Eu estava sentado ao léu bebendo um copaço de Cuba Libre quando ela apareceu.
Senti o problema e tentei evitá-lo.
Não voltei a olhá-la e não forcei conversa.
Até que, já numa discoteca abjeta, ela provocou.
Chegara àquela discoteca sem saber por quê.
Talvez por ela, inconscientemente.
Quando ela pôs-se ao meu lado e encarou-me sem motivo aparente por alguns segundos, engoli seco.
Disse-lhe algumas palavras sem sentido, esmagado pela pressão.
Em seguida, ela sugeriu outro clube.
Outro clube igualmente abjeto.
Não apenas aceitei, como esforcei-me para convencer ao resto do grupo.
Lá, voltei a convencê-los a pagar os cinco euros da entrada, algo que eu nunca teria feito caso a situação não fosse tão apelativa, digamos.
Foram algumas horas sufocantes entre dança e investidas desesperadas naquele ambiente escuro com música repugnante.
Fumamos um baseado enquanto ela me contava sua triste história.
Prometi-lhe um poema enquanto sofria para não lhe roubar um beijo.
Seu suposto namorado lá estava, totalmente perdido.
Aquela relação é uma evidente fraude e ambos o sabem.
A certa altura, declarei-me sem reservas.
Ela disse-me ser demasiado perigosa para mim.
Disse-lhe para eu ter cuidado.
"Foda-se o cuidado! Meu pulso pulsa por este perigo."
Então percebi que estavam todos apaixonados por ela.
Todos!
Rapazes, moças...
Era ridículo.
Deixei-a em paz.
Não queria compactuar com a intromissão e com a inconveniência.
Era seu direito estar ali em paz.
Passei a ignorá-la e ela, então, passou a procurar-me.
Acariciava-me as costas quando eu passava por ela sem olhar, ali naquela pista de dança infestada de abutres.
Recuso-me a ser mais um.
No dia seguinte acordei com 39 graus de febre.
Dores por todo o corpo.
Uma gripe tão simbólica.
Febre de amor, diriam poetas.
E eu sou poeta.
Escrever-lhe-ei o prometido poema.
Homenagem merecida a quem me comove.
Mas definitiva.
Espero não voltar a vê-la.
Mas sei que voltarei.
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