência é a barbárie e geralmente encontro-me sozinho e em desvantagem face à avalanche de comunicação contaminada. Acredito, porém, que nós, os indivíduos participativos politicamente ou não, somos os principais responsáveis pela situação em que o debate tem sido desenvolvido e, por conseguinte, pela própria situação da política brasileira. Precisamos urgentemente de discernimento, razoabilidade, tolerância, capacidade crítica, sensibilidade, compreensão, equilíbrio e boa vontade. Todos nós. Da direita à esquerda, do ativista ao cidadão despolitizado, do anônimo à figura pública, do jornalista ao leitor e telespectador. Cada um de nós decide que tipo de contributo tem a oferecer. E este contributo é em grande medida um definidor de caráter.

Começarei contando um pouco da trajetória recente que segundo o meu entendimento construiu o pensamento que tenho a oferecer como, penso eu, contributo positivo.

Em 2007, ali à primeira esquina do passado, eu tinha outra vida. Todas as grandes transformações que me trariam a esta “estação” estavam ainda tendo o impulso seminal. A minha vivência dentro da cidade do Porto se limitava a uns poucos locais bem específicos que eram separados por profundas lacunas. Eu era um residente que desconhecia totalmente a cidade. No segundo mês daquele ano, fiz a minha primeira grande viagem sozinho. Cheguei a Praga depois de dois dias espremido num ônibus em virtude da minha já célebre fobia a aviões. Foram três meses na cidade responsável por um novo rumo nesta turbulenta existência. O motivo? Uma checa. Ai, as checas… Eu tinha uma atração inexplicável por elas - hoje sou muito mais eclético. Ao regressar da primeira de muitas visitas à mais bela das cidades, decidi pegar os únicos cinquenta euros de que dispunha e usá-los para pagar a inscrição a um exame de aptidões através do qual eu poderia ser admitido no ensino superior sem nunca ter acabado o secundário. Foi uma confusão enorme, mas o final foi feliz. Em Setembro eu era discente da Licenciatura em Geografia na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Isso pouco ou nada me significava à época. Hoje, sei que foi outra das grandes transformações que me acometeram. Antes, o “meu” Grêmio havia sido engolido na final da Libertadores pelo Boca Juniors e a tal checa viera a Portugal para fazermos uma viagem de norte a sul, ao estilo Reconquista, até ancorarmos no Algarve durante duas semanas ao expoente do delírio hedonista e praieiro (por não terem litoral, os checos alimentam um carinho um pouco especial demais pelo mar, digamos). Esse foi um período de grandes descobertas. Minha mente desabrochou substancialmente e o pendor cosmopolitano e humanista se impunha definitivamente.

As primeiras semanas como acadêmico foram horríveis. Eu não gostava do ambiente, das obrigações e das pessoas. Mas fazia um esforço tremendo para gostar. Foi mesmo uma meta traçada: ser volátil, às vezes ser um bom ator, ser tolerante e tentar relacionar-me da forma mais diversa possível para sair do gueto cultural no qual me havia fechado desde que descobrira o submundo do Punk. Outra coisa que aflorava no horizonte da minha mente era o pensamento lógico e aquilo que Carl Sagan chamou de espiritualidade científica. A verdade é que todas as ideologias estruturadas a partir da emoção são fundamentalmente dogmáticas. Todas! E o meu anarquismo não fugia à regra. Ademais, fechar-se em gueto é perigoso e condicionante. Quando todas as pessoas à nossa volta aplaudem aquilo que dizemos, começamos a acreditar seriamente que temos razão. E em ambientes ideologicamente homogêneos a razão se transforma em dogma. Acreditamos que estamos certos em absolutamente tudo. Passamos a explicar o mundo pela ótica da nossa ideologia e estamos deveras alienados para perceber que ela é uma nuance de um mundo complexo que nos obriga a um pensamento muito bem vacinado contra as contaminações dogmáticas dos ideais e sobretudo da cegueira que os guetos desenvolvem.

Não que devamos descartar as ideias. Eu continuo sendo um idealista. José Saramago dizia ser um comunista hormonal para explicar que era um idealista naturalmente por mais que tentasse não sê-lo. Não sei se o mesmo acontece comigo, mas ainda acredito que o anarquismo é a melhor ideologia (e metodologia) de organização social concebida pela mente humana. Por ter origem antrópica, ela tem suas falhas, suas incoerências. Como todas as outras. Absolutamente todas! O mundo é constantemente edificado a partir de ideais amalgamados. Toda a história humana foi construída assim. São os ideais que esculpem os trejeitos desse bloco bruto que somos inicialmente. Há pessoas com mais curvas esbeltas e há outras quadradonas. Mas não é desolador que toda a nossa história tenha sido construída bem mais pelas ideologias e superstições do que pelo pensamento lógico e pela ciência?

Não me entendam mal. Não defendo a supressão das emoções. Este que lhes escreve é um romântico inveterado cujos maiores atrasos de vida foram causados por excesso de sentimentalismo e da emotividade mais obstinada. Também não defendo uma sociedade controlada pela tecnocracia em sua atual acepção corrente. Já a acepção mais, digamos, coerente, ou a que ao meu ver melhor se adequa, se aproxima muito daquilo que concebo como uma sociedade baseada na racionalidade. Não defendo o tecnicismo burocrático de salão, insensível às aspirações populares. Defendo a técnica a serviço das comunidades em todo o seu leque de necessidades. Subsequentemente, isto significa a democratização da ciência, para que ela seja libertada dos salões elitistas e permita às camadas populares tomar decisões com base no conhecimento.

Mas regressando ao ano de 2007, após ter começado o curso acadêmico num período de grandes mudanças, encontrei num lugar inesperado a porta que se abria para o caminho de rigor e racionalidade no debate político. Posso dizer que a primazia da verdadeira filosofia política se iniciava naquele instante, ainda que sem sofreguidão, numa crescente que ao longo dos anos foi adaptando um anarquismo que alguns até podem chamar sincretista, não tão difuso mas expandido, abrangente e sobretudo trabalhado dentro da realidade do mundo, ao pensamento alinhado com o método científico, com a busca pelo equilíbrio emocional, pela razão e pela honestidade. Passei a perceber que nenhuma ideologia pode ser sobreposta à verdade por mais sublime que a consideramos ser.

O tal lugar inesperado não fazia parte do ambiente acadêmico e escondia-se entre as ondas tempestuosas da navegação virtual. Naquele ano, a rede social Orkut estava ainda no auge. Sua popularidade no Brasil a transformava em extensão dos meios de comunicação convencionais. A grande maioria dos conteúdos era desprezível e mesmo as “comunidades” que se propunham a debater política ou se fechavam em guetos ideológicos masturbatórios ou se transformavam em arenas de incessantes agressões ególatras em que as armas de combate eram clichês, mentiras e pensamento binário. O fenômeno de ódio político que hoje reina no Brasil já navegava a pleno vapor naquele momento seminal das redes sociais. Vasculhei todo o Orkut em busca de espaços de debate nos quais eu pudesse aprimorar a minha argumentação e o meu próprio pensamento. Estava disposto a debater quase tudo, até futebol e música, mas os grupos dedicados a esses temas eram formados apenas por bandos de adultos acriançados e verdadeiros analfabetos funcionais. Não havia nível de pensamento lógico e a escassez da semiótica era dramática. Até que um dia, em meio a dezenas de grupos, chamou-me a atenção um intitulado Geopolítica. O mundo vinha na esteira da invasão do Iraque e toda a nova configuração da ordem mundial se organizava sobre a arena global. Parecia-me que o nome do grupo designava um tema deveras propício para debates mais amplos, e, como estudante de Geografia que me havia tornado, o meu interesse por recursos naturais e relações internacionais era crescente, embora eu ainda quisesse debater ideais.

Durante anos limitei-me ao gueto ideológico e estava na hora de procurar um desafio intelectualmente mais rico: eu queria confrontar antagonismos para ser desafiado a evoluir a partir do estudo. Era chegada a altura das afirmações fundamentadas em detrimento dos achismos costumeiros. O grande mérito da comunidade Geopolítica era estabelecer o ambiente para o debate consubstanciado. Não eram todos que colaboravam, evidentemente. Das centenas de membros, apenas participava ativamente um pequeno punhado que não excedia as vinte pessoas. Como havia uma clara polarização ideológica, a moderação da comunidade precisava atuar, mas logo todos percebemos que ou desenvolvíamos debates construtivos com base na tolerância e na seriedade, ou estávamos apenas perdendo tempo em arroubos de baixaria egocêntrica. Foi com essa mentalidade que empreendemos um pequeno projeto político-filosófico que rendeu bons frutos a quem soube cultivá-lo. No que me toca, posso garantir que com ele aprendi na prática o valor da diversidade e do antagonismo como instrumentos de superação intelectual. Também aprendi o valor da honestidade, embora não tenha sido um aprendizado imediato. Todos precisávamos dar embasamento às opiniões, mas chegou uma altura em que era evidente a existência de “artigos” e “estudos” para todos os gostos e bastava apresentar aqueles que corroboravam o que defendíamos, como se já estivéssemos certos à priori e eles só servissem caso confirmassem o que dizíamos (ainda hoje, se alguém quiser acreditar, por exemplo, no terraplanismo, irá encontrar na Internet muito material defendendo essa baboseira - embora apenas no submundo das teorias conspiracionistas e sem qualquer validação de revisão de pares). Essa descoberta foi importantíssima inclusive para o meu percurso acadêmico, porque incutiu nele o espírito crítico e a ideia de que é preciso confrontar visões antagônicas para que se excluam mutuamente até que delas restem os resíduos validados. Isto é, aliás, espírito científico e a sua aplicação ao debate político foi o grande salto intelectual da minha vida por mais que a atuação no campo das ideias sempre implique alguma dose de emotividade.

A minha participação efetiva na Geopolítica duraria um pouco mais de dois anos, quase sempre com as mesmas pessoas. Certa feita, até Rodrigo Constantino cairia por lá com o paraquedas do seu ego. Foram poucos dias até a sua total exclusão do grupo motivada por agressões verbais contra a minha pessoa e contra membros de esquerda. Nem os membros de direita gostavam dele. De fato, seu habitual estilo raivoso e macartista contaminava com intolerância um espaço que se pautava pela camaradagem. Pouco tempo depois, o reaça mimado pseudo-libertário ganharia notoriedade na grande imprensa e alguns dos livros que utilizava para embasar suas opiniões, que eram os seus próprios (sim, ele se auto-citava!), se tornariam best-sellers alavancados por um cenário político rasteiro propício ao binarismo e ao ódio. Mas antes do ar fétido da sua (des)graça, já se tinham formado no grupo certas amizades que desafiavam a própria natureza das relações virtuais. Havia chegado uma altura em que todos tínhamos noção de que dependíamos uns dos outros para continuar empreendendo debates equilibrados e producentes e até criávamos “tópicos” exclusivamente para incrementar as convergências de indivíduos ideologicamente divergentes. Imaginem que um socialista e um liberal fossem politicamente incompatíveis mas se davam conta de que torciam para o mesmo clube ou gostavam das mesmas bandas. Coisas assim, para descomprimir.

A minha primeira discussão na Geopolítica, já no primeiro dia, teve como opositor (e alvo de pura raiva) um liberal chamado Diego, estudante de Economia. Inicialmente, eu o detestava. Era cínico, irônico e certeiro. Desdenhava da esquerda e dos socialistas de uma forma particularmente irritante. Mas ele passaria a ser o membro mais próximo de mim após a poeira baixar e a comunidade tentar se harmonizar. Havia outros, como a Je, o Eduardo e o Gilberto Mucio, que eram, respectivamente, uma carioca esquerdista e cristã, um socialista (talvez mais social-democrata) residente nos EUA e um rabugento leninista nordestino residente em Moscou. Como todos eram ideologicamente mais próximos a mim, não havia aquele sal a mais para temperar a relação. Concordávamos em quase tudo e estávamos sempre do mesmo lado nos grandes embates da comunidade, portanto não havia necessidade de trocar provocações relevantes entre nós.

Com Diego era diferente, porque ele me desafiava, me obrigava a estudar e a me superar. Creio que de alguma forma eu também lhe fazia o mesmo. E assim nos tornamos amigos. Quando o Orkut perdeu força, continuamos nossos duelos no Facebook, com a diferença de o fazermos em privado e não dentro de grupos. Posso dizer com toda a segurança que a compilação das nossas conversas sobre sistemas econômicos, conjunturas partidárias, geopolítica, movimentos sociais e direitos humanos daria pelo menos um grande calhamaço. De fato, um dos livros que já tenho finalizado e que ainda pretendo publicar foi em boa parte inspirado em reflexões surgidas a partir do desenvolvimento dos nossos debates. Decerto ainda sentimos certa ojeriza pelas ideias um do outro, mas também já admitimos derrotas. Aprendi com ele e acho que ele aprendeu comigo. Já lhe dei razão - a muito custo, claro, mas reconhecendo o valor da honestidade intelectual - e já tive razão reconhecida por ele. Percebemos que somos duas pessoas bem intencionadas com visões antagônicas de como concretizar essas boas intenções. Ele continua sendo liberal e continua desconfiando de tudo o que venha da esquerda. Hoje, é economista no Ministério da Fazenda. Eu continuo sendo socialista libertário e continuo desconfiando de tudo o que venha da direita e de grande parte da esquerda, embora esteja alinhado a ela pontualmente. Continuo com minha vida errante e tresloucada, sem lar, sem estabilidade. Hippie para uns, vagabundo para outros. O certo é que temos estilos de vida totalmente incompatíveis, mas nosso exemplo é uma prova de que é possível debater política sem ódio e é possível a convivência antagônica. Também mostramos que a diferença, utilizada sabiamente por quem tem um verdadeiro interesse na constante auto-superação, é uma dádiva filosófica. Não conheço Diego pessoalmente, mas temos uma amizade à distância há dez anos que há tempos transborda as conversas políticas e também se envereda por questões da nossa vida. Às vezes, quando perdemos motivação ou sentimos frustração pelo rumo da política, ficamos semanas sem nos comunicar, mas logo voltamos a falar nem que seja sobre acontecimentos do nosso foro pessoal alheios às ideologias. É bem provável que nos conheçamos pessoalmente quando ele finalmente visitar a Europa. E quando isso acontecer beberemos cerveja em um bar ou iremos a um concerto de Rock. E vamos trocar nossas habituais farpas políticas em meio a goles e brindes, porque somos pessoas razoáveis e exploramos as nossas convergências. Mesmo ideologicamente, não discordamos de tudo a 100% como seria de se esperar da relação entre um liberal de vida mais pacata e um socialista “porra-louca”. Em algum momento desse meu percurso recente eu desenvolvi a tolerância plena e aprendi a conviver com todo o tipo de pessoas, quase sempre trocando conhecimentos e vivências. Ser fascinado pela diferença é talvez a grande virtude que reconheço em mim próprio e entristece-me observar que a grande maioria das pessoas sequer se dá ao trabalho de buscar a mera compreensão, que dirá tal fascínio.

Recentemente, limitei a minha participação em debates em virtude do baixo nível dos mesmos. É difícil compreender como as pessoas continuam satisfeitas com simplismos e clichês em meio a tanta informação acessível. A preguiça intelectual é uma das causas da pobreza argumentativa e da pequenez espiritual, mas o ódio fomentado pela desinformação dos grandes meios de comunicação também se destila nesses ambientes de intolerância e polaridade. Perante a destilaria de ódio em que se tornou essa representação da realidade chamada Internet - e que muitas vezes a transborda e inunda a realidade objetiva -, a nossa decência está na contracorrente, na subversão dessa dinâmica alienante. Estamos falando de um veículo de comunicação que nos dá certo protagonismo e em que somos ativos comunicadores. O caráter do nosso contributo nessa aldeia global virtual diz muito daquilo que somos e daquilo que queremos para o nosso mundo real. Não há virtude em combater ódio com ódio, violência com violência e mentira com mentira. Ver no opositor uma figura humana é um princípio de tolerância básico que hoje parece miragem. Mas a plenitude da racionalidade e do humanismo está no exercício da compreensão e da tolerância. Ele pode ser árduo, mas é esse esforço que elucida a nobreza da nossa intencionalidade.

A minha alusão a Bolsonaro no começo do texto não foi um mero posicionamento político. Não o considero um representante genuíno de espectros político-partidários e muito menos de ideologias mais ou menos formais. Bolsonaro é um atalho de todos os que querem evitar o percurso do raciocínio e da filosofia política. É por isso que a grande maioria dos seus seguidores é gente despolitizada. Ou que pelo menos foi despolitizada até há uns dias, e que agora difunde verdadeiros discursos de ódio com afinco. Bolsonaro é um canalizador do ódio, um negociador do medo. É a caricatura do atual cenário político brasileiro exatamente por representar a negação à política e a celebração da ignorância como formas de virtude. Geralmente, seus apoiantes nada têm a dizer de substância argumentativa. Seus discursos são rasos e o máximo que conseguem fazem em meio a tanto clichê é uma grotesca simplificação da realidade. E essa simplificação reforça a polarização que por sua vez incrementa o ódio. A própria direita politizada o despreza. Diego o despreza. E é preocupante que o espaço da direita brasileira esteja sendo ocupada pelo extremismo anti-humanista, porque a política é a arte do diálogo e essa gente já mostrou que não está interessada nisso. Eles representam a brutalidade objetiva contra a racionalidade e o equilíbrio. Não é à toa que agora surjam figuras politicamente ignorantes, como os futebolistas Felipe Melo e Jadson, declarando-lhe apoio e arrastando assim uma multidão de preguiçosos que prefere seguir o atalho do imediatismo irracional, evitando o “fardo” do exercício intelectual lógico e honesto baseado no estudo, na leitura, no reforço do discernimento e da observação crítica.

É com moderado orgulho que celebro os dez anos de boa amizade com Diego, o liberal fanfarrão e irritante, porque estou convicto de que não fizemos mais do que a nossa obrigação: se exigimos espaço em algum tipo de debate, pensar com coerência e razoabilidade é o mínimo a que estamos obrigados. Foram anos em que quanto eu mais aprendia, mais me ia apercebendo do quanto ainda não sei. E isso se deu em grande parte graças à abertura da minha mentalidade para compreender as ideias diferentes e inclusive reconhecer quando nelas está a razão. Seria tão melhor para todos nós se explorássemos as ideias que constroem o mundo com a mesma humildade de um astrônomo cosmologicamente insignificante que explora o vasto universo sedento por conhecimento e consciente da sua ignorância.