tag:blogger.com,1999:blog-54818693262306736662024-02-18T18:42:38.951-08:00Vida LíquidaAmostras do estado físico da matériaJuliano Mattoshttp://www.blogger.com/profile/11955728092822844407noreply@blogger.comBlogger32125tag:blogger.com,1999:blog-5481869326230673666.post-73844481432414742112018-02-05T00:07:00.000-08:002019-02-06T12:55:56.869-08:00Sobre o sectarismo do ativismo social: resposta ao texto "Sobre o racismo do movimento vegano"<style type="text/css">p { margin-bottom: 0.25cm; line-height: 120%; }a:link { }</style>
<br />
<div style="line-height: 138%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Só para me localizar: sou um homem branco e ruivo, com sete </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">dreadlocks</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, nascido em São Paulo e crescido na periferia de Aracaju, filho de uma portuguesa com um paulistano criado em Salvador. Portanto, um nordestino de coração e vivência, que sentiu o peso do preconceito quando, na adolescência, regressou ao seu </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">berço</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> com sotaque da terra dourada que o acolhera. Já são dezessete anos de vegetarianismo/veganismo e não tenho nenhum problema com esses termos. Se são uma invenção do </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Ocidente</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, creio que os ocidentais deverão celebrá-lo com o orgulho de terem desenvolvido um ideal sublime, ainda que imperfeito como todos os ideais humanos. Particularmente, orgulho-me de ser vegano. Não por boçalidade, mas com a leveza interior de quem assimilou o compromisso de colaborar com uma relação mais justa e harmoniosa entre os humanos e os outros animais.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<b id="docs-internal-guid-5c9aa6af-7fff-56d7-0acf-4f05a7319552" style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A primeira vez que li o texto intitulado </span><a href="https://pensamentosmulheristas.wordpress.com/2016/01/03/sobre-o-racismo-do-movimento-vegano/" style="text-decoration: none;"><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration-skip-ink: none; text-decoration: underline; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Sobre o racismo do movimento vegano</span></a><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> (clique nele para o ler - é fundamental que o faça antes de prosseguir), publicado no dia 03/01/2016 por Gilza Marques (</span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">aka</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> Anin Urasse) no blog </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Pensamentos Mulheristas</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, não tive grande reação. Talvez por desatenção, talvez por uma questão de estado de espírito, sei lá. O certo é que o deixei passar, por assim dizer. Isso foi, creio, há uns dois anos, logo após a sua publicação. Porém, a minha reação foi bem diferente quando ele voltou a me cruzar o caminho há alguns meses ao aparecer no meu </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">feed</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> do Facebook, compartilhado por um amigo que o elogiava. Reli-o e, dessa vez, fui invadido por um avassalador sentimento de indignação. Como aquele texto pode ser difundido na Internet pelas mais bem intencionadas pessoas sem ser colocado à prova e sem ser analisado criticamente? Esta questão latejou-se-me até eu assumir o desafio: era evidente que não sossegaria enquanto não escrevesse uma resposta. Confesso ter feito algumas ponderações. Cheguei a medir bem o meu vocabulário para não dar brechas a acusações estapafúrdias. Refleti, principalmente, sobre até que ponto valeria a pena fazê-lo, já que tudo o que eu poderia esperar era, no melhor dos cenários, muita treta, conflito e desavença. E ao decidir comprar a briga - não que eu assim o encare, mas é óbvio que o será para muitos - convenci-me imediatamente de que não podia tergiversar: já que era para fazê-lo, que fosse um texto honesto, direto e claro, baseado em substância, rigor e objetividade. Tinha de ser, especialmente, a desconstrução não só de uma postura agressiva, mas de todo um modo sectário de estabelecer problemáticas. Ao esboçar mentalmente esta carta, não pude deixar de perceber que as minhas críticas e preocupações relativas ao texto de Gilza se estendem amplamente a todos os movimentos sociais, incluindo alguns dos quais de alguma forma faço parte - como o próprio veganismo -, pelo que elaborar esta resposta não foi fácil e muito menos agradável; foi necessário.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;">A problemática em si é relevante, porque desenvolve uma abordagem que não pode deixar lacuna no debate sobre a questão vegana. E por que não? Porque os vários ambientes sociais tornam o veganismo diverso tanto em sua gênese quanto na possibilidade da sua incorporação. Todavia, já no texto entre parêntesis, ainda antes de Gilza começar de fato a problematização, percebi, para meu desânimo, um teor sectário absolutamente lamentável e inaceitável. Esse teor é o que me motiva a escrever uma resposta apesar de eu estar bem ciente da reação que ela poderá despoletar caso se espalhe com as ondas virtuais da Internet. Contudo, escrevo-a porque carrego comigo duas coisas: 1) não tenho nada a perder, 2) antagonizar em certa medida, como elemento de polemização filosófica, é uma postura que enriquece as ideias e desenvolve os argumentos. Então aqui vou eu, sem querer comprar briga mas sabendo que é quase impossível evitá-la.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;">Da autora pouco sei. Limitei minha pesquisa para evitar enviesar-me a partir de um antagonismo de qualquer ordem em relação a ela.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;">Inicio indo direto ao assunto: o movimento vegano tem origem ocidental e elitista? Sim, tem. Outros movimentos com a mesma origem? Socialismo (incluindo grande parte do anarquismo de que sou simpatizante), feminismo, pautas LGBTs…</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;">Os branquelos europeus são geneticamente mais avançados e tolerantes que os outros povos? Não. Apenas puderam usufruir de ambientes sociais com mais abertura ao desenvolvimento das ideias (por uma série de fatores que podem ser tema de outro debate). Sim, o conforto materialista da Europa permitiu à sua população o ócio necessário. Esse conforto estará ligado à exploração dos povos colonizados? Possivelmente. Ou, até, evidentemente. Há calhamaços que documentam a rapina imperialista.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">O veganismo poderia ter surgido na África se as conjunturas globais de relação entre povos tivessem ocorrido de outra forma? Provavelmente. Mas o importante é que ele tenha surgido em algum lugar e se por um lado podemos fazer uma ligação histórica deveras apelativa para o associar ao colonialismo, por outro temos de compreender que TUDO o que é cultura de todos os povos do globo interconectados está amalgamada, mesclada e/ou aculturada (utilizarei o termo a partir da acepção positiva de </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">interação cultural</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, admitindo, porém, que sua utilização tem sido predominantemente negativa em referência a elementos de </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">imposição cultural</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, pelo que pode ser discutida para este tema a sua substituição pelo termo </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">transculturação</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">). A autora do texto afirma que os escravos fizeram a feijoada com restos de carne de boi e porco. Ora, a origem da feijoada é europeia e o feijão preto era comido originalmente pelos ameríndios. Portanto, a feijoada à brasileira, atribuída aos escravos, já é um elemento de aculturação, de mixórdia cultural. É altamente provável que todos os pratos existentes no Brasil atribuídos à cultura africana sejam uma versão modificada - e enriquecida (não no sentido valorativo; na diversidade mesmo) - com a agregação de elementos europeus e indígenas.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Conforme se avança pelo texto, o teor agressivo só aumenta. Já no primeiro parágrafo a autora diz que a melhor defesa é o ataque e é exatamente a isso que se presta, cheia de convicção de que está corretíssima, como se seu sectarismo devesse ser automaticamente aceite. Ora, talvez como válvula de escape seja um eficaz exercício para descomprimir. Como forma de diálogo é um fracasso que atinge o patético. Não se estabelece debate com agressividade desmedida simplesmente porque sim. Eu não sei quem acusa o povo pobre (quase sempre negros) de ser </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">nazista</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> por consumir carne. Como vegano, quero distância de quem se utiliza de tão rasteiro “</span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">argumento”</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">. O que eu já vi fazerem é uma comparação dos métodos de confinamento, tortura e produção massiva de carne, ovos e leite por parte da indústria com os métodos dos campos de concentração. Alguns dirão tratar-se de uma analogia de mau gosto, outros poderão considerá-la assertiva. Eu diria que, dependendo da abordagem e do interlocutor, bem como do objetivo que se pretende, ela pode ser válida. Exemplo: para chocar e chamar atenção a uma realidade perante a qual a grande maioria prefere se empacotar de hipocrisia e fechar os olhos. Se o objetivo for introduzir pedagogicamente alguém ao veganismo, haverá formas menos apelativas e dramáticas e mais razoáveis e construtivas.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Porém, como vegano, também quero distância de pessoas sectárias e autoritárias. A autora utiliza termos como </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">branquitude</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> (empregue claramente de forma pejorativa) e </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">falta de melanina</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">. Se o objetivo é comprar briga, gerar desavenças e agraciar conservadores e a direita inimiga de movimentos sociais com munição, parabéns! O sucesso terá sido estrondoso. E mais: a afirmação da africanidade não implica necessariamente a ofensa primária aos europeus ou a quem quer que seja. Apelos racialistas podem ser uma postura racista, sim. Isto não é um branco reclamando de racismo reverso, já que tal hipótese considero ridícula, lunática e delirante, fruto da ignorância e da insensibilidade social. Historicamente, os povos de origem africana sempre foram postos em desvantagem e o Brasil tem a obrigação de recompensar os séculos de injustiças que infelizmente ainda se prolongam. Todavia, a postura de um indivíduo pode denotar racismo, sim. E a autora do texto, ao enfatizar elementos étnicos e genéticos para diminuir e ridicularizar os brancos especificamente (como se todos fossem já de nascença culpados pelo sofrimento causado aos negros ao longo da história, merecendo, por isso, adjetivações ásperas e constante hostilidade), está sendo, sim, racista. E o é com a petulância de quem acha que se impõe pela infalibilidade automática. A autora deve considerar-se no direito de ofender enquanto todos os demais só têm o dever da aceitação acrítica para não ganharem de imediato os rótulos mais nefastos (e descabidos) que ela decidir distribuir a seu bel-prazer.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;">Algumas pessoas que comentaram em seu blog não conseguem esconder certo medo de serem elas próprias os alvos diretos das palavras ferozes de Gilza, e, em função disso, transmitem uma clara condescendência e a aceitação mais acrítica de um texto que deveria ser compreendido como sendo, no mínimo, contraproducente. Em alguns casos até é perceptível que estão a ponto de pedir desculpas pela própria existência.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A cultura africana é belíssima e extremamente rica. Particularmente, meu interesse por ela é crescente e meu entusiasmo, especialmente em relação à música, atinge picos de puro deleite. E não há nenhum “mas” condicionando esta afirmação. A cultura africana é maravilhosa e ponto. Também o é a cultura latino-americana, a cultura ameríndia, a dos povos asiáticos, a dos nativos da Oceania e a aculturada. E também é belíssima a cultura europeia, tão diversa, tão multiplicada e amalgamada. A autora diz, lamentavelmente, que a Europa é </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">uma grande vergonha</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">. Já terá ela estado na Europa? Onde, exatamente, sendo que cinco dezenas de países a constituem politicamente? O que importa aqui dizer é que não é preciso humilhar e ridicularizar uma cultura para afirmar outra. A africanidade será sempre brilhante independentemente do juízo apressado e temerário que fazemos de outros povos. O próprio veganismo não pode ser encarado como um bloco monolítico. Há vários veganismos. Há inúmeros ambientes em que eles se desenvolvem e em muitos casos assumem rumos bem distintos. Conheci, nas minhas andanças pela Europa, o veganismo elitista, o místico, o tribal, o veganismo político dos movimentos autônomos, etc. Este último, germinado por certas subculturas musicais, atua em ambientes populares bem longe da elite. Seus adeptos compreendem bem a necessidade de não se desenvolver um discurso que não contemple as dificuldades dos povos carenciados. São pessoas que sabem que não dá para falar sobre veganismo sem contextualização com quem sequer consegue ter uma alimentação equilibrada e decente. Porque também há pobres na Europa, e por mais que não possamos comparar os focos europeus de pobreza com os brasileiros ou africanos, localmente eles são uma realidade dramática. Na cidade em que tenho vivido, o Porto, costumava haver um grupo de veganos que uma vez por semana distribuía comida aos moradores de rua da cidade. E não o faziam em nome de uma caridade egocêntrica. Faziam-no por uma preocupação genuína, totalmente às escuras, longe de holofotes, sem que quase ninguém soubesse, sem aplausos ou </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">posts</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> em redes sociais. Portanto, dizer que o veganismo é racista e elitista, sem considerar a sua diversidade, é injusto. Como é injusto desprezar toda a cultura europeia e reduzi-la a lixo ou a </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">vergonha</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;">Não há culturas infalíveis e a autora deveria ter a decência e a humildade de perceber e assimilar tal fato. A cultura africana não é infalível. Ela tem os seus muitos defeitos (lembrando que ela própria é, também, muito heterogênea). Como a europeia e a latino-americana ou a ameríndia. E antes que perguntem a que olhos elas são falíveis, eu respondo: aos olhos da sua própria gente em primeiríssimo lugar. Unanimidade cultural em territórios tão vastos e diversificados pode até existir (superficialmente) por imposição política, mas nunca por encaixe natural. E falíveis também são as ideologias e os movimentos sociais, incluindo os movimentos de afirmação da cultura africana. Prova disso é a existência de comportamentos descabidos, intolerantes e sectários como o da autora do texto.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;">O que Gilza afinal pretende com tanta agressividade? Dividir totalmente os povos? Impossibilitar uma relação equitativa e horizontal entre brancos e negros? Pretende estabelecer guetos étnicos perpétuos incomunicáveis com o exterior? Porque seu texto é de ruptura e não de aproximação. Quer problematizar o veganismo? Muito bem. Particularmente, acho fundamental fazê-lo. Mas com ponderação e cautela. Com racionalidade em vez de emoção. Evitar a convulsão imediatista da raiva incontida é uma virtude que deve ser buscada incessantemente. Tão mais inteligentes e inteligíveis somos quando conseguimos estabelecer diálogos pautados pela razoabilidade. Porque a alternativa é a barbárie, a discórdia, o rancor. Não me parece producente para nenhum movimento social que a relação com o exterior seja feita de forma explosiva e cacofônica.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Se a autora quer falar de história, que primeiramente a conheça antes de espalhar inverdades. Não apenas a história da feijoada foi distorcida, os próprios costumes pré-históricos dos povos também foram apresentados no mínimo sem qualquer rigor. É falso que os africanos tenham sido os agricultores e os europeus os caçadores. Isso é um desconhecimento bizarro de um tópico básico da história, e, para coroar o erro, Gilza ainda tenta argumentar, em novo tom jocoso, que a Europa era incapaz de cultivar em função do seu clima frio. Está tudo errado! A autora - ou quem estiver lendo este texto e acredita na desinformação que ela propaga - que faça uma pequena pesquisa sobre o neolítico. Debrucem-se sobre o Nilo e especialmente sobre o rio Tigres e Eufrates. Eu até ousaria a “presunção” de uma recomendação literária: </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Ismael: Um Romance Da Condição Humana</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, de Daniel Quinn. Uma obra que aborda a questão dos </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">pegadores</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> e </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">largadores</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> brilhantemente e de certa forma até dialogando com essa nossa problemática vegana.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Espero que a autora não negue a leitura alegando aversão à proveniência ocidental do autor. A ser esse o caso, restar-me-á dizer que a abordagem da obra destoa fortemente do ponto de vista eurocêntrico. Mantendo-se a negação, só terei a lamentar. Não há debate possível sem boa vontade e sem abertura de todos os lados que dele participam. E antes que a autora me venha acusar de ser </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">um macho branco querendo dar lição a uma mulher negra</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, reitero que foi ela quem incorreu no erro de escrever um texto agressivo e preconceituoso cheio de falácias e desinformações. É minha obrigação moral corrigir as suas falhas, sejam históricas, sejam argumentativas, e reitero também que não há absolutamente nada que me motive a afrontar qualquer movimento de minorias e de povos ou grupos sociais historicamente estigmatizados. Sempre estive e sempre estarei ao lado deles para colaborar da forma que me for possível. Como nordestino e como imigrante brasileiro na Europa, também faço parte de um grupo minoritário alvo de discriminação.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Entretanto, sempre chamarei a atenção para os exageros, erros, incoerências e sectarismos que se me apresentarem porventura. Todas as pessoas ou grupos que se apresentam a debates devem estar cientes de que são necessariamente passíveis de críticas. A autora que não espere silêncio de conivência, de cumplicidade ou de resignação perante a sua postura autoritária e sectária. Ela está equivocada, está prejudicando o seu próprio </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">movimento</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, e, como tocou em um assunto que me diz respeito, faz-se perfeitamente compreensível que uma resposta pública eu lhe remeta. Em vez de agressividade, por que não desenvolver uma problematização racional e até científica do tema?</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;">A autora volta a abusar da sua ignorância em matéria de história quando diz que os povos indianos são originários da África mais uma vez como forma de ridicularizar os europeus (aqui ela faz um malabarismo argumentativo grotesco como resposta à suposta alegação dos veganos europeus de que o seu veganismo tem origem oriental). Ora, cara Gilza, TODOS os povos de todos os continentes têm origem africana. Incluindo o branquelo europeu mais carente de melanina. Se você quer estabelecer uma ligação tão imediata entre o africano e o asiático, que o faça também entre o africano e o europeu com o devido e equivalente salto geracional. Não deixe o seu ódio primário à Europa lhe cegar a ponto de provocar esse atropelo de fatos históricos. Quer falar de colonialismo, imperialismo e genocídio? Falemos. A Europa tem uma dívida histórica gigantesca para ser quitada com africanos, asiáticos, ameríndios e aborígenas. Mas o que você pretende enquanto essa dívida não é paga ou não é amplamente reconhecida? Conflito étnico? Isolamento cultural? Quer ficar agredindo e insultando gratuitamente a qualquer pessoa que você julgue ser parte de uma estirpe pan-caucasiana?</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;">Sobre os primeiros povos da Índia, não sei se a autora se refere à civilização harapense, à qual a historiografia atribui os primeiros assentamentos. Sabe o que está na origem deles? Sim, a agricultura. Estamos falando do século XXXII a.C., bem antes, portanto, de ágoras e senados, que dirá de Tordesilhas ou rotas de especiarias! Percebe a defasagem temporal?</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Antes do surgimento da agricultura, há 10/12 mil anos pela Ásia e Oriente Médio, os povos africanos pré-diáspora eram também caçadores-coletores. Nem existia civilização europeia para ser comparada quanto às práticas de subsistência. A Europa assentada só seria possível graças às práticas sedentárias originadas pela agricultura, cuja origem, lembrem-se, antecede em muito a </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">civilização ocidental</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">. A não ser que a autora acredite que tenha existido povos europeus anteriores à diáspora africana inicial (o que seria uma afirmação surpreendente), e que a agricultura tenha origem africana já na gênese da humanidade, é incorreto estabelecer essa comparação entre </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">africanos agricultores</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> e </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">europeus caçadores</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">. Repito: os africanos também foram caçadores-coletores.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A autora também precisa ser mais específica quando se refere ao </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">mundo de gelo que cobria a Europa nesse período</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, porque o último máximo glacial ocorreu há vinte mil anos, ou seja, vários milhares de anos antes do surgimento da agricultura. Com o seu advento, a temperatura na Europa já permitia o povoamento. Aliás, de acordo com recentes estudos de linhagem, o repovoamento da Europa teria começado há dezenove mil anos, e sabe de onde teria vindo um grande contributo? Do Oriente Médio. Sim, povos não europeus ajudaram a repovoar a Europa muito antes da agricultura ter sido desenvolvida. Seguindo a preconceituosa linha de raciocínio de Gilza, eles teriam contribuído durante milênios para a </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">violência característica da cultura branca</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Ademais, não sei, sinceramente, o que a teoria dos dois berços de Cheikh Anta Diop pode adicionar a este debate. Decerto ele postula uma maior propensão europeia à violência, ao colonialismo e ao racismo, mas, embora seus estudos tenham tido relevância e profundidade, o fato é que hoje encontram pouco respaldo dentro da comunidade científica (e não se confunda tal fato com um posicionamento subjetivo meu, por favor). Se a autora quiser atribuir essa perda de importância a algo que escape à apreciação meramente objetiva da sua obra, que o faça com boa argumentação e não com afirmações simplistas e agressivas, lembrando que a proveniência de Cheikh Anta Diop não lhe confere razão automática, e que atribuir violência aos europeus como resultado da sua própria predisposição genética é um pavoroso absurdo anti-científico, além de ser um preconceito equivalente ao racismo. Os europeus utilizaram argumento semelhante durante muito tempo para justificar o seu domínio violento sobre outros povos, inclusive formalizando tais pressupostos academicamente com o tão conveniente fatalismo do </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">determinismo biológico</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> que esteve na base da </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Eugenia</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">. Assim justificaram o genocídio pela fome de milhões de indianos, por exemplo, e se convenceram de que o subdesenvolvimentismo estava fatalmente ligado aos povos dos trópicos pelo fator climático que, a grosso modo, fazia deles preguiçosos e inaptos à desenvoltura europeia. Não repitamos o erro, portanto. Espero que você não veja na reciprocidade vingativa uma virtude.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Em certo momento do seu texto, Gilza reserva mais um adjetivo aos brancos europeus: </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">demônios</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">. Também diz, um pouco antes, que a cultura de caça europeia (parte do erro histórico que ela estabelece anteriormente) tem </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">íntima relação com a violência característica da cultura branca</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">. Para ela, tudo o que há ou houve de nefasto no mundo teve única e exclusivamente origem branca, europeia. Por contraste, ela desenha a África como um paraíso, omitindo todo o histórico de conflitos étnicos e tribais datados de períodos pré-coloniais. Sim, a demarcação territorial forçada pelos colonialistas brancos durante o tempo em que invadiam e saqueavam a África agudizou as rivalidades pré-existentes, mas será que a autora realmente acredita que antes reinava paz sublime e duradoura? Uma especialista em África saberia que não foi bem assim.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;">A própria Gilza, sem perceber, faz alusão ao domínio e à exploração entre africanos ao se referir a Nitócris. As monarquias africanas também eram opressivas e socialmente injustas, fossem patriarcais ou matriarcais. Ademais, ela atropela novamente a história ao dizer que enquanto na África as mulheres reinavam, na Europa elas eram arrastadas pelos cabelos. Ora, nada pode ser mais caricato e mais falso do ponto de vista do rigor cronológico. Ela pega em diversos momentos distintos da história - alguns dos quais claramente caricaturados no imaginário popular - e os correlaciona como se tivessem sido perfeitamente paralelos em contemporaneidade. Só assim consegue passar essa imagem bisonhamente distorcida de que, enquanto na África reinava a paz e a justiça, os europeus ensaiavam entre si o que mais tarde aplicariam aos povos por eles colonizados.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;">Resta-me concluir que a autora, embora nos tente fazer acreditar que é conhecedora da história africana, ignora profundamente a cronologia dos fatos históricos - e ignora, inclusive, que a África é um continente enorme que não pode ser explicado por essa uniformidade tão reducionista. Ou então ela é maquiavelicamente desonesta e comete todos esses erros de propósito para forçar um entendimento corrupto de que o mal, a violência, a opressão e a tirania só existiam no seio dos povos europeus.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;">Infelizmente, a história africana pré-colonial não se desenvolveu sem desavenças e violência. Tal fato diminui a culpa do imperialismo europeu? De forma alguma. A barbárie perpetuada pelos colonizadores não tem justificativa ou atenuante plausível. O que eu exijo da autora é rigor, honestidade, razoabilidade, tolerância e autocrítica, elementos sem os quais não há debate. </span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Mas será que ela quer mesmo debate? Ou quer monólogo de aceitação automática e inquestionável? A construção da compreensão histórica é algo que temos de fazer necessariamente em conjunto, com a colaboração de todos os povos. Hoje, com distanciamento, temos ferramentas intelectuais e científicas para fazer releituras, reanálises, para reinterpretar e elaborar novas perspectivas que contemplem os anseios e os pontos de vista de todos os envolvidos e, sobretudo, dos povos que sempre foram silenciados. Isto não é um favor ou uma esmola que os brancos dão aos negros. Não! Isto é uma obrigação histórica e ao mesmo tempo uma obrigação filosófica, científica. Será que a autora respeita a ciência? Ou dirá que é apenas mais uma ferramenta de controle dos europeus? Faço esta pergunta porque comprovadamente a ciência tem sido a melhor forma de análise dos fenômenos naturais e humanos que criamos até então. Vai descartá-la? Se sim, preencherá sua lacuna com o quê? É preciso rigor. Não há validade em traçar qualquer paralelo entre as civilizações do Vale do Nilo e a ocidental se referindo a uma Europa em que essa mesma </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">civilização ocidental</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> ainda estava por surgir, e ainda sobre Nitócris, a historiografia não assegura que ela tenha de fato existido enquanto personagem histórica. Ainda que o tivesse, os escritos do próprio Heródoto relativamente a ela desconstroem o mito de um paraíso africano de mulheres emancipadas e povos vegetarianos ao relatar conspirações, assassinatos, perseguições, vinganças e um derradeiro gesto da suposta matriarca: o suicídio.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Não escrevo este texto para defender os brancos europeus e muito menos para exaltá-los. Não tenho qualquer motivo para fazê-lo e espero que a autora não seja desonesta a ponto de me associar a alguma conspiração que possa deambular em sua cabeça. Também não escrevo para persegui-lá. É bem provável que seja uma pessoa boa e decente que apenas tempera desmesuradamente os seus textos pela necessidade de desabafar. Não li atentamente outros textos do blog e portanto só posso criticá-la a partir do artigo que motivou a minha resposta. Não quero em momento algum cair em </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">ad hominem</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> e espero que ela também não caia na </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">falácia de lógica circular</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> arrebatando tudo o que eu digo com apelos impeditivos à argumentação consubstanciada. Ou seja, não diga que o meu propósito de te responder é </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">querer dar lição</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, não diga que eu não tenho direito de opinar por ser um </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">macho branco</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">. Reivindico aqui o meu direito de participar na construção da política e da concertação. Será muito fácil para você entrar na lógica circular e dizer simplesmente que estou sendo racista ou que estou cumprindo o meu papel tipicamente branco. Pois bem, estou, como já disse, ciente do risco. Ainda assim, desejo que o meu texto provoque reflexão honesta. Se não na autora, em outra pessoa que o ler.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Na canção </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Por quem os sinos dobram</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, Raul Seixas diz: </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">é sempre mais fácil achar que a culpa é do outro / evita o aperto de mão de um possível aliado / convence as paredes do quarto e dorme tranquilo / sabendo no fundo do peito que não era nada daquilo</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">. A despeito de Raulzito ter sido homem e branco, seu contributo para a aculturação foi brilhante ao misturar música afro-americana (blues e rock seminal), música nordestina (forró) e até elementos místicos orientais (hinduísmo) - cuja religiosidade eu particularmente rejeito, como rejeito qualquer outro misticismo, sem no entanto deixar de apreciar a sua beleza poética. Alguém ousará acusá-lo de apropriação cultural? Eu diria que ele celebrou a diversidade numa amálgama aprazível. No entanto, aludo ao </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">maluco beleza</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> somente por causa desses versos em que ele sintetiza, talvez sem querer mas com muita acuidade, a alienação que os guetos ideológicos podem causar a grupos e a indivíduos. É fundamental que os movimentos sociais, sejam quais forem, estejam sempre abertos ao diálogo e sobretudo às críticas externas, por mais dolorosas e inconvenientes que elas possam ser. Certeza de infalibilidade é, além de ilusão, uma alavanca do autoritarismo.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Néscio</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> é outro insulto de Gilza aos europeus, em um parágrafo no qual ela também os chama de </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">medíocres</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, minimiza os termos europeus </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">veganismo</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> e </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">especismo</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> e fala da cultura </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">rastafári</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> pregadora de uma alimentação sem carne. Ora, de forma concisa, o vegetarianismo organizado filosoficamente teria surgido na Índia e chegado à Europa pelo pitagorismo. Sinceramente, não é um assunto que eu domine, mas o vegetarianismo moderno, que se estrutura a partir de uma forte base ética, é, sim, europeu. Será evidentemente correto dizer que outros exemplos existiram em distintas civilizações anteriores, mas foi a partir da britânica Anna Kingsford que (felizmente) temos o vegetarianismo como ele hoje se apresenta. Não dá para negar a influência cultural europeia - sim, em grande parte imposta pelo colonialismo - como fator determinante para que o “seu” vegetarianismo e não outro tenha predominado. É um tema interessante do ponto de vista filosófico, mas sem qualquer relevância objetiva no que diz respeito à causa em si. Já a sugestão de que o racismo, o sexismo e o especismo tenham origem europeia, fica difícil quantificar o absurdo. É mais do que altamente provável que todos eles, com outras roupagens, tenham acompanhado a humanidade desde as primeiras civilizações. A afirmação da autora não tem rigor e é muito mais uma provocação barata do que uma informação.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Antes de finalizar, eu queria muito abordar a questão da justificação religiosa para a morte de animais. É natural que uma pessoa que se diz </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">pan-africanista de orientação garveysta, mulherista africana, afrocentrada </span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">tenha algum conflito filosófico na compreensão do veganismo em função do forte elemento religioso que utiliza ritualismo com a morte de animais. É compreensível certa divergência, tendo a autora pendido para o lado que representa a busca pela sua própria identidade cultural. Não considero elegante criticar algo tão pessoal que só ela própria poderá conseguir sentir. No entanto, uma coisa é a escolha pessoal e outra é querer justificar uma tradição com certos apelos. Nesse sentido, sou implacável: não há justificativa plausível, no meu entender, para a morte de animais em rituais religiosos, sejam quais forem. À luz da nossa ética moderna que concebeu o veganismo e à qual de alguma forma Gilza também está ligada, trata-se de um anacronismo. Podemos discutir aqui quem criou ou tenta impor essa ética, mas é inequívoco o entendimento que temos sobre o ato de matar, mesmo havendo quem utilize a religião para justificá-lo.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Um elo comum a muitas religiões - embora especialmente às monoteístas - é algo que Christopher Hitchens designou assertivamente como </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">culto à morte</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">. Sacrifícios, assassinatos, mutilações, com ou sem o prefixo </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">auto</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, são elementos bem presentes nas religiões organizadas. Uma pessoa que defenda a matança de animais jamais será vegana. É incongruente acusar os europeus de serem violentos e atribuir pacifismo e sensibilidade aos africanos para depois rejeitar uma filosofia europeia pacífica e sensível justificando a violência de rituais africanos por ser praticada no contexto religioso. É uma enorme contradição. Independentemente da religião, da cultura, do povo e da etnia, tais práticas são abjetas e condenáveis, e refletem o egoísmo humano praticado da forma que lhe é mais conveniente para manter o </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">culto à morte</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> sacrificando não a si, mas a outro animal. Patético! Pouco importa a suposta distinta concepção de vida e morte, a tese aristotélica e a concepção africana se a prática de matança de animais se repete. Se as suas convicções, Gilza, sobre a cultura africana são superiores ao seu veganismo (ou como o quiser chamar - se houver algum termo não ocidental eu adoraria incluí-lo no meu vocabulário), isso é problema seu e só a si caberá decidir acerca, mas não venha acusar de racismo quem defende o direito dos animais à vida e à dignidade acima de qualquer tradição religiosa. Matar animais em rituais de Candomblé é tão errado e abominável quanto fazê-lo em uma tourada (a justificação é a mesma: </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">tradição</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">). Não é por ser uma tradição africana ou parte de </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">uma concepção de unidade dos humanos com os animais</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> que ela se torna aceitável. Os animais não têm nada a ver com as crenças e as superstições dos humanos.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Isto não significa, no entanto, que eu queira impor o veganismo ocidental a comunidades africanas ou a tribos indígenas. De práticas jesuítas você não poderá acusar-me. Não obstante, não tenho dúvidas da minha escolha entre o veganismo ocidental e práticas de sacrifício de animais por matrizes religiosas africanas ou de caça por ameríndios. Na minha concepção ética, o veganismo é superior do ponto de vista da sua validade moral; outros aspectos da cultura dos referidos povos serão igualmente superiores aos dos ocidentais, disso também não tenho qualquer dúvidas e eu poderia enumerar uma série deles. A questão do </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">relativismo cultural</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> é extremamente delicada e complexa, e eu não me sinto totalmente à vontade para aprofundá-la sem os devidos critérios de análise. Não sei quanto a si.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">No dois últimos parágrafos, Gilza volta a ofender os brancos: </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">militontos</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> e </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">bunda branca-talquinho, </span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">para em seguida aconselhá-los a estudar a sua própria história </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">sem distorções</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">. Achei esse conselho, no mínimo, sugestivo - uma enorme cara de pau. Se ela pode dar conselhos, eu também posso: autocrítica, cara Gilza, é-lhe imprescindível. O seu propósito teria muito mais compreensão caso fosse difundido com respeito, simpatia e rigor informativo. Mas se o seu objetivo for mesmo o de desfazer-se de tudo o que seja vestígio de cultura ocidental, há uma irresistível incoerência bem latente. Não consta que seu texto tenha sido originalmente escrito no idioma dos seus antepassados. Está esperando o quê para aposentar o português? É que esse boicote bem seletivo a elementos da cultura ocidental é muito conveniente e soa-me fortemente a hipocrisia.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Por fim, não morro de amores pelo </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Ocidente</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, mas espero que ele continue bem vivo e fortaleça cada vez mais o que tem de bom para oferecer à humanidade e aos animais, reinventando-se, corrigindo o que tem de errado e inclusive aprendendo com outros povos e culturas que merecem o mesmo respeito, nomeadamente a tão bela e diversa cultura africana, que também terá, por sua vez, muito a ensinar e a aprender. No começo desta carta, ao me apresentar como ruivo, informo que tenho sete </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">dreadlocks</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">. Talvez Gilza tenha passado toda a leitura pensando em me acusar de </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">apropriação cultural</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">. Eu sei que é bem provável que ela não aceite o que me motivou a tê-las, mas reforço-o mesmo assim: é uma sincera homenagem, no meu entendimento bastante simpática, ao que admiro na cultura africana. Claro que é algo muito pouco original, já que em certas subculturas europeias há muitos </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">branquelos</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> veganos que possuem </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">dreads</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, ou no cabelo todo, ou apenas algumas na nuca, como no meu caso. Imagine, Gilza, que bando de violentos e néscios demônios e todos esses termos insultuosos que com afinco você julga adjetivá-los justamente.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.8065454545454545; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;">Como cresci em Aracaju, a acarajé baiana esteve sempre presente nos bairros em que morei. Por ter vindo viver na Europa, fiquei quase vinte anos sem comê-la, até que um dia uma amiga gaúcha, cozinheira, preparou uma versão vegana, sem camarão, para meu total deleite. Recentemente, fui a um bar que serve algumas coisas típicas do Brasil motivado pelo seu anúncio de acarajé. Para minha tristeza, o vatapá não era vegano e acabei por comer um pastel de palmito e cogumelos. Adoro acarajé, como também adoro a versão vegana de tantos pratos europeus igualmente suculentos. Espero que a boa comida lhe alimente sempre, Gilza, e espero que a autocrítica também lhe seja um importante alimento filosófico. Exaltar uma cultura não implica ridicularizar outras, e o combate ao racismo e à imposição cultural colonialista/imperialista pode ser melhor feito em comunhão de esforços, admitindo aliados e boas doses de razoabilidade. </span></span></div>
</div>
Juliano Mattoshttp://www.blogger.com/profile/11955728092822844407noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5481869326230673666.post-67427472903497393342017-12-30T06:59:00.003-08:002017-12-30T07:10:26.984-08:00Os 20 álbuns de 2017<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Como já é costume de fim de ano, fica aqui esse apanhado dos vinte álbuns que mais visitaram os meus ouvidos <span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">em 2017</span>. Um ano em que a música brasileira foi ainda mais soberana que no ano passado. Muitas lacunas da minha formação musical foram finalmente preenchidas e muitas revisitas foram empreendidas por este indivíduo entregue ao que desprezara. 2017 conciliou ritmo, batida e muita filosofia.</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">1 - Alucinação (Belchior)</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">2 - Duas Cidades (Baiana System)</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">3 - Da Lama Ao Caos (Chico Science & Nação Zumbi) </span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">4 - Samba Esquema Novo (Jorge Ben Jor)</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">5 - Tábua de Esmeralda (Jorge Ben Jor)</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">6 - Acabou Chorare (Novos Baianos)</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">7 - Novos Baianos FC (Novos Baianos)</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">8 - Convoque Seu Buda (Criolo) </span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">9 - Di Melo (Di Melo)</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">10 - Soltasbruxa (Francisco, El Hombre)</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">11 - Tijolo Por Tijolo (Braza)</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">12 - Fita Embolada Do Engenho - R<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">a</span>padura Na Boca Do Povo (RAPadura) </span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">13 - Seleção De Ouro Vol. I, II, III (Raíces De América)</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">14 - Gracias A La Vida (Tarancón)</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">15 - Afrociberdelia Chico Science & Nação Zumbi)</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">16 - Galana Livre (Rincon Sapiência)</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">17 - Automatic (The Jesus And Mary Chain)</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">18 -O Papa É Pop (Engenheiros Do Hawaii)</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">19 - Cabeça Dinossauro (Titãs)</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">20 - Racional Vol. I, II (Tim Maia)</span></span></span></div>
Juliano Mattoshttp://www.blogger.com/profile/11955728092822844407noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5481869326230673666.post-46473299665432435272017-05-09T08:15:00.000-07:002017-05-10T04:46:15.804-07:00O papel do indivíduo na destilaria de ódio<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<div dir="ltr" style="line-height: 1.656; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-size: 14pt; font-style: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.656; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Este texto é o meu humilde contributo contra o reino da brutalidade que toma conta do Brasil e a esta altura, entre outras consequências, dá 15% de intenções de voto a Bolsonaro segundo as últimas pesquisas relativas às eleições presidenciais de 2018. Vivendo distante, é o que posso oferecer contra o pensamento binário, contra a intolerância e o ódio, contra a polarização irracional e contra a celebração da ignorância. Este texto não faz apologia a nenhuma ideologia e a nenhum partido e é apenas a crônica de um percurso em busca da afirmação racional. Penso que apoiar figuras como o possível candidato presidencial citado (e o pacote de brutalidade que inclui homofobia, sexismo, racismo, vingacionismo e violência institucional, autoritarismo, apologia à tirania e negação à filosofia política) não é um posicionamento dentro do espectro político-partidário, mas uma carência intelectual e/ou um desvio psicossociológico.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b id="docs-internal-guid-86393182-eea0-d821-b89f-14355fc9a607" style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.656; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O apoio a elementos anti-humanistas e anti-democráticos é o resultado do irracionalismo com que as massas têm sido induzidas a se posicionar perante o confuso cenário político brasileiro pelo decisivo papel parcial dos meios de comunicação e por forças partidários irresponsáveis e comprometidas com vícios de poder que instauraram o caos e fizeram tremer as instituições e os próprios pressupostos iluministas. Tento resistir como posso ao festival de embrutecimento e essa resistência requer uma força interior descomunal, porque a tendência é a barbárie e geralmente encontro-me sozinho e em desvantagem face à avalanche de comunicação contaminada. Acredito, porém, que nós, os indivíduos participativos politicamente ou não, somos os principais responsáveis pela situação em que o debate tem sido desenvolvido e, por conseguinte, pela própria situação da política brasileira. Precisamos urgentemente de discernimento, razoabilidade, tolerância, capacidade crítica, sensibilidade, compreensão, equilíbrio e boa vontade. Todos nós. Da direita à esquerda, do ativista ao cidadão despolitizado, do anônimo à figura pública, do jornalista ao leitor e telespectador. Cada um de nós decide que tipo de contributo tem a oferecer. E este contributo é em grande medida um definidor de caráter.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.656; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Começarei contando um pouco da trajetória recente que segundo o meu entendimento construiu o pensamento que tenho a oferecer como, penso eu, contributo positivo.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.656; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Em 2007, ali à primeira esquina do passado, eu tinha outra vida. Todas as grandes transformações que me trariam a esta “estação” estavam ainda tendo o impulso seminal. A minha vivência dentro da cidade do Porto se limitava a uns poucos locais bem específicos que eram separados por profundas lacunas. Eu era um residente que desconhecia totalmente a cidade. No segundo mês daquele ano, fiz a minha primeira grande viagem sozinho. Cheguei a Praga depois de dois dias espremido num ônibus em virtude da minha já célebre fobia a aviões. Foram três meses na cidade responsável por um novo rumo nesta turbulenta existência. O motivo? Uma checa. Ai, as checas… Eu tinha uma atração inexplicável por elas - hoje sou muito mais eclético. Ao regressar da primeira de muitas visitas à mais bela das cidades, decidi pegar os únicos cinquenta euros de que dispunha e usá-los para pagar a inscrição a um exame de aptidões através do qual eu poderia ser admitido no ensino superior sem nunca ter acabado o secundário. Foi uma confusão enorme, mas o final foi feliz. Em Setembro eu era discente da Licenciatura em Geografia na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Isso pouco ou nada me significava à época. Hoje, sei que foi outra das grandes transformações que me acometeram. Antes, o “meu” Grêmio havia sido engolido na final da Libertadores pelo Boca Juniors e a tal checa viera a Portugal para fazermos uma viagem de norte a sul, ao estilo Reconquista, até ancorarmos no Algarve durante duas semanas ao expoente do delírio hedonista e praieiro (por não terem litoral, os checos alimentam um carinho um pouco especial demais pelo mar, digamos). Esse foi um período de grandes descobertas. Minha mente desabrochou substancialmente e o pendor cosmopolitano e humanista se impunha definitivamente.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.656; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">As primeiras semanas como acadêmico foram horríveis. Eu não gostava do ambiente, das obrigações e das pessoas. Mas fazia um esforço tremendo para gostar. Foi mesmo uma meta traçada: ser volátil, às vezes ser um bom ator, ser tolerante e tentar relacionar-me da forma mais diversa possível para sair do gueto cultural no qual me havia fechado desde que descobrira o submundo do Punk. Outra coisa que aflorava no horizonte da minha mente era o pensamento lógico e aquilo que Carl Sagan chamou de </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">espiritualidade científica</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">. A verdade é que todas as ideologias estruturadas a partir da emoção são fundamentalmente dogmáticas. Todas! E o meu anarquismo não fugia à regra. Ademais, fechar-se em gueto é perigoso e condicionante. Quando todas as pessoas à nossa volta aplaudem aquilo que dizemos, começamos a acreditar seriamente que temos razão. E em ambientes ideologicamente homogêneos a razão se transforma em dogma. Acreditamos que estamos certos em absolutamente tudo. Passamos a explicar o mundo pela ótica da nossa ideologia e estamos deveras alienados para perceber que ela é uma nuance de um mundo complexo que nos obriga a um pensamento muito bem vacinado contra as contaminações dogmáticas dos ideais e sobretudo da cegueira que os guetos desenvolvem.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.656; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Não que devamos descartar as ideias. Eu continuo sendo um idealista. José Saramago dizia ser um comunista hormonal para explicar que era um idealista naturalmente por mais que tentasse não sê-lo. Não sei se o mesmo acontece comigo, mas ainda acredito que o anarquismo é a melhor ideologia (e metodologia) de organização social concebida pela mente humana. Por ter origem antrópica, ela tem suas falhas, suas incoerências. Como todas as outras. Absolutamente todas! O mundo é constantemente edificado a partir de ideais amalgamados. Toda a história humana foi construída assim. São os ideais que esculpem os trejeitos desse bloco bruto que somos inicialmente. Há pessoas com mais curvas esbeltas e há outras quadradonas. Mas não é desolador que toda a nossa história tenha sido construída bem mais pelas ideologias e superstições do que pelo pensamento lógico e pela ciência?</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.656; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Não me entendam mal. Não defendo a supressão das emoções. Este que lhes escreve é um romântico inveterado cujos maiores atrasos de vida foram causados por excesso de sentimentalismo e da emotividade mais obstinada. Também não defendo uma sociedade controlada pela tecnocracia em sua atual acepção corrente. Já a acepção mais, digamos, coerente, ou a que ao meu ver melhor se adequa, se aproxima muito daquilo que concebo como uma sociedade baseada na racionalidade. Não defendo o tecnicismo burocrático de salão, insensível às aspirações populares. Defendo a técnica a serviço das comunidades em todo o seu leque de necessidades. Subsequentemente, isto significa a democratização da ciência, para que ela seja libertada dos salões elitistas e permita às camadas populares tomar decisões com base no conhecimento.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.656; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Mas regressando ao ano de 2007, após ter começado o curso acadêmico num período de grandes mudanças, encontrei num lugar inesperado a porta que se abria para o caminho de rigor e racionalidade no debate político. Posso dizer que a primazia da verdadeira filosofia política se iniciava naquele instante, ainda que sem sofreguidão, numa crescente que ao longo dos anos foi adaptando um anarquismo que alguns até podem chamar sincretista, não tão difuso mas expandido, abrangente e sobretudo trabalhado dentro da realidade do mundo, ao pensamento alinhado com o método científico, com a busca pelo equilíbrio emocional, pela razão e pela honestidade. Passei a perceber que nenhuma ideologia pode ser sobreposta à verdade por mais sublime que a consideramos ser.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.656; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O tal lugar inesperado não fazia parte do ambiente acadêmico e escondia-se entre as ondas tempestuosas da navegação virtual. Naquele ano, a rede social Orkut estava ainda no auge. Sua popularidade no Brasil a transformava em extensão dos meios de comunicação convencionais. A grande maioria dos conteúdos era desprezível e mesmo as “comunidades” que se propunham a debater política ou se fechavam em guetos ideológicos masturbatórios ou se transformavam em arenas de incessantes agressões ególatras em que as armas de combate eram clichês, mentiras e pensamento binário. O fenômeno de ódio político que hoje reina no Brasil já navegava a pleno vapor naquele momento seminal das redes sociais. Vasculhei todo o Orkut em busca de espaços de debate nos quais eu pudesse aprimorar a minha argumentação e o meu próprio pensamento. Estava disposto a debater quase tudo, até futebol e música, mas os grupos dedicados a esses temas eram formados apenas por bandos de adultos acriançados e verdadeiros analfabetos funcionais. Não havia nível de pensamento lógico e a escassez da semiótica era dramática. Até que um dia, em meio a dezenas de grupos, chamou-me a atenção um intitulado Geopolítica. O mundo vinha na esteira da invasão do Iraque e toda a nova configuração da ordem mundial se organizava sobre a arena global. Parecia-me que o nome do grupo designava um tema deveras propício para debates mais amplos, e, como estudante de Geografia que me havia tornado, o meu interesse por recursos naturais e relações internacionais era crescente, embora eu ainda quisesse debater ideais.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.656; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Durante anos limitei-me ao gueto ideológico e estava na hora de procurar um desafio intelectualmente mais rico: eu queria confrontar antagonismos para ser desafiado a evoluir a partir do estudo. Era chegada a altura das afirmações fundamentadas em detrimento dos achismos costumeiros. O grande mérito da comunidade Geopolítica era estabelecer o ambiente para o debate consubstanciado. Não eram todos que colaboravam, evidentemente. Das centenas de membros, apenas participava ativamente um pequeno punhado que não excedia as vinte pessoas. Como havia uma clara polarização ideológica, a moderação da comunidade precisava atuar, mas logo todos percebemos que ou desenvolvíamos debates construtivos com base na tolerância e na seriedade, ou estávamos apenas perdendo tempo em arroubos de baixaria egocêntrica. Foi com essa mentalidade que empreendemos um pequeno projeto político-filosófico que rendeu bons frutos a quem soube cultivá-lo. No que me toca, posso garantir que com ele aprendi na prática o valor da diversidade e do antagonismo como instrumentos de superação intelectual. Também aprendi o valor da honestidade, embora não tenha sido um aprendizado imediato. Todos precisávamos dar embasamento às opiniões, mas chegou uma altura em que era evidente a existência de “artigos” e “estudos” para todos os gostos e bastava apresentar aqueles que corroboravam o que defendíamos, como se já estivéssemos certos à priori e eles só servissem caso confirmassem o que dizíamos (ainda hoje, se alguém quiser acreditar, por exemplo, no terraplanismo, irá encontrar na Internet muito material defendendo essa baboseira - embora apenas no submundo das teorias conspiracionistas e sem qualquer validação de revisão de pares). Essa descoberta foi importantíssima inclusive para o meu percurso acadêmico, porque incutiu nele o espírito crítico e a ideia de que é preciso confrontar visões antagônicas para que se excluam mutuamente até que delas restem os resíduos validados. Isto é, aliás, espírito científico e a sua aplicação ao debate político foi o grande salto intelectual da minha vida por mais que a atuação no campo das ideias sempre implique alguma dose de emotividade.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.656; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">A minha participação efetiva na Geopolítica duraria um pouco mais de dois anos, quase sempre com as mesmas pessoas. Certa feita, até Rodrigo Constantino cairia por lá com o paraquedas do seu ego. Foram poucos dias até a sua total exclusão do grupo motivada por agressões verbais contra a minha pessoa e contra membros de esquerda. Nem os membros de direita gostavam dele. De fato, seu habitual estilo raivoso e macartista contaminava com intolerância um espaço que se pautava pela camaradagem. Pouco tempo depois, o reaça mimado pseudo-libertário ganharia notoriedade na grande imprensa e alguns dos livros que utilizava para embasar suas opiniões, que eram os seus próprios (sim, ele se auto-citava!), se tornariam best-sellers alavancados por um cenário político rasteiro propício ao binarismo e ao ódio. Mas antes do ar fétido da sua (des)graça, já se tinham formado no grupo certas amizades que desafiavam a própria natureza das relações virtuais. Havia chegado uma altura em que todos tínhamos noção de que dependíamos uns dos outros para continuar empreendendo debates equilibrados e producentes e até criávamos “tópicos” exclusivamente para incrementar as convergências de indivíduos ideologicamente divergentes. Imaginem que um socialista e um liberal fossem politicamente incompatíveis mas se davam conta de que torciam para o mesmo clube ou gostavam das mesmas bandas. Coisas assim, para descomprimir.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.656; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">A minha primeira discussão na Geopolítica, já no primeiro dia, teve como opositor (e alvo de pura raiva) um liberal chamado Diego, estudante de Economia. Inicialmente, eu o detestava. Era cínico, irônico e certeiro. Desdenhava da esquerda e dos socialistas de uma forma particularmente irritante. Mas ele passaria a ser o membro mais próximo de mim após a poeira baixar e a comunidade tentar se harmonizar. Havia outros, como a Je, o Eduardo e o Gilberto Mucio, que eram, respectivamente, uma carioca esquerdista e cristã, um socialista (talvez mais social-democrata) residente nos EUA e um rabugento leninista nordestino residente em Moscou. Como todos eram ideologicamente mais próximos a mim, não havia aquele sal a mais para temperar a relação. Concordávamos em quase tudo e estávamos sempre do mesmo lado nos grandes embates da comunidade, portanto não havia necessidade de trocar provocações relevantes entre nós.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.656; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Com Diego era diferente, porque ele me desafiava, me obrigava a estudar e a me superar. Creio que de alguma forma eu também lhe fazia o mesmo. E assim nos tornamos amigos. Quando o Orkut perdeu força, continuamos nossos duelos no Facebook, com a diferença de o fazermos em privado e não dentro de grupos. Posso dizer com toda a segurança que a compilação das nossas conversas sobre sistemas econômicos, conjunturas partidárias, geopolítica, movimentos sociais e direitos humanos daria pelo menos um grande calhamaço. De fato, um dos livros que já tenho finalizado e que ainda pretendo publicar foi em boa parte inspirado em reflexões surgidas a partir do desenvolvimento dos nossos debates. Decerto ainda sentimos certa ojeriza pelas ideias um do outro, mas também já admitimos derrotas. Aprendi com ele e acho que ele aprendeu comigo. Já lhe dei razão - a muito custo, claro, mas reconhecendo o valor da honestidade intelectual - e já tive razão reconhecida por ele. Percebemos que somos duas pessoas bem intencionadas com visões antagônicas de como concretizar essas boas intenções. Ele continua sendo liberal e continua desconfiando de tudo o que venha da esquerda. Hoje, é economista no Ministério da Fazenda. Eu continuo sendo socialista libertário e continuo desconfiando de tudo o que venha da direita e de grande parte da esquerda, embora esteja alinhado a ela pontualmente. Continuo com minha vida errante e tresloucada, sem lar, sem estabilidade. Hippie para uns, vagabundo para outros. O certo é que temos estilos de vida totalmente incompatíveis, mas nosso exemplo é uma prova de que é possível debater política sem ódio e é possível a convivência antagônica. Também mostramos que a diferença, utilizada sabiamente por quem tem um verdadeiro interesse na constante auto-superação, é uma dádiva filosófica. Não conheço Diego pessoalmente, mas temos uma amizade à distância há dez anos que há tempos transborda as conversas políticas e também se envereda por questões da nossa vida. Às vezes, quando perdemos motivação ou sentimos frustração pelo rumo da política, ficamos semanas sem nos comunicar, mas logo voltamos a falar nem que seja sobre acontecimentos do nosso foro pessoal alheios às ideologias. É bem provável que nos conheçamos pessoalmente quando ele finalmente visitar a Europa. E quando isso acontecer beberemos cerveja em um bar ou iremos a um concerto de Rock. E vamos trocar nossas habituais farpas políticas em meio a goles e brindes, porque somos pessoas razoáveis e exploramos as nossas convergências. Mesmo ideologicamente, não discordamos de tudo a 100% como seria de se esperar da relação entre um liberal de vida mais pacata e um socialista “porra-louca”. Em algum momento desse meu percurso recente eu desenvolvi a tolerância plena e aprendi a conviver com todo o tipo de pessoas, quase sempre trocando conhecimentos e vivências. Ser fascinado pela diferença é talvez a grande virtude que reconheço em mim próprio e entristece-me observar que a grande maioria das pessoas sequer se dá ao trabalho de buscar a mera compreensão, que dirá tal fascínio.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Recentemente, limitei a minha participação em debates em virtude do baixo nível dos mesmos. É difícil compreender como as pessoas continuam satisfeitas com simplismos e clichês em meio a tanta informação acessível. A preguiça intelectual é uma das causas da pobreza argumentativa e da pequenez espiritual, mas o ódio fomentado pela desinformação dos grandes meios de comunicação também se destila nesses ambientes de intolerância e polaridade. Perante a destilaria de ódio em que se tornou essa representação da realidade chamada Internet - e que muitas vezes a transborda e inunda a realidade objetiva -, a nossa decência está na contracorrente, na subversão dessa dinâmica alienante. Estamos falando de um veículo de comunicação que nos dá certo protagonismo e em que somos ativos comunicadores. O caráter do nosso contributo nessa aldeia global virtual diz muito daquilo que somos e daquilo que queremos para o nosso mundo real. Não há virtude em combater ódio com ódio, violência com violência e mentira com mentira. Ver no opositor uma figura humana é um princípio de tolerância básico que hoje parece miragem. Mas a plenitude da racionalidade e do humanismo está no exercício da compreensão e da tolerância. Ele pode ser árduo, mas é esse esforço que elucida a nobreza da nossa intencionalidade.</span></span></div>
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span id="docs-internal-guid-86393182-eebe-e164-ab50-c6cf6edd8b03"><span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">A minha alusão a Bolsonaro no começo do texto não foi um mero posicionamento político. Não o considero um representante genuíno de espectros político-partidários e muito menos de ideologias mais ou menos formais. Bolsonaro é um atalho de todos os que querem evitar o percurso do raciocínio e da filosofia política. É por isso que a grande maioria dos seus seguidores é gente despolitizada. Ou que pelo menos foi despolitizada até há uns dias, e que agora difunde verdadeiros discursos de ódio com afinco. Bolsonaro é um canalizador do ódio, um negociador do medo. É a caricatura do atual cenário político brasileiro exatamente por representar a negação à política e a celebração da ignorância como formas de virtude. Geralmente, seus apoiantes nada têm a dizer de substância argumentativa. Seus discursos são rasos e o máximo que conseguem fazem em meio a tanto clichê é uma grotesca simplificação da realidade. E essa simplificação reforça a polarização que por sua vez incrementa o ódio. A própria direita politizada o despreza. Diego o despreza. E é preocupante que o espaço da direita brasileira esteja sendo ocupada pelo extremismo anti-humanista, porque a política é a arte do diálogo e essa gente já mostrou que não está interessada nisso. Eles representam a brutalidade objetiva contra a racionalidade e o equilíbrio. Não é à toa que agora surjam figuras politicamente ignorantes, como os futebolistas Felipe Melo e Jadson, declarando-lhe apoio e arrastando assim uma multidão de preguiçosos que prefere seguir o atalho do imediatismo irracional, evitando o “fardo” do exercício intelectual lógico e honesto baseado no estudo, na leitura, no reforço do discernimento e da observação crítica. </span></span></span><br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="white-space: pre-wrap;">É com moderado orgulho que celebro os dez anos de boa amizade com Diego, o liberal fanfarrão e irritante, porque estou convicto de que não fizemos mais do que a nossa obrigação: se exigimos espaço em algum tipo de debate, pensar com coerência e razoabilidade é o mínimo a que estamos obrigados. Foram anos em que quanto eu mais aprendia, mais me ia apercebendo do quanto ainda não sei. E isso se deu em grande parte graças à abertura da minha mentalidade para compreender as ideias diferentes e inclusive reconhecer quando nelas está a razão. Seria tão melhor para todos nós se explorássemos as ideias que constroem o mundo com a mesma humildade de um astrônomo cosmologicamente insignificante que explora o vasto universo sedento por conhecimento e consciente da sua ignorância.</span></span></div>
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">
</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif; white-space: pre-wrap;"><br /></span></span></div>
</div>
<span style="color: #f6b26b; font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: large;">
</span>Juliano Mattoshttp://www.blogger.com/profile/11955728092822844407noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5481869326230673666.post-10054173113091957292017-04-24T05:52:00.002-07:002017-04-24T17:19:15.631-07:00Crônica de uma visita ébria a Lisboa<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Em 2007, como parte de um mochilão do norte ao sul de Portugal, bem no estilo <i>Reconquista</i>, passei duas semanas na Grande Lisboa depois de ter passado por Aveiro, Coimbra, Leiria, Mosteiro da Batalha e Alcobaça e antes de ir pela primeira vez ao Algarve. A companhia era a minha namorada à época, uma checa que meses antes me fizera apaixonar por Praga numa das grandes transformações da minha vida, quiçá a maior.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Ficamos hospedados numa pensão carcomida na baixa lisboeta, pagando 7€ por noite - eram outros tempos, ainda sem o atual <i>boom</i> turístico incontrolável. Num dos dias até dormimos na rua em Cascais. Fazíamos sempre isso nos nossos mochilões pela Europa. Ela gostava. Eu sempre me senti tenso, mas fazia-lhe a vontade.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Desde então, a única passagem que tive por Lisboa resultou de uma viagem de estudos com a minha turma do curso de Geografia em 2009. Uma passagem de ônibus regressando do Alentejo, sem nunca ter chegado a pisar o chão da capital.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Portanto, é correto dizer que eu demorei dez anos para regressar. O motivo (mais um pretexto): uma festa balcânica de duas amigas DJs. A ideia era me acabar na festa e tentar, se me sobrasse um resquício de sobriedade, fazer algumas fotos. Depois eu passaria o Domingo e talvez a Segunda errando pela cidade.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Mas a ideia era errar de forma acertada. Só que tudo deu erradamente errado.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">É importante dizer que além de não ter saldo no celular há quase um ano, o aparelho que resiste heroicamente à obsolescência programada está tão viciado que sua bateria não chega a durar uma hora. Fora de casa fico normalmente incomunicável.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Ao chegar, fui encontrar-me com a minha amiga Ana para jantarmos na casa do seu namorado. Desbravei sozinho ruas escuras e estranhamente tensas e vazias, seguindo um mapa com a indicação do destino, ao qual acabei por chegar depois de me ter perdido duas vezes, como grande geógrafo que sou. Ao fundo da rua uma figura acenava para mim. Era a Ana. Eu, radiante com o fim da aventura, suspirei de alívio. Mas de repente quase mergulhei para baixo dos carros estacionados em função do susto que tomei quando um maldito avião passou tão rasante sobre a minha cabeça que quase posso jurar que senti o vento da sua passagem. O barulho era assustador. Eu, ainda meio abaixado, como se tentasse controlar o perigo, revezava o meu olhar entre o céu e o rosto de Ana, que se desfazia em gargalhada com a minha reação ridícula.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">E lá fomos jantar. Uma massa integral com pesto e cogumelos frescos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Havia uma garrafa de vinho. E depois outra. E depois apareceu uma de Bacardi. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Eu queria ir <i>alegre</i> à festa balcânica, mas só às três da madrugada me toquei de que estava mais do que na hora de partir, após longa conversa sobre a mesa com o casal. O problema era que a festa estava acontecendo a uns bons quilômetros dali.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Chamaram-me um taxi. Aliás, nem era taxi e nem era <i>uber</i>. Era uma outra modalidade.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Na correria, acabei por esquecer-me do celular que deixara carregando. Não fazia muita diferença, entretanto. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Então começa a breve viagem que acabaria por ser o melhor momento da minha visita a Lisboa. O motorista era um negão de meia idade careca bem encorpado. Logo que entrei no carro já simpatizei com ele. Eu estava profundamente embriagado, mas lembro-me de durante uns quinze minutos empreendermos um debate aprofundado sobre guetos étnicos, violência urbana, turistificação e sobre nossas vidas dentro disso tudo. Eu disse-lhe que me aconselharam a não passar pelo bairro de Chelas. Ele me disse que vivia lá e que isso era uma balela. A conversa foi tão boa que eu torcia para ele ser um daqueles taxistas que fazem o caminho mais longo só para cobrar mais, porque eu queria continuar conversando com ele e àquela altura já me borrifava para a festa.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Mas, infelizmente, a viagem chegou ao fim. Creio que a empatia foi mútua, porque ele insistiu em saber se eu estava seguro de que aquele era o meu destino correto. Até quis sair do carro e entrar lá comigo só para o comprovar. Eu disse-lhe para não se preocupar e com certa tristeza nos despedimos. Não sem antes eu tentar pagar pela viagem e ele ter-me dito que já estava pago - Ana pagara por transferência ao solicitar o serviço, mas com o meu estado de embriaguez ele poderia ter-me ludibriado perfeitamente.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Foi a melhor viagem de <i>taxi </i>da minha vida. Da próxima vez que o apanhar vou pedir para que me leve ao Porto só para estarmos três horas trocando ideias.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Então cheguei à festa: um edifício com aparência de abandono e com o entorno no breu quase total. Era um daqueles lugares em que pessoas normais não só não entram como tentam evitar passar por perto. Logo de cara fiquei fascinado. Adorei o lugar. Não era um bar, nem uma discoteca, nem uma ocupação, nem um centro cultural. Mas era um improviso disso tudo. Tudo ali parecia altamente ilegal e isso me deixou logo radiante.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Lá dentro, as minhas amigas já estavam tão bêbadas quanto eu. Francamente, de pouca coisa me lembro. Era um espaço escuro. Não estava completamente lotado, talvez pela hora avançada, mas pessoas chegavam e partiam a todo instante. Não sei bem o que fiz por lá. Só me lembro de ter encontrado uma das coordenadoras do meu grupo de jornalismo e audiovisual do festival Andanças. Também lembro de me ter convencido a ocupar um edifício abandonado no Porto e criar um espaço igual àquele. Na altura era a ideia mais sensacional, promissora e excitante do mundo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">As lembranças seguintes já são de um belo dia de sol, sentado numa calçada com as meninas à espera do ônibus para a casa de uma amiga polonesa que nos ia hospedar. Lembro-me de insistir que dormir era para os fracos e que deveríamos ir à Costa da Caparica dar uns mergulhos. Havia um rapaz lisboeta com a gente e ele ofereceu o seu carro para nos levar lá. Mas as meninas não quiseram.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Depois me lembro de acordar no começo da tarde com a cabeça girando. Uma bela de uma ressaca. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">As meninas regressaram ao Porto. Eu, teimoso, decidi ficar e ir chatear a Ana mais um pouco.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">E lá fui eu, novamente incomunicável, tentar não me perder pela cidade. Peguei o metrô e nove estações depois encontrei-a. Em sua casa, tomei um banho, fiz um almoço rápido e fomos dar uma volta pela redondezas do Panteão Nacional e da estação de Santa Apolônia, um pouco a norte da famosa Alfama.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Encontrei um grande mural de azulejo junto ao Panteão e fiz lá umas fotos para provar a mim mesmo que estive em Lisboa.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">E meu turismo pela capital se resumiu a isso.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Depois me aventurei sozinho novamente pela cidade em busca do terminal rodoviário. Como quem tem boca vai a Roma e eu só queria ir ao Porto, foi fácil. É claro que eu sempre aproveito qualquer oportunidade para edificar uma espécie de retrato sociológico dos locais por onde passo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">De Lisboa, o retrato dessa ébria visita se forma a partir das seguintes impressões:</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">- O turismo comercial é uma praga nefasta. Ele impregnou Lisboa e Porto da mesma forma e com a mesma intensidade. Tenho cada vez mais ojeriza a essa tendência. Até sinto certa vergonha em andar pelas ruas com a minha máquina fotográfica porque tenho medo de ser confundido com um turista.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">- Ao contrário do Porto, que é uma grande vila, Lisboa é uma cidade de verdade, com tudo o que isso acarreta de positivo e negativo. É muito mais cosmopolita e multicultural. Respira-se a urbe. A correria acusa a metrópole em contraste com o aparente provincianismo do Porto.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">- A tensão que eu havia sentido ao chegar a Lisboa tem uma explicação: era dia de <i>derby</i> ludopédico. Benfica e Sporting estavam acabando de jogar naquele instante. Um rapaz italiano que vestia a camisa do Sporting havia sido mortalmente atropelado por um torcedor do Benfica nas proximidades do estádio na noite anterior. Essas notícias me causam tanta revolta que cheguei a Lisboa dizendo à Ana que aquele era um dia propício para haver bons avanços no processo de seleção natural, se é que me entendem. Gostar ou não de futebol enquanto atividade desportiva não é a questão. A questão é que o tal <i>neofutebol</i>, ou <i>futebol moderno</i>, através da sua indústria, é um antro de mediocridade e tem promovido a irracionalidade humana com uma bestialidade que já passou todos os limites do tolerável. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">- Andar por uma cidade que eu não visitava há dez anos e encontrar amigos e conhecidos por acaso me transmite uma sensação de inclusão que não sei se é falsa ou verdadeira, mas que se manifesta e cria um certo conforto no momento. Além da coordenadora do Andanças, encontrei uma amiga numa estação de metrô e outra na fila de ingressos do terminal rodoviário. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">- A minha debandada pelo leste europeu, grande culpada pelo longo tempo sem descer ao sul da península, fez com que eu perdesse a quase totalidade dos contatos que tinha em Lisboa. Antes eu conhecia muita gente e agora parece que só o acaso põe rostos familiares no meu caminho.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">- Talvez como em toda cidade grande, os lisboetas são mais apressados e não têm a proximidade (ou calor humano) dos portuenses. Isto parece ser um senso comum, embora eu não note uma diferença tão assinalável. Fiz vários experimentos pedindo indicações na rua, perguntando preços ou comprando algo para beber e fui sempre tratado com simpatia e prontidão. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">- Viver próximo a um aeroporto é um terror! Aviões passavam rasante a todo instante sobre a casa do namorado da Ana. Até parecia que faziam tremer o prédio. Lembrei-me logo da cena do filme <i>Seven</i> em que Morgan Freeman vai jantar à casa de Brad Pitt e o metrô subterrâneo faz a casa tremer a cada cinco minutos. Tenho mesmo medo de aviões!</span><br />
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">- Já de regresso ao Porto, verifiquei a câmera e encontrei dezenas de fotos da festa, além de fotos na rua e dentro de um ônibus. Embriaguez e câmeras fotográficas podem ser uma combinação deveras elucidativa.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">- Foi uma visita meio inútil. Fiquei apenas com um gostinho de tudo o que planeara fazer em Lisboa. Mas uma viagem é (quase) sempre mentalmente refrescante. Do Porto a Lisboa são três horas e meia de ônibus. Todos acham que é uma eternidade e ficam logo impacientes. Inocentes, não sabem de nada. Eles que experimentem fazer Portugal-Rep. Checa por via rodoviária, como certos malucos que temem aviões...</span></div>
Juliano Mattoshttp://www.blogger.com/profile/11955728092822844407noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5481869326230673666.post-1187705592677512412017-04-19T19:50:00.000-07:002017-04-21T02:30:46.002-07:00Diariamente<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></span>
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Estou na cantina da faculdade, ocupando uma mesa com meus colegas de curso para almoçarmos:</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b id="docs-internal-guid-d86996f9-8942-850e-a906-2610315a9266" style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Colega 1: Juliano, de onde você tira a proteína?</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Colega 2: Você não fica doente? Já foi provado que isso faz mal.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Colega 3: Isso é uma religião?</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Eu: …</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Estou na baixa da cidade, jantando com um grupo de amigos num restaurante:</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Amigo 1: Você deve ter anemia.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Amigo 2: Você não gosta de carne?</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Amigo 3: O que você come? Só salada?</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Eu: …</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Estou num piquenique na praia com um grupo multicultural de intercambistas:</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Pessoa 1: Você é bem magrinho…</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Pessoa 2: Nunca provei comida vegana, mas não gosto.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Pessoa 3: Você toma suplementos?</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Eu: …</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Uma festinha na casa de uns amigos:</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Amigo 1: Você vai morrer!</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Amigo 2: Prove só um pedacinho deste bife que eu não conto para ninguém.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Amigo 3: Você não sabe o que é bom.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Eu: …</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Estou numa noitada bebendo cerveja e me divertindo na companhia de todas as pessoas presentes anteriormente e ainda alguns desconhecidos:</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Amigo 1: Eu nunca conseguiria viver sem carne. É impossível ser feliz assim.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Desconhecido 1: Veganos são chatos. E os vegetais também sofrem...</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Desconhecido 2: Tenho pena deles. É como uma religião.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Amigo 2: Aquele ali, o Juliano, é vegano.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Desconhecido 3: Por quê você é vegano, Juliano? </span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Colega 3: Ele não sabe o que é bom. </span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Colega 2: Nem sexo ele deve fazer…</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Todos: hahahahahahahaha</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Eu: Sou vegano porque questionei independentemente a nossa relação com os animais e com toda a natureza e percebi que o consumo de carne é insustentável do ponto de vista ecológico e ético, além de poder implicar consequências nefastas para a saúde humana. Sobretudo, sou vegano porque não acredito nos valores antropocêntricos e tento viver de acordo com uma filosofia racionalista de respeito pela vida e pela natureza. Comer é um ato político e devemos ter consciência dos processos implicados na alimentação humana e todas as consequências que eles causam no planeta, na sua biodiversidade e nas próprias políticas de distribuição de alimentos entre nós, humanos.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Ao fim da minha explicação, que só foi dada depois de ter sido pedida:</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Amigo 1: Calma, não tente impor a sua dieta.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Amigo 2: Isso é mesmo uma religião.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Colega 1: Já nem se pode brincar…</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Desconhecido 1: Com todo o respeito, mas cada um come o que quiser.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Desconhecido 2: Vou continuar comendo carne…</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Amigo 3: Veganos são mesmo chatos, só falam sobre isso.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Colega 2: Pois é. Acham-se superiores só porque comem uns legumes.</span></span><br />
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Eu: Vou buscar outra cerveja.</span></span><br />
<span style="vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></span>
<br />
<br />
<span style="color: #f6b26b; font-family: times, times new roman, serif; font-size: large;"><span style="white-space: pre-wrap;">Lembre-se:</span></span><br />
<span style="color: #f6b26b; font-family: times, times new roman, serif; font-size: large;"><span style="white-space: pre-wrap;"><br /></span></span>
<span style="color: #f6b26b; font-family: times, times new roman, serif; font-size: large;"><span style="white-space: pre-wrap;">Estigmatizar minorias, celebrar injustiças, disfarçar a ignorância e a preguiça intelecual com desdém e ironias e aprisionar-se em lugar-comum são atentados à inteligência. </span></span><span style="color: #f6b26b; font-family: times, "times new roman", serif; font-size: large; white-space: pre-wrap;">Desenvolva a sapiência. </span><span style="color: #f6b26b; font-family: times, "times new roman", serif; font-size: large; white-space: pre-wrap;">Busque a compreensão.</span></div>
Juliano Mattoshttp://www.blogger.com/profile/11955728092822844407noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5481869326230673666.post-3342035972853229932017-04-19T16:17:00.002-07:002018-04-03T12:29:46.786-07:00Manifesto sobre o estado físico da matéria III - A alienação tecnológica<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></span>
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Provavelmente não acreditaria se, há vinte anos, dissessem-me que um dia teríamos potentes ferramentas de comunicação perfeitamente customizadas e geridas segundo a nossa vontade. Ou talvez até acreditasse, com certa dificuldade para imaginar tal sociedade futurista em que essas ferramentas fossem possíveis. Há vinte anos, toda a comunicação ainda era imposta por meios convencionais encabeçados pela televisão. Foi mais ou menos nessa época que pela primeira vez tive acesso à Internet. Também foi quando descobri as </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">fanzines</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> do submundo. Elas eram formas precárias e comoventes de desenvolver redes alternativas de informação. A palavra </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">rede</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> designa interligações, conexões. As </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">fanzines</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> eram uma forma de conectar o submundo da música (no caso, do </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Punk</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">) e mitigar o natural isolamento de indivíduos </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">deslocados</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> que procuravam nas tribos urbanas a afirmação da personalidade. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b id="docs-internal-guid-1f3c6e5b-887d-ba96-1578-fa40f49b1ceb" style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Hoje, a sofisticação das redes só não enterrou totalmente as </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">fanzines</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> porque há ainda espírito resistente neste mundo, embora elas tenham sido reduzidas a um circuito ainda menor que, no entanto, dialoga mais ou menos pontualmente com os novos meios. Mas esse espírito resistente é a exceção que confirma uma regra demolidora: a massificação da tecnologia conectou o mundo e trabalha para o uniformizar e estupidificar. A utopia futurista que há vinte anos era para mim inconcebível tornou-se distopia e é hoje senhora absoluta das nossas vidas. A perversidade já começa aí: em vez de a utilizarmos para facilitar e complementar a sociabilidade e a cidadania, nossa capacidade crítica se dilui e é ela que nos utiliza. Quando submetemos a nossa vida à dinâmica das redes sociais, passamos a ser peça sua: dinamizamos uma monstruosa rede de auto-alienação. Temos sido atores extremamente participativos no processo da nossa própria imbecilização. Caímos na armadilha do consumismo tecnológico e da desinformação pelo excesso de comunicação irrelevante e emburrecedora.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Após um primeiro momento em que a Internet parecia surgir como grande alternativa libertadora ao modelo convencional da televisão, veio o balde de água fria: a indústria do entretenimento seria demasiado poderosa e maquiavélica para desprezar esse potencial. Rapidamente, todo o seu conteúdo massificado não se distinguia do da televisão. Era apenas uma extensão dela; uma forma de diversificar e </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">ramificar</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> o escoamento do esgoto. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">A minha primeira experiência com a comunicação virtual se deu no ano de 1999 durante umas breves semanas em que tive aquela cacofônica Internet de discagem telefônica. Sem qualquer orientação para a navegação, acabei por encalhar no célebre bate-papo do UOL. Quem, no Brasil, não se lembra? Aos dezesseis anos, eu tinha uma mentalidade ingênua e residia numa Aracaju que se fechava para si. Era portanto fascinante comunicar com pessoas distantes tão facilmente através de digitação num computador. Eu podia imaginar suas feições e suas vidas. Fiz <i>amigos</i>, senti afeto e até cheguei a trocar correspondência pelos correios convencionais quando a minha família substituiu a Internet pela televisão a cabo por não poder pagar pelos dois serviços - na altura ainda não vinham juntos em um mesmo <i>pacote</i>.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Eu sentia, já naquele momento, a atração que me prendia ao mundo virtual em detrimento do real. A comunicabilidade em tempo real com indivíduos fora da minha realidade imediata sempre me foi estimulante. Depois, quando eu já era imigrante em Portugal, veio o </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">IRC</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> e o </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">ICQ</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">. E o </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">MSN</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, que para os mais novos é apenas uma referência futebolística. Em meados da década de 2000 surgem as redes sociais. Comecei pelo </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Orkut</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> em 2005. Foi um fenômeno brasileiro que não vingou na Europa, mas através dele eu pude <i>reencontrar</i> dezenas de amigos de infância e me reconectar ao Brasil. Ele servia-me como doses diárias de nostalgia, embora também tenha sido nele que comecei a participar dos agora insuportáveis debates políticos virtuais. Havia uma <i>comunidade</i> chamada </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Geopolítica</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> na qual, por mero acaso, duas dezenas de pessoas conseguiram estabelecer um clima propício ao desenvolvimento de debates aprofundados e consubstanciados. Foi exatamente há dez anos. A dinâmica de debate na </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Geopolítica</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> foi responsável pela mudança na forma como eu encarava a política: passei a compreender a importância do rigor, do método científico e da verdade, embora não tenha deixado de ser idealista. Certo dia, caiu lá de paraquedas um sujeito que provocaria enorme tempestade e faria o seu nível despencar ao rasteirismo hoje normalizado. Seu nome era Rodrigo Constantino. Um desconhecido à época. Vocês devem imaginar a minha cara quando deparei-me com a sua fama alguns anos depois. Os próprios membros de direita da </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Geopolítica</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> não o levavam a sério e ele foi expulso após algumas suspensões motivadas por insultos a mim e a membros de esquerda. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Na sequência, associei-me ao </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Hi5</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> para estar ligado às amizades portuguesas e ao </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Myspace</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> para manter-me atualizado no submundo da música. Por último, apenas em 2010 (!) passei a usar o </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Facebook</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">. De todas essas novas redes sociais, era a que me parecia ter menos potencial, mas, de repente, ela afundou impiedosamente todas as outras e estabeleceu o seu império no tempestuoso oceano da navegação virtual. Sete anos depois, o </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Facebook</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> é o pão nosso de cada dia. Seu poder de atração parece uma força gravitacional que faz os nossos rostos orbitarem </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">smartphones</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> como se todo o resto à volta fosse uma imensidão de vazio ou de desinteresse. O efeito perverso da conectividade é ela nos desconectar do mundo real em benefício de uma representação seletiva, mecanizada e alienante. A tela do nosso </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">smartphone</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> é mais interessante do que o nosso campo de visão; as mensagens escritas são mais importantes do que quem está à nossa frente; sobretudo, a dinâmica comunicativa e informativa, quase sempre submetida a uma necessidade patológica de exibição e auto-afirmação, esmaga totalmente a nossa avaliação crítica de toda essa dinâmica. A racionalidade tem sido diariamente preterida em nome desse </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">imediatismo</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> que aparentemente nos mantém conectados ao resto do mundo, mas que na prática nos aliena e uniformiza como nunca na história das tecnologias comunicativas.</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br class="kix-line-break" /></span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br class="kix-line-break" /></span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Como explicar que um instrumento de comunicação potencialmente libertador se tenha transformado em máquina de emburrecimento? Decerto uma parte da explicação está na imposição de modelos substitutos do raciocínio independente, como </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">memes</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">selfies</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, frases padronizadas </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">viralizantes</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> e fórmulas de noticiário que se resumem a manchetes sensacionalistas, mas não dá para negar a culpa de cada peça dessa engrenagem. Nós somos os responsáveis pelo seu funcionamento. Nós somos os difusores dos seus conteúdos. Ao contrário da televisão que nos impunha uma programação, nas redes sociais somos nós que dinamizamos aquilo que consumimos. E somos nós que impomos as fórmulas - ou, pelo menos, há uma descentralização inédita em certas escalas, embora os meios de comunicação relevantes estejam cada vez mais concentrados por poucas e poderosas corporações. Recentemente, uma colega me confessou divertidamente que costuma se comunicar com seu namorado pelo </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Whatsapp</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> apenas utilizando </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">memes</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> e </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">gifs</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, excluindo mensagens de texto. A </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">novilíngua orwelliana</span> sempre me pareceu uma ameaça real, mas talvez nunca me tivesse sido apresentada assim tão translucidamente.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Talvez tenha sido uma enorme ingenuidade acreditar que povos cheios de vícios e atolados na ignorância e na futilidade fossem dinamizar positivamente um veículo novo de comunicação. Hoje me parece evidente que não se faz comunicação alternativa e libertadora sem mentalidades alternativas e libertadoras. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Então o que temos? Como disse, o escoamento de esgoto de uma tubulação convencional para uma que também já está convencionalizada segundo os padrões antigos que faziam com que as víssemos com esperança. </span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br class="kix-line-break" /></span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br class="kix-line-break" /></span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Acho que faz sentido dizer aqui que, no momento em que escrevo este texto, a notícia mais difundida no </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Facebook</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, inclusive por grupos alternativos de ativismo, é referente a um acontecimento no </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Big Brother Brasil</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">. Muitos dirão que a relevância da notícia supera qualquer apreciação qualitativa do programa. Talvez. A agressão a uma mulher é grave e deve ser denunciada com afinco. Mas pensemos bem: quantas vezes esse programa - que é um dos mais estupidificantes que a indústria do entretenimento já conseguiu conceber - teve mais propaganda gratuita do que nestes últimos dias? E mais: parece que continuamos atrelados a conteúdos alienantes impostos pelo modelo convencional de comunicação. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">“Mas, por ser um programa de massas, ele nos oferece a oportunidade de problematizar em larga escala a violência de gênero”. Não discordo. Tampouco concordo com entusiasmo. A violência de gênero e os preconceitos devem ser combatidos em todos os âmbitos e ambientes, mas não creio que seja só a mim que a </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">viralização</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> dessas notícias parece obedecer muito mais a uma lógica de padronização de reações e comportamentos do que a um ativismo efetivo, certo?</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br class="kix-line-break" /></span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br class="kix-line-break" /></span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Parece-me relevante tal indagação perante uma dinâmica comunicativa gerida pelo (i)mediatismo. Como todas as outras polêmicas, esta durará apenas até que surja outra efeméride apelativa que sirva para vender manchetes e distrair massas. Tem sido sempre assim. Há uma máquina de produção de polêmicas que dita o nosso comportamento e as nossas prioridades. A velocidade supersônica da (des)informação nos impede de fazer análises mais aprofundadas e cuidadosas de temas relevantes, confrontando-nos com o perigo de ficarmos para trás na constante atualização do mundo. Como desenvolver discernimento se as redes sociais nos obrigam a uma imediata digestão da informação produzida? Da relevância à irrelevância há um intervalo cada vez menor. O atraso de alguns minutos pode ser suficiente para que estejamos totalmente desatualizados. Vemos um turbilhão de pretensa informação passar pelos nossos olhos e somos obrigados a engolir tudo sem mastigar, e o resultado disso é a superficialidade e o lugar-comum. Muitos conteúdos requerem raciocínios mais complexos. Como podemos compreender o mundo se não temos tempo para os edificar?</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Talvez isso explique a fuga da maioria das pessoas para a futilidade. Criamos um mundo em que a falta de tempo para tanta informação nos induz à alienação. Isto, aliado à indústria do entretenimento e ao consumismo desvairado, resulta na normalização da mediocridade humana. O </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Facebook</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> tem exercido um papel fulcral nesse processo e assume a dianteira na batalha pelo irracionalismo. Soa paradoxal, mas é perfeitamente observável: dentro de um poderoso veículo de comunicação temos sido induzidos a um comportamento acrítico.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Entorpecidos pela </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">dinâmica facebookiana</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, quantos de nós se preocupam com a veracidade dos fatos? Quantos analisam a fonte das notícias antes de as difundir? Quem realmente estaciona o cérebro por alguns minutos no acostamento dessa via expressa para analisar criticamente não apenas a credibilidade, mas a relevância das informações consumidas? Se olharmos para a ambiência virtual portuguesa, o tema mais comentado do momento, com larga vantagem, é uma daquelas triviais polêmicas de arbitragem futebolística que faz com que pessoas de meia idade se comportem como se estivessem entrando na puberdade. Para haver uma massificação desse comportamento é preciso que algo nos esteja induzindo a um padrão. Não se trata de alguma entidade obscura que fascina lunáticos teóricos conspiracionistas. Trata-se do modelo da cultura dominante assente na santíssima trindade do </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Trabalho</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Produtividade</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> e </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Consumismo</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">. Esse modelo impõe o </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">imediatismo</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> nas nossas vidas tresloucadas, em que sacrifício é virtude e ócio é abominação. Impondo-nos correria e insatisfação, este modelo nos impede de construir discernimento sobre o mundo e nos empurra às fugas fáceis à fustigante vida que nos reduz à programação. De certa forma, somos todos uma espécie de Marvin, o </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">andróide paranóide</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> de Douglas Adams, ainda que pouco cientes disso. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Potencialmente, nosso cérebro é um universo de desejos, sentimentos e aspirações, e no entanto somos reduzidos a uma limitação insultuosa pela engrenagem que dinamiza a sociedade. Portanto, não é de espantar que a grande maioria das pessoas viva dentro de uma caixinha muito pequena de interesses. Limitam-se a seguir os produtos culturais impostos pela poderosa máquina de controle comportamental que é a indústria do entretenimento e suas ramificações e/ou variantes. As redes sociais são parte dela. A quantidade de pessoas que as utilizam para fins de entretenimento convencional é nitidamente maioria absoluta. Apenas um número reduzido de indivíduos lhes dá uso verdadeiramente informativo, pedagógico, técnico e artístico. Como resultado, temos a falta de rigor nos conteúdos informativos. A comunicação dá-se pelo rumor e por modelos pré-fabricados de interação. A mentira reina absoluta! E temos uma multidão de adultos infantilizados que reivindicam arrogantemente o direito à opinião sobre temas aos quais negam o estudo com o mínimo de método. Superstições como astrologia e afins, rumores pseudo-científicos de manchetes sensacionalistas, páginas generalistas que reproduzem a programação televisiva, discussões políticas pautadas pelo rasteirismo e pela calúnia, idolatria de vedetas absolutamente patéticas, insuportáveis tretas futebolísticas, toda uma sorte de egolatria patológica de pessoas que querem chamar a atenção a qualquer custo, etc. No meio disso tudo, os conteúdos relevantes e verdadeiramente informativos são escassos e se perdem em um ostracismo automático. São considerados enfadonhos. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">É muito fácil fazer um teste para comprovar a mediocridade normalizada. Faço-o muitas vezes, ora intencionalmente, ora por </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">acidente</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">. Qualquer pessoa pode fazer esse experimento sociológico, basta que analisem a reação desencadeada pelas suas próprias </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">postagens</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">: com toda a certeza, as que envolvem algo associado à cultura ególatra (como fotografias de comida, selfies de viagens a locais famosos, imagens de comunhão de amigos que transmitem felicidade, piadas fabricadas com jogos de palavras pré-estabelecidos, textos curtos e geralmente </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">engraçadinhos</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> sobre algo vivenciado ou opinando sobre algum assunto em voga) geram muito mais reações do que informação científica séria, material (escrito ou audiovisual) de valor artístico elevado - e, portanto, fora da cultura dominante - ou abordagens filosóficas de problemáticas políticas. Em geral, as pessoas buscam a diversão fácil e o reforço do ego. O </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Facebook</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> está organizado para que o nosso cérebro seja travado por um congestionamento de inutilidades e para que sejamos adultos acriançados incapacitados de um entendimento sóbrio e estruturado do mundo. O </span><span style="background-color: transparent; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><i>Instagram</i></span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, outra potente ferramenta, tem sido reduzida a uma partilha incessante de alimento ao ego. O que poderia ser um poderoso meio de difusão artística é utilizado para oferecermos ao mundo cada momento desinteressante da nossa vida transformado em fotos repetitivas que há muito ultrapassou os limites do patético e talvez até do patológico, porque há pessoas que realmente precisam de algum tipo de ajuda. A extrema necessidade de exibição e auto-afirmação só pode derivar de um distúrbio psico-social. A geração </span><span style="background-color: transparent; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><i>selfie</i></span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> espelha a derrota da virtude humana.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A energia que desperdiçamos discutindo erros de arbitragem ou intrigas pseudo-políticas é absurda. A entrega acrítica aos padrões comportamentais da cultura dominante é o que define a alienação em massa. O que deveria ser um espaço de livre partilha de informação e conhecimento se transformou num antro de auto-imbecilização. As redes sociais são ferramentas de lobotomização e através delas as massas são enfileiradas e </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">zumbificadas</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">. A gravidade desse fato é latejante quando essas redes sociais são a principal fonte de comunicação e informação das pessoas inseridas na modernidade tecnológica. O desperdício do potencial libertador da Internet é tão grotesco que a sua utilização perniciosa tem criado uma sociedade tecnológica de pessoas tão desinformadas e alienadas quanto supomos que sejam comunidades sem acesso a esses meios. Hoje, sinto-me radiante quando ouço alguém dizer que não possui um perfil no </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Facebook</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">. Olho para essa pessoa com espanto e com certa inveja. É um sentimento semelhante ao de quando alguém me dizia ser ateu em Aracaju. Não ter um perfil nas redes sociais não garante genialidade a ninguém, mas é deveras sugestivo que intencionalmente alguns indivíduos se neguem a fazer parte de uma dinâmica que acima de tudo promove a egolatria. Antes eu achava que era misantropia. Agora estou seguro de que na maioria dos casos se trata de uma postura de assinalável afirmação individual.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Ao contrário do que talvez fosse de se supor, as pessoas não deixaram de ver televisão. Isso é evidente. A diferença é que agora podem interagir em tempo real e trocar opinião acerca dos conteúdos televisivos. A utilização da Internet como extensão da televisão garante que a dominação cultural continue sendo imposta pelos mesmos de sempre. Quando há um importante jogo de futebol, posso saber como ele decorre em tempo real sem precisar em momento algum recorrer à sua visualização. O </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">feed</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> de notícias do </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Facebook</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> me mantém informado mesmo que eu não queira consumir tal informação. Em tempo real, as pessoas partilham o que se passa na partida. Refiro-me ao futebol porque as reações a ele são particularmente insuportáveis</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, mas poderia ser outro assunto </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">viralizante</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> qualquer. Vejam a loucura: o próprio </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Facebook</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> oferece uma ferramenta para controlar os conteúdos que visualizamos no </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">feed</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, mas isso é extremamente inconveniente para um rebanho que depende dessa dinâmica alienante para formar um protótipo de </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">opinião</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">. Há também quem se vicie em fazer críticas aos conteúdos partilhados pelos seus </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">amigos</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">. A fofoca, a tagarelice e a tentativa de chamar a atenção com pontuais arroubos de lucidez se revezam no mundo da egolatria. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Uma pergunta que faz todo o sentido agora é: </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">“Juliano, por que você simplesmente não desaparece da Internet?”</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">. Bem, não é tão simples assim. Embora esteja contaminada pela mediocridade, a Internet ainda pode ser gerida satisfatoriamente se soubermos tirar dela o que há de positivo. O próprio </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Facebook</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> contém algumas poucas páginas que se empenham em difundir apenas conteúdo com validade científica ou com elevado valor artístico, por exemplo. Ademais, há o incontornável problema de viver em ambientes multiculturais na Europa: as amizades distantes. O fato é que sobretudo por uma questão de comunicabilidade eu continuo utilizando as redes sociais. A difusão da minha criação artística é outro motivo. Mas eu não estou totalmente convencido de que essas necessidades não sejam uma consequência da dependência que as redes sociais geram. Os meus textos também englobam os meus próprios comportamentos e a auto-crítica é uma constante. Não pode ser diferente para alguém que deseje superar-se em racionalidade e espírito libertário. Todos somos influenciados em algum grau pelo meio em que estamos inseridos. Construir degraus de pensamento independente pode ser o antídoto para não sermos engolidos pela brutalidade dominante.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Parece-me impossível haver um consenso sobre como ter uma atuação dignificante e equilibrada na Internet. Há uma dose de subjetividade incontornável nesta questão. Mas parece-me possível estabelecer parâmetros de razoabilidade. Da minha parte, tento contribuir não fomentando o que tenho chamado de </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">dinâmica facebookiana</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">. Não sei se é o termo mais adequado, mas creio que ele seja de fácil compreensão. Em primeiro lugar, devemos ter uma postura crítica perante as informações. Difundir mentiras é tão grave quanto criá-las. A busca pela verdade dos fatos não deve ser nunca sobreposta pela necessidade imediata de chamar atenção ou de refutar o que quer que seja. Junto com as notícias falsas ou baseadas em rumores, a egolatria é o outro grande problema. Ela é uma deformação intelectual e deve ser combatida com veemência. Sua influência tem moldado uma geração de indivíduos mimados dispostos a chamar a atenção a qualquer custo. Nessa cultura ególatra, a minha opinião política, por exemplo, é menos importante do que o fato de ela ser minha. O que a justifica é ter-me envolvido e não a sua substância. Uma </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">selfie</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> minha numa paisagem natural deslumbrante não é uma celebração da natureza, ela é apenas imagem de fundo para realçar o meu ego. A negação da própria privacidade em nome da exaltação narcisista é o mandamento primordial das redes sociais. Não tenho nada contra a partilha de fotografia e seria estranho se tivesse, já que sou fotógrafo e admito vivermos no que alguns já chamam de </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Era da Imagem</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">. O problema começa quando utilizamos a imagem fotográfica desesperadamente para tentar convencer o mundo de que somos pessoas interessantíssimas com vidas invejáveis. Essa ilusão parece-me perigosa, e o que mais queremos nas redes sociais é que os nossos amigos a alimentem até estarmos empanturrados de tanta ilusão.</span></span><br />
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="white-space: pre-wrap;">É sintomático e desolador que as atuais gerações sejam as que mais têm acesso à informação em toda a história e ainda assim haja uma quantidade considerável de indivíduos - a grande maioria, suponho - que passa por este mundo sem compreendê-lo minimamente. E pior: apesar de todo o apelo egocêntrico, não conseguem organizar o sentido da sua própria existência. Estão tão ocupados com aparências que se esquecem da essência. Há um pântano de alienação no qual afundamos a todo instante mediante o peso da inconsciência. Ou reinventamos a utilização dos meios de comunicação e a nossa própria postura face ao consumismo tecnológico, ou estaremos condenados à desumanização. De uma forma de comunicação livre dos vícios alienantes depende a consciência que mantém viva a nossa humanidade.</span></span><br />
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="white-space: pre-wrap;"><br /></span></span>
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="white-space: pre-wrap;"><br /></span></span>
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="white-space: pre-wrap;"><i><a href="http://minhavidaliquida.blogspot.pt/2016/12/manifesto-sobre-o-estado-fisico-da.html" target="_blank">Manifesto sobre o estado líquido da matéria I</a></i></span></span><br />
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="white-space: pre-wrap;"><i><br /></i></span></span>
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="white-space: pre-wrap;"><i><a href="http://minhavidaliquida.blogspot.pt/2016/12/manifesto-sobre-o-estado-fisico-da_28.html" target="_blank">Manifesto sobre o estado físico da matéria II - A santíssima trindade</a></i></span></span><br />
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="white-space: pre-wrap;"><i><br /></i></span></span>
</div>
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">
</span>Juliano Mattoshttp://www.blogger.com/profile/11955728092822844407noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5481869326230673666.post-55194561844567530772017-01-31T14:17:00.001-08:002017-02-01T18:11:06.371-08:00Sanguessugas<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Hoje recebi um <i>e-mail</i> da autoproclamada maior editora literária de Portugal no qual a sua executiva me informava simpaticamente que a minha obra passara no teste de avaliação.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Seguiram-se as condições de publicação. Tudo parecia bem razoável, não fosse um <i>singelo</i> detalhe:</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><i>O autor compromete-se a adquirir 250 exemplares a 7,50€ cada</i>.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Um total de quase 2.000€.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Não mesmo!</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Ser escritor não significa ser otário, por mais que essas editoras <i>vanity presses</i> não pensem desta forma.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Ter de pagar pelo próprio livro é tatuar na testa um atestado de idiota.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Depois falei com um amigo que trabalha num grupo editorial que me disse o que eu já sabia: uma editora a sério paga aos autores para que sejam publicados e uma editora sanguessuga transforma o escritor em um mero cliente.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Não que as grandes editoras que pagam também não sejam sanguessugas, afinal o valor dos direitos autorais reservado ao escritor é irrisório e patético, mas é assim que tem funcionado o mercado editorial. Além disso, as editoras que pagam aos escritores são extremamente exigentes e é praticamente impossível ser publicado quem não tenha currículo, nome, fama e algumas cunhas, claro.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Cada vez mais a solução para quem não quer ser otário é tentar publicações por meio de financiamento coletivo ou até criar a sua própria editora.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O meio artístico é um dos mais fétidos, viciados e corruptos que há e o literário não foge à regra.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">É por isso que eu não compro livros de grandes escritores. Faço <i>download</i> dos (poucos) que me interessam. Pirateio mesmo! A quantidade de livros na minha estante não chega aos cinquenta e a maioria são obras antigas adquiridas em segunda mão ou mesmo gratuitamente.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Só considero justo e digno comprar livros de autores menores, anônimos, rejeitados. Da mesma forma só compro discos de artistas de rua ou independentes.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Cabe a nós fazer desmoronar as fortalezas que aprisionam a divulgação artística, sujeitando-a a meras perspectivas de lucro. Não é errado que uma editora pretenda lucrar com a venda dos livros ou discos que edita, afinal ela tem seus muitos custos. O problema é o lucro ser o único crivo editorial.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Como escritor, quero e devo ser editado e publicado. Mas recuso-me a tratar a minha criação como mercadoria.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Ela é arte, não produto.</span></div>
<br />
<br />Juliano Mattoshttp://www.blogger.com/profile/11955728092822844407noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5481869326230673666.post-77141778334054963092017-01-30T20:15:00.000-08:002018-04-03T12:46:29.805-07:00A pior das "pichações" é a publicidade<br class="Apple-interchange-newline" />
<br />
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhz7N9h7p7So7tgi6FCRFGzlZF0jumI32Pkiykt4G5sxL9NIJq2L_jveIyO4it3HEMsBG_Br4H9iNzhA83Hblb-IAxPQC-5lrEj2UgJnzLUs9-GOBn1ehNGzKh2L_anlbvl-BG0S2n20kXU/s1600/16195848_1286504458078009_889948653365791373_n.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhz7N9h7p7So7tgi6FCRFGzlZF0jumI32Pkiykt4G5sxL9NIJq2L_jveIyO4it3HEMsBG_Br4H9iNzhA83Hblb-IAxPQC-5lrEj2UgJnzLUs9-GOBn1ehNGzKh2L_anlbvl-BG0S2n20kXU/s320/16195848_1286504458078009_889948653365791373_n.jpg" width="320" /></a><span style="color: #444444; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O lema </span><i style="color: #f6b26b; font-family: times, "times new roman", serif;"><span style="font-size: large;">Cidade Limpa</span></i><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"> do engomado João Dória é</span><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"> </span><span style="font-size: large;"><i style="color: #f6b26b; font-family: times, "times new roman", serif;">marketing</i><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: medium;"> </span></span><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">de mau gosto e a sua perseguição - com todos os ares de acerto de contas - aos</span><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"> </span><i style="color: #f6b26b; font-family: times, "times new roman", serif;"><span style="font-size: large;">grafiteiros</span></i><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"> </span><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">numa guerra que ele não pode ganhar é o capricho de um</span><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"> </span><i style="color: #f6b26b; font-family: times, "times new roman", serif;"><span style="font-size: large;">playboy</span></i><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"> </span><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">que confunde a ocupação de um cargo público com autocracia. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">É um problema recorrente tanto desses <i>playboys</i> que se aventuram na política quanto dos políticos fisiológicos: não compreendem o que é um cargo representativo e julgam-se no direito de moldar a governança segundo seus caprichos tacanhos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O trono do poder deve ser mesmo aliciante (como não recordar a denúncia certeira de Bakunin?). Quem nele senta deve sentir aquele entusiasmo incontrolável que faz parecer que tudo o que suas mãos tocarem explodirá, como sentiu o coitado do Arthur Dent ao descobrir que seu amor por Fenchurch era correspondido. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Mas comparar o (ainda que fleumático) herói terráqueo desbravador involuntário do universo ao insosso João Dória é um desrespeito enorme a Douglas Adams, até porque Dória é um perfeito <i>vogon</i>. Ele não recita poesia regurgitante, mas seu ataque à arte dos <i>grafiteiros</i> já demonstra bem o que um sujeito elitista dotado de poder burocrático pode fazer a uma <i>cidade real</i> em que ele não vive. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Mas voltando à breguice da <i>Cidade Limpa</i> - um termo que até tem grande coerência se for entendido como <i>higienismo social</i> -, é evidente que o recém-empossado prefeito paulistano não está minimamente interessado na harmonia visual da cidade que desgraçadamente o elegeu.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Ora, o sujeito é, ademais, publicitário. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">E daí? Bem, fez-me lembrar de um <i>pequeno</i> aspecto totalitário da paisagem das cidades: a publicidade desenfreada e parasitária que se espalha feito câncer por cada vez mais cantos conforme a criatividade dos gestores urbano</span><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">s.</span><br />
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQs31Sp_7cFrb_mhBg22xksXXzXJW4YgEoBogS2cy5Zl1lcuRskPTV-JUqWEZR_pBobwqa8vcFjZxC7jkxjrMUukSoJ_9RK3_QE2WApR6kAfmOYScIXqD6YkY4imdl0WbKh26-RBe79vqO/s1600/263758_496576470383307_951952655_n.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="168" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQs31Sp_7cFrb_mhBg22xksXXzXJW4YgEoBogS2cy5Zl1lcuRskPTV-JUqWEZR_pBobwqa8vcFjZxC7jkxjrMUukSoJ_9RK3_QE2WApR6kAfmOYScIXqD6YkY4imdl0WbKh26-RBe79vqO/s400/263758_496576470383307_951952655_n.jpg" width="400" /></a><span style="color: #444444; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"></span><br />
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Haverá maior poluição visual de uma cidade que os painéis publicitários? No meio deles, grafites e meras pichações - que de certa forma são uma reivindicação provocativa do espaço público - são apenas detalhes de fundo. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Parece-me elucidativo e sintomático que um publicitário empossado prefeito ataque tão agressivamente a arte urbana em favor das paredes cinzentas. Não me espantará minimamente se em breve essas paredes forem ocupadas com ainda mais painéis publicitários de quem pode pagar para poluir o espaço urbano.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Porque a questão se resume exatamente a isso: quem pode pagar para poluir visualmente a cidade o fará tranquilamente e com todo o apoio de munícipes. Quem não pode, será criminalizado. E ainda haverá aquela trupe de liberalóides maravilhados com tamanha sacada, porque a poluição visual regularizada enche os cofres públicos (aí o sujeito vai lá e gasta uma fortuna para apagar murais de grafite).</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">No totalitarismo econômico em que vivemos, é normal que a publicidade seja um nicho religiosamente protegido e visto como uma arte e uma genialidade. Na ficção de Douglas Adams, os publicitários estão fatalmente naquela nave com o terço inútil da população do planeta Golgafrincham que havia sido programada pelos <i>Grandes Poetas do Círculo de Arium</i> para colonizar outro planeta bem distante e insignificante (na verdade para espatifar-se contra ele e nunca mais de lá sair).</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Falar em <i>Cidade Limpa</i> quando o apelo ao consumismo predatório e alienante polui cada metro quadrado possível só nos faz pensar que o termo é realmente uma referência ao higienismo elitista. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">As cidades são ambientes cada vez mais embrutecedores e alienantes. Têm sido selvas totalitárias onde o consumismo e o egoísmo imperam. Os corredores do poder fabricam gestores públicos bem enquadrados nessa lógica. Alguns são mais narcisistas, outros mais burocráticos. Quase nenhum sabe o que é a <i>cidade real</i> e quase todos têm uma perspectiva a partir das suas bolhas. No final, cumprem o papel de garantir o espaço urbano a quem pode pagar para utilizá-lo, por mais que seja uma utilização perniciosa ou que em nada o enriqueça culturalmente.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">A lógica da cidade sequestrada pelos interesses das elites é bem clara:</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>Quer poluir a cidade? Pague para isso. Sua poluição será chamada de arte e você de empreendedor. Não tem dinheiro para pagar? Sua arte será chamada de poluição e você de criminoso.</b> </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">A arte popular é relegada à marginalidade. Mas assim ela também se <i>desdomestica </i>e se torna desafiante. E é assim mesmo que ela tem de ser: livre, rebelde e perigosa. Tem de questionar, atrapalhar e reivindicar. Tem de desafiar o poder e nunca se atrelar a ele.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Os prefeitos passam e seus caprichos também. A arte é atemporal. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Um dia escrevi um poema a um músico de rua tcheco que apesar da avançada idade não se cansava de tocar seu saxofone e seu trombone na praça principal do centro histórico de Praga em meio a todo o ruído do turismo plastificado. Apesar de se tratar de uma manifestação artística distinta, dedico o poema aos <i>grafiteiros, </i>porque a luta é a mesma:</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><i>Passam transeuntes</i></span></div>
</div>
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><i>E turistas varridos</i></span></div>
</div>
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><i>Passa a brisa</i></span></div>
</div>
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><i>E o olhar dos mendigos</i></span></div>
</div>
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><i>Passam cavalos</i></span></div>
</div>
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><i>E seu ar de martírio</i></span></div>
</div>
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><i>E as gentes esnobes</i></span></div>
</div>
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><i>Que desfilam delírio</i></span></div>
</div>
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><i>As notas ecoam</i></span></div>
</div>
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><i>E invadem ouvidos</i></span></div>
</div>
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><i>Que se fazem ajustados</i></span></div>
</div>
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><i>Os mais providos</i></span></div>
</div>
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><i>Cada sopro é um esforço</i></span></div>
</div>
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><i>Um grito de alívio</i></span></div>
</div>
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><i>Que esbugalha os olhos</i></span></div>
</div>
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><i>E faz tremer os cambitos</i></span></div>
</div>
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><i>Passam os carros</i></span></div>
</div>
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><i>Seus roncos poluídos</i></span></div>
</div>
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><i>Que lhe ofuscam as notas</i></span></div>
</div>
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><i>Mas não lhe tiram o brilho</i></span></div>
</div>
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><i>Passam as modas</i></span></div>
</div>
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><i>A chuva, a neve e o frio</i></span></div>
</div>
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><i>Passa o verão</i></span></div>
</div>
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><i>Esmorece-se o brio</i></span></div>
</div>
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><i>E passam os anos</i></span></div>
</div>
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><i>E renova-se a vista</i></span></div>
</div>
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><i>Mas no coração da cidade</i></span></div>
</div>
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><i>Nunca passa o artista.</i></span></div>
</div>
</div>
Juliano Mattoshttp://www.blogger.com/profile/11955728092822844407noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5481869326230673666.post-2274185117002505242017-01-29T19:52:00.001-08:002017-01-31T18:31:48.973-08:00Um Mar De Revolta<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Páginas: 228 (37.625 palavras)</span><br />
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Primeira edição: Janeiro de 2017</span><br />
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Clique <a href="https://www.amazon.es/dp/1542808154/ref=sr_1_4?ie=UTF8&qid=1485746627&sr=8-4&keywords=juliano+mattos">AQUI</a> para comprar</span><br />
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Clique <a href="https://drive.google.com/open?id=0BwK02qQ5AkvRTVZueXRtZE5uV1k" target="_blank">AQUI</a> para fazer download gratuito em PDF</span><br />
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: xx-small;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiaI1dTp3Xv7t3_D2U19gu9Awk33HM5OhHlIeWMedabesfgFSWym7NHWISOAP_DG1HHCdaxGV5NEGvTob77B8vzXNzjJTOsTwTHotzbW_G4DEQX6A4SseLX61guLvnEL93HnggQ0S51c-ww/s1600/capa2_notexture.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiaI1dTp3Xv7t3_D2U19gu9Awk33HM5OhHlIeWMedabesfgFSWym7NHWISOAP_DG1HHCdaxGV5NEGvTob77B8vzXNzjJTOsTwTHotzbW_G4DEQX6A4SseLX61guLvnEL93HnggQ0S51c-ww/s320/capa2_notexture.jpg" width="213" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Nos últimos anos, o Brasil tem sido o palco de uma intensa batalha política que transborda os corredores do poder e inunda as ruas refletindo um conflito de classes sistematicamente negado pelas forças da normalidade partidária e do mainstream informativo, mas cada vez mais evidente. Com a criação de um tímido Estado Social sobretudo nas gestões Lula, esse conflito que se desenvolvia mais sorrateiramente veio à tona e escancarou as profundas fissuras na sociedade brasileira. O advento de grandes eventos esportivos – especialmente a Copa do Mundo – e de uma grave crise econômica serviu para agravar as tensões e aumentar as suspeitas de esquemas de corrupção generalizada que se confirmaram com a Lava Jato. As grandes manifestações de 2013 iniciaram um período de agitação social talvez nunca antes vista e alavancou rivalismos esfriados mas nunca cessados. De repente, o cidadão comum tradicionalmente alheio à política passou a reivindicar espaço no debate e logo o país se polarizou em dois grandes grupos à flor da pele. Direita e Esquerda passaram a ser termos cada vez mais abrangentes e vazios, servindo apenas para categorizar o que de alguma forma fosse entendido como inimigo. No meio de um fogo cruzado antropofágico, tornou-se difícil empreender debates equilibrados e estruturados na racionalidade e na lúcida argumentação. O ódio espalhou-se e por alguns momentos pareceu respirar-se o ar de uma autêntica guerra civil. Esta obra registra a participação de um cidadão brasileiro residente na Europa que tentou contribuir honestamente para a compreensão de uma realidade cacofônica e explosiva. Sem nunca negar a sua posição e as suas preferências ideológicas, o autor tenta discernir acerca de uma realidade tão distante e ao mesmo tempo tão próxima, assumindo o seu desejo de estar nas frentes de batalha em defesa da justiça social e do amadurecimento humano.</span></div>
Juliano Mattoshttp://www.blogger.com/profile/11955728092822844407noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5481869326230673666.post-50420299064174929342017-01-25T12:27:00.000-08:002017-01-25T17:25:39.990-08:00Qualquer coisa é mais bela que uma parede cinza<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Cidade que me pariu, mas que nunca me exauriu. A maior do hemisfério; seu tamanho é deletério. A cidade da garoa e do submundo. Centro da alta finança, calvário do <i>sujismundo</i>. Produto urbano do <i>desenvolvimentismo. </i>Antítese do humanismo. Engrenagem por excelência da santíssima trindade do delírio mercadológico: Trabalho, Consumo e Produtividade. A cidade que não pára e que não dorme. A cidade supersônica. A cidade que implode. De uma velha vanguarda tão tacanha e anacrônica. A cidade concreta: tão <i>líquida</i>. A cidade discreta que se auto-decreta. Urbe brutal que impiedosamente esmaga, hospedeira dos parasitas da alta nata.</span><br />
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Motor de um modelo falido, esconderijo de subversivos. Os negócios nefastos, a arte rebelde: capital da ação e da <i>reação. </i>Cidade de tantos mundos e de tantos muros: painéis de cimento subvertidos que reluzem vida em cores grafitadas. Murais desalmados por prefeitos engomados. A cidade do chauvinismo e da diversidade. A cidade de contrastes, a cidade da vaidade. A selva de concreto, do homem primata do capitalismo selvagem. A cidade dos guetos sociais, dos nichos culturais, das tribos urbanas, das mentes profanas. Do sonho mundano, de beltrano e cicrano. A cidade acinzentada pelo capricho de barões que não sentem sua vivência mas esbanjam seus brasões. O cinzento de muralhas tão elucidativo: o funcionalismo de uma urbe que é o seu paliativo. Funcionários funcionais: a caducidade da vida em rotinas tão banais que são zona de conforto desse vício tão mordaz de viver numa cidade que combate o que apraz. Santa produtividade que nunca é assaz na religião das catedrais, do mercado voraz. </span><br />
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">São Paulo, que é meu berço, também é minha maldição: imponente e venenosa, se ergue em contradição. É o antídoto do veneno do seu próprio ferrão. São Paulo que se rebela, mas que sempre passa a vez; gigante que é presa fácil quando reina a pequenez. Província megalópole; provincianos megalómanos. Estirpe urbana tacanha; tanta gíria e pouca manha.</span><br />
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Decerto que pariu filho que lhe preteriu: não sou herdeiro, não quero o seu trono. Vendida que está a infames patronos, da tua decadência não me desmorono.</span><br />
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<br />Juliano Mattoshttp://www.blogger.com/profile/11955728092822844407noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5481869326230673666.post-13853099512726749592017-01-22T11:58:00.000-08:002017-01-22T12:02:41.953-08:00Quem elegeu Trump...<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">...foi a negação da política. </span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Uma negação que torna o povo vulnerável a discursos demagogos e populistas.</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Foi a superficialidade e a intolerância. </span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Foi o orgulho da ignorância.</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Foi o provincianismo. </span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Foi a arrogância de quem se nega a pensar e exige que lhe deem respostas imediatas e simplistas para problemas complexos.</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">O que elege Trump é a mesma mediocridade intelectual que elegeu Hitler.</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">A mesma que pretende eleger Bolsonaro no Brasil, que vibra com <i>chacina de bem</i>, diz que <i>bandido bom é bandido morto</i> e acha que o machismo é divertido.</span></span></span><span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">A que fez o <i>Brexit</i> vingar.</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Ou a que transformou a Polônia numa semi-ditadura nacional-cristã e que mantém a sombra de Le Pen à espreita na França.</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Quem elegeu Trump, portanto, foram os discursos de ódio, o conservadorismo, o nacionalismo. Foi o medo da mudança - só um analfabeto político pode achar que o discurso de Trump representa algum tipo de alternativa.</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Negar o <i>mainstream</i> político, as figuras fisiológicas, não significa negar a política em favor de supostos novos heróis, de personificações. Negar o <i>mainstream</i> político é negar toda uma engrenagem social, política e econômica que só se reforça com Trumps e Bolsonaros.</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Quem elegeu Trump foi uma direita que sempre se esforçou para ridicularizar o ativismo político alternativo e sempre difamou os movimentos sociais.</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Foram os <i>papagaios</i> das redes sociais que criam o seu <i>pensamento</i> por meio de <i>memes</i>. </span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Foi um sistema eleitoral viciado totalmente favorável à plutocracia, ao qual chamam cinicamente de democrático.</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Quando as pessoas se negam a pensar e a dinamizar a concertação política para preguiçosamente se deixarem levar por individualidades demagogas fabricadas justamente para ecoar discursos rasteiros que caem muito bem a quem se satisfaz com a mediocridade da normalidade e do lugar-comum, surgem os Trumps.</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">No Brasil não surgiu apenas Bolsonaro. Surgiu o MBL, os Revoltados Online. Surgiu toda uma safra plantada pela negação da política.</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"> O primeiro passo para combater essa negação é a autocrítica, mas vivemos num período de polarização em que reconhecer erros é visto como sinal de fraqueza.</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">O segundo passo é a honestidade. No entanto, vivemos num momento de velocidade supersônica da (des)informação em que tudo vale para derrotar o <i>inimigo</i>.</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">O terceiro passo é a perseverança numa época em que todos parecem satisfeitos com clichês e discursos empacotados e qualquer coisa mais complexa que manchetes e rodapés é demasiado dispendioso para merecer atenção.</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Por sua vez, a negação da política é o primeiro passo para o fascismo.</span></span></span></div>
<br />
<br />Juliano Mattoshttp://www.blogger.com/profile/11955728092822844407noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5481869326230673666.post-42414629973342647362017-01-19T09:38:00.000-08:002018-02-14T02:58:13.442-08:00Em defesa da música brasileira<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #f6b26b;"><br /></span></span>
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #f6b26b;">Vou ser bem direto neste texto.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Revolta-me ver lixo sonoro enlatado proliferar-se na Europa (especialmente em Portugal) sob a designação <i>música brasileira</i>. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Como brasileiro fascinado pelas genuínas manifestações musicais <i>tupiniquins</i>, sinto-me ofendido a cada vez que alguém utiliza o termo para aludir à poluição sonora das modas estupidificantes que a indústria fonográfica inventa para se encher de dinheiro.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Sim, porque há gente se entupindo de grana com a ditadura da mediocridade que toma conta do mundo do entretenimento. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O Brasil é um cenário propício para esse tipo de <i>música</i> que não passa de um produto com valor meramente comercial: é para ser vendido durante um período de tempo até que seja substituído por outro produto igualmente sofrível do ponto de vista artístico e cair no esquecimento.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Culpados? Há muitos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">A começar pela indústria que em nome dos seus ganhos rebaixa o cenário musical brasileiro à podridão, ao <i>analfaburrismo</i>. Ela despreza a verdadeira expressão artística do país para transformar vedetas retardadas em ícones fugazes do show de horrores da cultura dominante plastificada. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Noutro dia abri um video no <i>Youtube</i> de um desses novos<i> hits</i> do que lamentavelmente convencionou-se chamar <i>funk</i>. Tinha mais de cem milhões de visualizações. Cem milhões! A batida exaustiva e igual a todas as outras do gênero servia para ritmar uma voz totalmente artificializada cheia daqueles efeitos que tentam esconder a falta de talento. A letra tinha um qualquer trocadilho pornográfico do qual felizmente não me recordo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Quando a experiência já passava os limites do insuportável e chegava ao intolerável lançando lufadas de ódio no meu estômago, concentrei-me nos videos relacionados. Abri quatro ou cinco até me dar por <i>satisfeito</i>. Todos tinham dezenas de milhões de visualizações.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Alguns daqueles sons aos quais eu me nego a chamar música não eram de todo desconhecidos, afinal eles costumam ser tocados nos estabelecimentos noturnos da cidade e eu, além de às vezes trabalhar como fotógrafo de balada, tenho atração pelo fel da noite.</span><br />
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">É claro que fujo dos locais que poluem a atmosfera e tratam os ouvidos alheios como sanitários. Mas nem sempre dá para escapar. A noite é o cenário das interações sociais e das relações dos indivíduos com as ofertas culturais. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">É aqui que aumenta a minha revolta.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Promotores culturais têm sido COVARDES ao privilegiar essas bizarrices em detrimento da verdadeira música brasileira que é muitíssimo bem representada por diversos músicos talentosos residentes no Porto. É um desserviço à cultura e à arte que indivíduos autodenominados <i>DJs</i> (e que se limitam a pressionar dois ou três botões para ecoar o mais fétido lixo sonoro das modas comerciais embrutecedoras) ocupem o espaço que deveria ser dos verdadeiros músicos que se esforçam para apresentar com qualidade repertórios genuinamente representativos da música brasileira.</span><br />
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">É por darem total espaço a essas baixarias que o português e o europeu comum acham que música brasileira é exatamente o lixo que lhes é impingido por quem importa essas contrafações sonoras. Se eu disser a alguém que gosto de música brasileira sem ter a devida preocupação em explicar o que ela de fato é, serei totalmente mal entendido, porque o que está automaticamente ligado ao termo são as porcarias comerciais descartáveis que infestam TVs, rádios e estabelecimentos noturnos.</span><br />
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Houve uma indevida apropriação e os brasileiros residentes no exterior deveriam ser os primeiros a denunciar a transformação de arte em lixo enlatado. Mas não o fazem porque já estão todos muito bem arregimentados pela cultura dominante.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Ademais, é de se lamentar que um público composto por estudantes universitários de classe média, com todos os acessos à cultura facilitados, se limitem a consumir e a difundir essas enganações como se fossem de fato <i>música brasileira</i>. O pretexto é sempre o mesmo: "é <i>dançante"</i>. Como se não houvesse música dançante de qualidade. Como se só fosse possível dançar ao som de batidas mecânicas de autênticas máquinas de produção de <i>hits</i> plastificados e de letras fúteis e manjadas, que não oferecem nenhum desafio mental e sequer são engraçadas. São a expressão da mais pura negação à cultura. São o triunfo da tacanhice e da mediocridade sobre a arte e a virtude.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">É lamentável que esse público tenha efetiva preferência por lixo sonoro GRAVADO e reproduzido por pseudo-DJs, desprezando noite após noite as verdadeiras manifestações ao vivo de música brasileira.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O apelo à ignorância e ao entretenimento vazio é poderosíssimo. Os ambientes noturnos se formam sob essa nebulosidade. O que se quer é um ruído ensurdecedor e gente rebolando com aquele sorriso patético no rosto. O pior é que esse lixo é reutilizável: há toda uma série de remix do</span><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"> remix do remix por meio dos quais vão sendo reaproveitados pedaços da podridão ano após ano, numa mixórdia grotesca do mais fétido mau gosto.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><i>Ah, mas gosto é como cu: cada um tem o seu</i>.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Balela! Essa é mais uma daquelas frases batidas que cai muito bem para quem tem preguiça de pensar. Equivale a algumas outras igualmente perniciosas, como <i>política e religião não se discutem</i>.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Ora, é perfeitamente possível fazer uma análise técnica da música. Há gêneros que se preocupam mais com letras e outros com melodias. Há expressões meramente instrumentais e há as que têm na mensagem a sua grande espinha dorsal. E depois há as modas apelativas que não possuem qualquer rigor artístico e só existem de fato para dar dinheiro a uns espertalhões que se aproveitam da miséria da cultura dominante.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Esses <i>funks</i>, <i>sertanejos universitários</i>; os <i>ai se eu te pego</i> da vida; os <i>pagodes</i> e <i>axés </i>dos anos 1990. Tudo isso obedece a uma lógica de mercado e não a uma dinâmica cultural. Vão desaparecer com a mesma velocidade com que surgiram, porque ao que tudo indica a capacidade humana em produzir lixo é infinita.</span><br />
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">É mais do que uma questão de gosto, aliás. Esses produtos são parte da estratégia de alienação do povo, uma estratégia que o afasta, por exemplo, da filosofia. Manifestações supostamente artísticas totalmente estéreis que não fazem ninguém pensar são um método de controle social.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">E antes que alguém pense em me acusar de elitismo, fica a dica: meus gêneros brasileiros de predileção nasceram e se desenvolveram, todos eles, na periferia e em ambientes populares. A começar pelo inevitável samba, que é uma das grandes maravilhas da cultura brasileira. O <i>Hip Hop</i> também está muito bem representado na periferia, com a contundência que o gênero talvez não encontre em mais nenhum lugar do globo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Noutro dia ouvi <i>não sei quem</i> dizer que não devemos julgar o <i>funk</i> ostentação e pornográfico porque ele tem origem na favela. Eu lamento profundamente que o povo mais carenciado, que tem o acesso à cultura e a arte sabotado, tenha de ser utilizado como escudo de defesa do indefensável. Esse <i>funk</i> (coitado do funk original) não tem virtudes - além de ser descaradamente machista. É espelho das carências intelectuais de um povo relegado à ignorância por elites políticas que não se preocupam em desenvolver verdadeiramente uma educação artística nas escolas e por uma mídia traiçoeira e oportunista que mercantiliza as expressões populares enlatando-as para que sejam vendidas como produtos de entretenimento com forte poder de distração e alienação e nenhum poder pedagógico.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Portanto, não há elitismo na minha crítica. Os lixos sonoros são subprodutos de uma realidade decadente. Como a própria criminalidade. Não pretendo que a favela ecoe em seus bailes a poesia de Chico Buarque, a filosofia de Belchior ou o drama da música clássica. Elas podem desenvolver as suas próprias expressões como tantas vezes já o fizeram sem precisar recorrer à <i>alta cultura</i>. A cultura popular pode ser extremamente rica e perspicaz do ponto de vista técnico caso não se desenvolva mediante os anseios de promotores do <i>mainstream </i>que são autênticos sanguessugas e só querem faturar com a decadência cultural.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Já os estudantes, os jovens de classe média que têm total acesso a tudo o que quiserem ter em termos culturais, deveriam repensar a sua postura. Eles não têm desculpas. São apenas desleixados, preguiçosos e ignorantes. Deveriam perceber que deles depende a difusão cultural. Se consumirem lixo, estarão colaborando para a intensiva produção de esterco vendido como arte. Se souberem ser seletivos, poderão favorecer quem deve ser favorecido, ou seja, os verdadeiros artistas que se sacrificam para carregar o bom nome da música. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Ou então inventem nomes para esses sons insalubres que ouvem, porque <i>música brasileira</i> não é. Nunca será. A música brasileira é atemporal; não morre e não é enlatada. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Respeitem a música brasileira e apoiem os seus artistas como apoiam as vedetas descartáveis. </span></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
Juliano Mattoshttp://www.blogger.com/profile/11955728092822844407noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5481869326230673666.post-73661655385453145732017-01-17T03:41:00.004-08:002017-01-28T10:35:09.082-08:00Atualizações literárias<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Acabei 2016 decidido a tornar 2017 um ano literário. Desde Julho tenho estado concentrado na concepção de um punhado de obras que devem ser publicadas durante este ano se tudo correr como planeado. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Escrever, escrever e escrever. Eis o grande prazer da minha vida trintona. Nada me satisfaz mais do que ver nascer do meu esforço textos linha após linha. E ter esses livros materializados é absolutamente pacificador com a sensação de se ter realizado algo verdadeiramente valioso e construtivo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Pois então Janeiro chega apenas ao meio e duas obras minhas já foram finalizadas e publicadas. Desta vez, optei por testar os mecanismos <i>online</i> da Amazon. Pode ser que ainda procure editoras para fazer relançamentos, mas para já vou deixá-los disponíveis na Internet. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O primeiro livro publicado foi a compilação <i>Significância Em Escala Poética</i>, que é uma atualização da minha primeira obra de poesia, <i>Travessa das Almas</i>, com novos poemas e textos introdutórios, reconfigurando toda a sua conceptualização. O segundo se chama <i>Criminalidade no Brasil: Um Desafio Humanista</i> e tenta ser um contributo ao debate polido e racional sobre um dos maiores problemas do país. Abaixo deixo uma descrição de ambos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Significância Em Escala Poética</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #f6b26b;">Páginas: 120 (10.442 palavras)</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #f6b26b;">Primeira Edição: Janeiro de 2017</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #f6b26b;">Disponível <a href="https://www.amazon.es/dp/1520328354">AQUI</a>.</span></span><br />
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #f6b26b;"><br /></span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKgdCoQwvYJTS51-PRU0MRymY3SmSHREzdeuQ8tdCFdfVYMQ1UCKNVF_zBWKJI0ZKpgZaCSEdNE_Awti6-bBnXDKpNWBKEgeG-_t9Dqj6s7ORAvLFhJhHPOZ6EowraSwsn46EqVp_M4ljt/s1600/capa1000px.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="color: #f6b26b;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKgdCoQwvYJTS51-PRU0MRymY3SmSHREzdeuQ8tdCFdfVYMQ1UCKNVF_zBWKJI0ZKpgZaCSEdNE_Awti6-bBnXDKpNWBKEgeG-_t9Dqj6s7ORAvLFhJhHPOZ6EowraSwsn46EqVp_M4ljt/s320/capa1000px.jpg" width="213" /></span></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"> <span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large; font-style: italic; text-align: justify;">Significância Em Escala Poética é uma compilação de poemas escritos ao longo dos últimos três anos sob a diversificada ambiência das quimeras noturnas e vivências multiculturais. Seu autor, um imigrante brasileiro na Europa, expõe suas experiências catárticas, libertinas e etílicas, bem como seus devaneios filosóficos, suas ideias políticas e seus sentimentos afetivos. A obra nos leva a uma viagem pelo submundo da boemia europeia, das confrarias estudantis, da promiscuidade, da decadência urbana, das amizades inspiradoras - ainda que fugazes -, dos amores, recantos, encontros e desencontros. Mostra-nos uma vida diluída e espalhada numa amálgama de percepções, desejos e acontecimentos pitorescos, e refletem, indubitavelmente, os anseios de uma geração perdida em suas próprias complicações, atordoada pelos seus vícios e complexidades. Quase chega a ser um manifesto político revolucionário em função do sufoco espiritual provocado pela inércia de um país em crise cujos jovens permanecem distraídos pelos produtos de entretenimento alienantes. Todavia, este livro é sobretudo um desabafo substancialmente intimista de um indivíduo solitário no meio de tantas pessoas e experiências, clamando por um sentido numa vida que parece rumar vertiginosamente à loucura enquanto os anos passam em altas translações. Ao lê-lo, o leitor terá uma noção do submundo de algumas localidades europeias e receberá relatos em primeira pessoas de uma realidade que talvez pouca gente conheça e que emana toda a convulsão de uma atualidade a que o sociólogo polonês Zygmunt Bauman chamou </span><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large; text-align: justify;">modernidade líquida</span><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large; font-style: italic; text-align: justify;"> e a que o autor chama </span><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large; text-align: justify;">imediatismo mágico</span><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large; font-style: italic; text-align: justify;">.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large; text-align: justify;"><span style="color: #f6b26b;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large; text-align: justify;"><span style="color: #f6b26b;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large; text-align: justify;"><span style="color: #f6b26b;">Criminalidade no Brasil: Um Desafio Humanista</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large; text-align: justify;"><span style="color: #f6b26b;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif; text-align: justify;"><span style="color: #f6b26b;">Páginas: 70 (9.205 palavras)</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif; text-align: justify;"><span style="color: #f6b26b;">Primeira Edição: Janeiro de 2017</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif; text-align: justify;"><span style="color: #f6b26b;">Disponível para compra em breve.</span></span><br />
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><a href="https://drive.google.com/open?id=0BwK02qQ5AkvRV3R1TTdkMUFwWFU" target="_blank">Download gratuito em PDF</a><span id="goog_1557264549"></span><span id="goog_1557264550"></span><a href="https://www.blogger.com/"></a>.</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEinR6nFIMkOs-NnUVPgcnhGwB0l7Wq_Uoxf_u82Fdq1YQFxUEHF5WLJvt8zqaKRacJFBnY-lAUKYBGNdp39yw0sHNcxJVYzmv8kJgfkL3LVC6F6IkleuARJsxqEPekZ6m3Vlr5ralSmTW1A/s1600/capa_contracapa_lateral_final+%25281%2529.jpeg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="color: #f6b26b;"></span></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWc4uRECX8k_K_VImGAjeNYoGpY7Vna7d1ia1NLi3OSwqauXhpshBJaEeObg8fpVYtiissDN8Kg1ACvYoMLT2o8ac1dah9Z6nK8nI0lPQfPUK4HFZ1y_t_iIcfNH-I05SjB6rQyHVRKT8Q/s1600/capa2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWc4uRECX8k_K_VImGAjeNYoGpY7Vna7d1ia1NLi3OSwqauXhpshBJaEeObg8fpVYtiissDN8Kg1ACvYoMLT2o8ac1dah9Z6nK8nI0lPQfPUK4HFZ1y_t_iIcfNH-I05SjB6rQyHVRKT8Q/s320/capa2.jpg" width="207" /></a></div>
<span style="text-align: justify;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><i>O problema da criminalidade é um dos grandes desafios da sociedade brasileira e os tremendos fracassos sucessivos apontam para a necessidade de um novo paradigma que reoriente as políticas de segurança pública, os métodos punitivos e invariavelmente as questões de distribuição de renda. Perante um flagelo crônico arraigado à complexidade da realidade brasileira, é urgente que haja um amplo entendimento sobre as origens da criminalidade e sobre as formas de a combater dentro do Estado de Direito, preservando conquistas fundamentais estruturadas ao longo de décadas de desenvolvimento ético e moral. O desafio mostra-se ainda maior em função da existência de um ambiente tenso em que figuras com influência política conseguem incutir na mente dos cidadãos ideais demagogos que se difundem com o apelo à barbárie do justiceirismo popular violento. A cultura de vingança difundida com mensagens de ódio tem intoxicado o debate e impedido uma participação popular equilibrada e empenhada na mitigação de um problema que faz sangrar um país politicamente rachado. No meio de tanta cacofonia inconsequente e tanta confusão de interesses políticos e ideológicos, é necessário fazerem-se ouvir as vozes que propõem ideias alternativas à barbárie e que tentem encontrar um caminho para a resolução de uma situação que assume todos os contornos de crise humanitária. Esta obra tenta contribuir como um ponto de partida para a abordagem racional do problema, reforçando a necessidade de assegurar os direitos humanos.</i></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="text-align: justify;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="text-align: justify;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="text-align: justify;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Pretendo anunciar novas publicações durante os próximos meses. Mais dois títulos aguardam detalhes finais para que sejam publicados. São eles a <i>Antologia Maldita do Jingoísmo Ludopédico</i>, que é uma compilação de ensaios críticos sobre a indústria do futebol moderno, e <i>Um Mar De Revolta: O Terremoto Político Brasileiro Sentido Do Outro Lado Do Atlântico</i>, sobre os últimos três anos de discrepância política e ideológica no Brasil.</span></div>
<br />
<br />
<br />Juliano Mattoshttp://www.blogger.com/profile/11955728092822844407noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5481869326230673666.post-49145116042734469012017-01-15T13:00:00.000-08:002017-01-16T01:50:22.636-08:00Associação Internacional dos Comentadores de Internet<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">A AICI (Associação Internacional dos Comentadores de Internet) informa orgulhosamente que vários níveis de imbecilidade humana têm sido superados amplamente nos últimos anos e reconhece sobretudo o esforço da sua afiliada no Brasil, a ABCI (Associação Brasileira dos Comentadores de Internet), em desenvolver intoxicação a partir da destilação de ódio.</span></div>
Juliano Mattoshttp://www.blogger.com/profile/11955728092822844407noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5481869326230673666.post-63173421398954784952017-01-09T11:46:00.001-08:002017-01-10T01:58:42.475-08:00Hoje o mundo ficou mais líquido<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdYgqFnsP3H7ZbMWNzFW37NKf2G8zjsui4zAKrXlqNBxQkQoBLzgMMJEXQPZbMgIdTswz7dJ0O58OKcO1llwB-2K4gDU3BCbLAk5Pb1Nbe36r2Jrbak-hAHT8qGVTdYEZczbAgWnlhib2E/s1600/xulio-formoso_zygmunt-bauman.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><br /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjAnvyzIvk0wgwmv2R8zfV3UOmtXDTZPCaD_wy-uDd-caUPPK8GFhSUNI9DUV7OBrEzKiG97TamG_f3RJ225rdzX4J2b_aznYJaRhHyqUAUbJK5RcxLsCf_y5wvg7M89DooCBENV5xiKmVa/s1600/xulio-formoso_zygmunt-bauman.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjAnvyzIvk0wgwmv2R8zfV3UOmtXDTZPCaD_wy-uDd-caUPPK8GFhSUNI9DUV7OBrEzKiG97TamG_f3RJ225rdzX4J2b_aznYJaRhHyqUAUbJK5RcxLsCf_y5wvg7M89DooCBENV5xiKmVa/s320/xulio-formoso_zygmunt-bauman.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Zygmunt Bauman morreu hoje.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Justamente quando acabo de publicar um livro de poesia inspirado no seu conceito de <i>modernidade líquida</i>. Há cerca de um ano eu iniciava este <i>blog</i> com o intuito de desenvolver um estudo baseado no seu pensamento. Peguei-lhe emprestado o conceito para utilizá-lo como ponto de partida de tudo o que é aqui publicado. </span><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Tenho mais dois livros fortemente inspirados na temática <i>liquidez</i> e tenciono publicá-los ainda durante este semestre. Meu objetivo é contribuir para uma compreensão do fenômeno sociológico da atualidade, apontando os seus sintomas e consequências.</span><br />
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Seu profundo estudo sobre a <i>modernidade líquida</i> é absolutamente imprescindível para a compreensão da atualidade. Não posso deixar de recomendar especialmente as seguintes obras:</span><br />
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Vida Em Fragmentos (1995)</span><br />
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Modernidade Líquida (2000)</span><br />
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">A Sociedade Individualizada (2001)</span><br />
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Amor Líquido (2003)</span><br />
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Vida Líquida (2005)</span><br />
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Medo Líquido (2006)</span><br />
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Vida Para Consumo (2010)</span><br />
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Aprendendo A Pensar Com A Sociologia (2010)</span><br />
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Capitalismo Parasitário (2010)</span><br />
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">44 Cartas Do Mundo Líquido Moderno (2011)</span><br />
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Cegueira Moral (2014)</span><br />
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Quase todos os títulos estão disponíveis para download <a href="https://lelivros.pro/?x=0&y=0&s=bauman">aqui</a>.</span><br />
<br />
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">RIP Zygmunt Bauman.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">E obrigado!</span></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
Juliano Mattoshttp://www.blogger.com/profile/11955728092822844407noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5481869326230673666.post-23550559460335863282017-01-01T20:10:00.000-08:002017-01-03T22:06:52.610-08:00Jardim das Flores Mortas<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="font-size: large;">Um hábito comum que as pessoas têm a cada fim de ano é fazer re<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">trospectivas</span>, ponderações<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">,</span> balanços e planos. O calendário transmite a ideia de que uma etapa da vida se acaba e outra começa, embora não passe de ilusão em grande parte para padronizar comportamentos e manter a todos eternamente esperançosos em melhorias dentro de um estilo de vida que foi perpetrado para os sacrificar. </span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="font-size: large;">Ademais, é impossível, na <i>modernidade líquida</i>, que um ano seja realmente uma unidade tão rígida, uma única etapa. 365 dias passam cada vez mais rápido mas também são cada vez mais complexos.<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"> </span>No segundo mês de 2015, por exemplo, eu já implorava desesperadamente para que ele acabasse. No entanto, e em função de uma série de eventos que se foram desencadeando, ele acabou sendo um ano satisfatório, até positivo, cheio de superações e rumos improváveis. Foi um ano <i>experimental </i>(fiz oito tatuagens, um <i>piercing</i> na sobrancelha e outro no pescoço sob a nuca - sim, no pescoço! -, tive vários empregos malucos, etc...), em que a <i>liquidez</i> se fez implacável mas de alguma forma eu parecia conseguir certa estabilidade em meio a todo o caos.</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="font-size: large;">Tudo se diluiria novamente nos últimos dois meses. Posso dizer que 2016 começou, para mim, em Novembro de 2015. Decisões mal tomadas, rumos mal planeados e especialmente prioridades equivocadas...</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="font-size: large;">Já 2016 foi um ano de revelações. Revelações duras como aquele velho pão petrificado que quase nos parte os dentes. E de ainda mais duras aprendizagens. Os dias satisfatórios corresponderam exatamente à duração do festival Andanças nas inóspitas terras alentejanas: sete dias. Todos os outros 358 dias só não foram um total desperdício de tempo e energia porque nos últimos seis meses empreendi projetos literários com a seriedade que nunca antes lhes reservara. Entro em 2017 com dois livros praticamente finalizados e mais dois já bem avançados, além de pretender reeditar pelo menos um dos meus dois livros de poesia.</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="font-size: large;">O legado de 2016, as revelações e aprendizagens, estão ligadas às relações que nós, <i>flores urbanas</i>, estabelecemos neste jardim de concreto cuja impermeabilidade impede que a sua própria podridão seja escoada. Se eu pudesse resumir esse legado em fragrâncias, elas seriam mais a inhaca de <i>traição</i>,<i> egoísmo</i>, <i>falsidade</i> e <i>ingratidão</i>. Conheci o amargo néctar de cada uma delas durante todo o ano e sobretudo (definitivamente) a partir do verão. Fui traído pela pessoa de quem eu era o melhor amigo. A pessoa por quem exclusivamente me comprometera com ideais assentes na noção de empatia durante dois anos. Se nesta vida eu já me sacrifiquei por alguém ao extremo e de forma totalmente desinteressada, foi por ela.</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="font-size: large;">E a retribuição que tive não foi nada além daquelas quatro palavras. Nas coisas simples e <i>insignificantes</i> eu podia ver com clareza toda a perpetuação da injustiça: eu, vegano, cheguei a preparar-lhe alegremente omeletes de ovos e queijo, traindo meus próprios princípios e lutando contra a repulsa que aquilo me causava. Ela, por sua vez, foi a <i>única</i> pessoa de todas as minhas amizades mais próximas que <i>nunca</i> me enviou um cartão postal, apesar de saber da minha coleção e de eu pedir-lhe vezes sem conta. Sou um grande observador das <i>pequenas coisas</i> e acredito que nelas estão as revelações do sentido da vida, além de serem deveras elucidativas dos comportamentos à escala humana.</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="font-size: large;">Não que a gratidão devesse ser uma obrigação. É exatamente o contrário: em relações saudáveis e equitativas ela se manifesta como essência das mesmas. E o mínimo que devemos esperar de pessoas com quem estabelecemos forte ligação afetiva é uma influência não destrutiva em nossas vidas. Pessoas que se apoiam tanto em nós deveriam ao menos estar propensas ao apoio mútuo e à reciprocidade.</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="font-size: large;">Desde que rompi com ela como derradeira tentativa de fazê-la abrir os olhos e repensar a sua postura - o que não aconteceu -, o que havíamos construído se desmoronou e eu cheguei à inequívoca conclusão de que a nossa relação foi um desperdício de tudo o que ela implicava, incluindo inspiração poética. Como se tratava da pessoa mais íntima com quem eu me relacionava, a mais próxima e aparentemente mais cúmplice, toda a percepção das relações sociais foram sacudidas e ainda pairam nas alturas da minha mente, baralhadas e sem sinais de que regressarão aos seus lugares. Descobri definitivamente que aquela intimidade, proximidade e cumplicidade não eram nada mais do que falsidade e dissimulação. Eu era como uma loja de conveniência <i>non stop</i> aberta exclusivamente a um cliente que a ela recorria apenas caso não houvesse outra opção ou caso sentisse<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"> que </span>tiraria algum benefício pessoal imediato.</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="font-size: large;">O termo <i>imediatismo mágico, </i>utilizado por mim como complemento ao <i>modernidade líquida, </i>provém exatamente do egoísmo de <span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">quem se </span>aproveita maquiavelicamente de pessoas para satisfazer os seus caprichos. Seu comportamento intransigente provocado pela vontade imediata é um dos efeitos mais nefastos do nosso mundo atual, ele próprio em vertiginosa transformação e nela espelhado tão fidedignamente.</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="font-size: large;">Nos últimos meses de 2016 algo mudou dentro de mim. Minha esperança nas pessoas e nas amizades se desintegrou. Andará agora espalhada em pequenos fragmentos flutuantes consoante a direção dos ventos invernais que se fazem soprar. Afastei-me de todas as pessoas, mantendo apenas algumas relações mais esporádicas, porque neste momento não confio sequer na minha própria sombra. Tenho consciência da existência de flores confiáveis, flores genuinamente bem cheirosas. Mas exatamente para não ser-lhes injusto é que tenho procurado afastamento e isolamento neste jardim soturno. Nos últimos meses flagrei-me sendo um elemento negativo na vida de algumas flores justamente devido ao desnorteio causado pelo descomunal desgaste daquela quimera verdadeiramente distópica com uma flor espinhosa a quem eu gostaria de nunca ter conhecido e muito menos deixado estabelecer-se em meu canteiro. Não consigo imaginar neste momento um arrependimento maior do que este.</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="font-size: large;">Até que eu reagrupe a esperança e reassente as percepções poderá levar muito tempo. Talvez 2017 não seja suficiente, embora esta seja a única coisa que dele espero se me puser a fazer desejos como fazem os outros. Mas não sou de superstições. Eu cometi o grave erro de deixar entrar <span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">na</span> minha vida qualquer pessoa que se apresentasse com um sorriso simpático. Hoje sei que não posso deixar entrar quem quer que bata à porta, porque vivemos num mundo cujas relações estão submetidas a interesses egoístas, a cálculos de conveniência. Sobretudo, aprendi que comportamentos infantilóides e irresponsáveis são traiçoeiros e devem ser evitados por mais atraentes que possam parecer.</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="font-size: large;">Aprendi também que a minha dignidade e o meu bem estar não podem estar sujeitos aos caprichos interesseiros e calculistas e absolutamente abestalhados de pessoas que não sabem medir a sua <i>pegada social</i> e o impacto das suas atitudes nas vidas que com elas se relacionam. Que maldade e crueldade nem sempre se apresentam como monstros e que podem estar bem disfarçadas com belas máscaras e ter um carisma sedutor enquanto escondem bestialidade e embrutecimento.</span></span></span><br />
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></span>
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="font-size: large;">Percebi que há flores aparentemente cheias de vida que estão, se não mortas, espiritualmente envenenadas<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">.</span></span></span></span><br />
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></span><span style="color: #f6b26b;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="font-size: large;">Que a ilusão de podermos redimir e transformar pessoas perdidas em vícios perniciosos não passa exatamente disso. São ilusões perigosas e intoxicantes. E que essas ilusões nos podem custar, além da saúde mental e física, a própria relação com pessoas que valem a pena.</span></span></span><br />
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></span><span style="color: #f6b26b;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="font-size: large;">2016 mostrou-me que a injustiça é brutal e que a impotência perante ela é corrosiva. Exibiu-se-me a face mais cruel do egoísmo humano. Uma face que desfere sua maldade com indiferença e é capaz de seguir a vida sem sentir quaisquer remorsos. </span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="font-size: large;">A introspecção em que agora me <span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">encontro</span> responde a duas necessidades: reorganizar-me e finalizar o meu exercício literário sobre o <i>imediatismo mágico, </i>o qual já havia iniciado antes do desfecho dessa história de terror exatamente por eu estar preocupado com o rumo que as relações humanas estavam tomando à minha volta. Tenho desenvolvido o <i>Manifesto sobre o estado físico da matéria</i> (que já tem as partes I e II publicadas neste blogue) como apresentação desse estudo sociológico que tem como objetivo contribuir para o combate à desumanização, no qual se por um lado não nutro ilusões de vitória, por outro garanto leveza na consciência. A forma como estamos numa relação, seja ela qual for, mostra muito daquilo que somos.</span></span></span><br />
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></span>
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="font-size: large;">Já este texto não é um mero desabafo contra uma situação particular. Ele é parte do estudo, embora uma parte delicada por corroer-me as entranhas. Sua leitura até poderá levar em conta o caso específico, mas sua abordagem encontra grande abrangência na atualidade e certamente poderá ter aplicabilidade em outros casos semelhantes que pautam o nosso mundo. Por conseguinte, desenvolver uma consciência equilibrada sobre o fenômeno social bem identificado é o que pretendo como ponto de partida para o combate à artificialização das interações humanas.</span></span></span><br />
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></span>
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="font-size: large;">A metáfora das flores não surgiu por acaso. Um dia, há mais de dois anos, fui agraciado com uma flor literalmente morta pela pessoa que fez de 2016 um ano revelador para mim. Como consequência disso, escrevi-lhe um poema intitulado <i>Flor Morta</i>, no qual, apesar do nome, a homenageio. Depois escrevi um livro de poesia chamado <i>Jardim das Virtudes</i>, fazendo alusão a um local da cidade do Porto que nos marcara. Ela é a única pessoa que possui um exemplar físico dele. Nem eu o tenho, porque aos poucos me fui apercebendo de que havia algo substancialmente errado nele. Hoje, desintoxicado <span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">d</span>a toxidade traiçoeira daquela flor de espírito envenenado, consigo perceber o que havia de errado. Sua reedição tratará de corrigi-lo e seu novo nome será o título que encabeça este texto.</span></span></span><br />
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></span>
<span style="color: #f6b26b;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="font-size: large;">Ele será uma homenagem a todas as flores vivas que exalam benevolência e atuam solidariamente pela harmonia de todo o jardim.</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Juliano Mattoshttp://www.blogger.com/profile/11955728092822844407noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5481869326230673666.post-82364839552319171222016-12-28T18:21:00.000-08:002018-04-03T11:07:50.534-07:00Manifesto sobre o estado físico da matéria II - A santíssima trindade<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Um dos muitos motivos da minha inadaptabilidade a esta sociedade é o fato de eu não conseguir lidar com dinheiro e competição. Sou, sem exageros, um zero à esquerda cheio de casas decimais zeradas depois da vírgula. A minha incompetência nesta lide seria de uma singularidade assombrosa mesmo em ambientes de relações sociais desmonetarizadas, porque os meus mecanismos de competição - se é que os possuo integralmente operacionais - sofrem de uma crise moral crônica que emerge cada vez que participo de algum tipo de negociação. </span><br />
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Por outras palavras, eu simplesmente não sei ganhar dinheiro. E quem não sabe ganhar dinheiro nesta sociedade que venera a santíssima trindade formada pelo Trabalho, pela Produtividade e pelo Consumismo é um idiota inútil, relegado à sarjeta e ao ostracismo enquanto os idiotas úteis, como economistas, gestores, investidores e advogados, além de uma casta dita menos nobre de profissionais liberais patéticos mas não menos idiotas úteis, desfilam pelas trincheiras reluzentes da vanguarda do <i>progresso</i>. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Num mundo organizado para ludibriar os que aceitam o sacrifício laboral como grande virtude da humanidade sujeitando-se passivamente à sua engrenagem em busca das pequenas ilusões compensatórias, a maior maldição é não ser um idiota útil. Há um discernimento adquirido pela observação e questionamento dos valores vigentes que reforça a maldição, embora eu esteja quase convencido de que no meu caso ela seja substancialmente inata. Minha incompetência para competir impiedosamente e organizar a vida em torno de objetivos materialistas não filosóficos remonta aos primórdios da minha existência.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">A questão não é apenas aceitar submeter-me a ocupações insatisfatórias sob as ordens de um idiota útil (em comunidades saudáveis, esclarecidas e solidárias, essa chantagem seria considerada a pior das afrontas e não uma convenção negocial perfeitamente banalizada). Trocar tempo e esforço - físico ou intelectual - por dinheiro não me faz todo esse sentido que os senhores da nossa cultura vendem como filosofia moderna e até como ciência, mas o próprio impulso fulcral de toda essa engrenagem, que pode ser traduzido como <i>o seu prejuízo é o meu benefício e a sua desgraça é a minha redenção, logo farei tudo para que você seja prejudicado e desgraçado</i>, é para mim abjeto e insuportável. Como vivo dentro da sociedade, é impossível não fazer dele uso ocasional, às vezes involuntariamente, outras para prevalecer num cenário adverso, num momento de fraqueza. Mas como estilo de vida, como postura prática arraigada a preceitos ideológicos, é tudo aquilo que deve ser combatido com afinco.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Nunca consegui estar acostumado à concertação das relações laborais, embora esteja sujeito a ela como todos os outros cidadãos economicamente dependentes (leia-se <i>não milionários</i>). Noutro dia, numa conversa descontraída com uma amiga enquanto tomávamos o último banho de sol do ano antes do inverno desabar sobre nós, informei-lhe de que a gerente de um estabelecimento em que costumo laborar em turnos madrugadeiros me pedira para fazer a noite do <i>Reveillón</i> e que eu lhe havia respondido positivamente (dos tradicionais festejos de fim de ano, a única coisa que eu quero é que Janeiro não se atrase mais do que o costume). A minha amiga compreendeu a decisão de imediato, dizendo que por <span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">uma boa quantia </span>val<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">eria</span> a pena. Mas a conversa via <i>sms</i> com a gerente não contemplara em momento algum valores e sequer passara-me pela cabeça falar disso. <span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Ela</span> me aconselhou a cobrar <span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">o que costuma ser o</span> valor normal de uma jornada na noite de <i>Reveillón</i><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">, que corresponderá<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"> a uma multiplicação do<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"> montante que recebo por<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"> jornada</span></span></span></span>.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Não sei como ela, uma pessoa relativamente tímida, faria para abordar a questão. Eu, uma pessoa relativamente não tímida (ou um relativamente bom ator), não tenho a mínima ideia. O desconforto que me aflige só de pensar nisso é manifesto. A ideia de trabalhar apenas por dinheiro é desoladora. Tenho formação acadêmica em ciências geográficas, pelo que se quisesse empanturrar-me de dinheiro, já que eu até tinha algum jeito, bastaria deixar-me seduzir pelo mercado de trabalho onde a minha área de formação tem peso (mas a minha sensibilidade não está para o mercado da mesma forma que a sua neura não está para os meus caprichos humanistas anti-mercantilistas). Exigir dinheiro nunca foi índole minha. Mas ser idiota útil também não. E trabalhar passivamente sem exigir direitos é coisa de idiotas ainda mais úteis do que quem trabalha exigindo-os ativamente.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O mais habitual em situações dessas é <span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">ser prudente<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"> sem se deixar<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"> ludibriar</span></span></span>, <i>estando</i>, para todos os efeitos, idiota útil sem no entanto deixar de <i>ser</i> idiota inútil (uma das maravilhas da língua portuguesa é ter um verbo para uma condição temporal e outro para uma condição permanente). Na verdade, eu aceitaria <i>estar</i> idiota útil por muito tempo naquele estabelecimento, porque<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"> apraz-me o seu ambiente multicultural e nele tenho a oportunidade de<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"> evitar o fastio</span></span> <span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">lendo</span>, escreve<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">ndo</span> e edita<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">ndo</span> fotografias.<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"> </span></span><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Todos temos de exigir nossos direitos e eles contemplam um salário digno e condizente, mas são as<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"> </span>convenções<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"> responsáveis pel<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">a hie<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">rarquização do trabalho com base na propriedade que devem ser <span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">confrontadas <span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">se queremos cortar o mal pela raiz e não<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"> <span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">apenas aparar galhos<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">, <span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">ampliando, assim, o nosso<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"> sacrifício como m<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">árt<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">ires da eng<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">renagem</span></span></span></span></span></span></span></span></span>.</span></span></span></span></span></span></span></span> Onde quero chegar, meus caros idiotas úteis ou inúteis, é que <span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">a noç<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">ão capitalista de</span></span> trabalho é um esterco intragável exatamente como as outras duas divindades da santíssima trindad<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">e<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">. </span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Aliás, esterco nada; merda mesmo, sem falsa diplomacia. Uma merda fedorenta. Por meio dessa santíssima trindade a sociedade disseminou doenças psicológicas degenerativas de mentes e incapacitantes de corpos. Sobre ela estão estruturadas indústrias perniciosas como a farmacêutica e como as terapias, especialmente as <i>místicas</i>. Nela se alimenta a indústria do entretenimento e suas drogas psicotrópicas alienantes, como futebol, programas de auditório e novelas. Aliás, como todo o conteúdo das diversas emissoras de televisão. E isto para não desnortear o texto do tema, porque as indústrias do armamento, do petróleo e das novas tecnologias acenam mandando lembranças.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Tenho considerado o pior tipo de pessoa aquela que, numa situação de discussão, discórdia ou antagonismo (seja ideológico, seja de qualquer outra ordem), utiliza-se de um pomposo <i>vá trabalhar</i> como cartada final <i>argumentativa</i> recheada de pretensa superioridade moral. Se eu fosse uma pessoa fria ou se tivesse desistido totalmente da redenção humana, teria sempre na ponta da língua um v<i>á trabalhar você, idiota útil, se acha que o trabalho liberta ou dignifica. Escravize-se ainda mais do que já é escravizado, ultrapasse largamente - de bom grado e sorridente - o limite da jornada diária. Embruteça-se numa vida enfadonha, desperdiçada numa função sem sentido para que o patrão (ou o patrão do patrão, ou o patrão do patrão do patrão) possa desfrutar de uma vida que você nunca terá. Para compensar, afunde-se nas drogas pesadas do entretenimento lobotômico até morrer no esquecimento após jamais ter de fato vivido.</i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><i><br /></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Como não sou frio e nem desisti totalmente da redenção humana, continuo sendo apenas rabugento, alternando picos de impaciência catártica com ondulações de assinalável fleuma. E digo tudo aquilo de forma, digamos, mais subliminar.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Se não há como eu combater definitivamente a santíssima trindade, também ela não me conseguirá seduzir. Contra a sua sedução traiçoeira interponho a virtude da arte. Mas quando digo que abomino o trabalho, refiro-me à sua concepção como elemento da santíssima trindade da religião capitalista. A palavra encerra valores tão abomináveis que me nego a utilizá-la para designar atividades positivas e destacadamente sublimes. A minha arte, que é uma criação e não uma produção (eis outra palavra abominável dentro do contexto dessa religião), teria tudo para ser considerada trabalho. Mas não o é por dois motivos: 1) eu não quero que seja, 2) eu não tenho conseguido adquirir nada próximo à independência econômica por meio dela. E tudo o que não seja trocado por uma quantia de dinheiro que permita a existência insossa num patamar intermediário entre a indigência e a riqueza não é considerado trabalho, mas lazer, <i>hobby</i> ou qualquer outra palavrinha mais açucarada. Trabalho, trabalho mesmo, só para os assalariados, para que continuem sendo nem mais nem menos que peças da engrenagem. Os ricos que trabalham como pobres são ainda mais idiotas úteis ou sofrem de um nível de alienação ainda mais tétrico. Mas um rico que não trabalha e vive tranquilamente uma fábula colorida às custas de assalariados é um sociopata.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Então, qual é a solução? Ou ficar rico honestamente sem usufruir do prejuízo e da desgraça (e do suor) de ninguém, o que é praticamente impossível, ou fugir da sociedade. A segunda opção não é só possível como recomendável para quem quer livrar-se de vícios e doenças psicológicas e tentar alcançar a plenitude da existência. A primeira talvez possa ser alcançada por meio de formas menos execráveis ou que ao menos não tenham uma afetação negativa direta sobre outras pessoas. Ganhar na loteria talvez seja um exemplo disso, embora as lotéricas sejam geridas pelo que há de pior e mais ganancioso na religião capitalista (a proprietária do jogo da sorte em Portugal é a Santa Casa de Misericórdia, uma total não surpresa). Eu penso sempre em alguma das minhas criações. Adquirir independência econômica pela arte seria radiante. Mas e a ardilosamente vampiresca indústria artística? E as editoras mafiosas e seus chorudos esquemas de controle de direitos autorais?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Não adianta. Quem está na chuva se molha invariavelmente. Quem vive dentro da sociedade não conseguirá ascender sem utilizar o seu semelhante como degrau. Mas não ser trapaceiro ou oportunista, não conjurar contra o próximo, não dificultar relações nem infestar ambientes e não utilizar-se daquele <i>jeitinho</i> de sorrateiramente retirar benefícios do prejuízo alheio já será um esboço mais dignificante. Ou pelo menos será uma forma - ainda que aparentemente estéril e inconsequente - de desafiar o embrutecimento. Sobretudo será uma forma de não servir arregimentadamente à ideologia da engrenagem. Porque ela ordena que sejamos impiedosos na escalada em busca dos seus próprios anseios, induzidos como nossos, mas cada vez que contrariamos o padrão de comportamento nos transformamos em pequenas ferramentas sabotadoras. Bem encravadas na engrenagem podem até gerar consideráveis anomalias.</span><br />
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Um artista genuíno nunca será um trabalhador e sua arte nunca será trabalho. Mas deixem-me falar apenas por mim que é menos problemático. Eu não escrevo ou fotografo conforme expectativas de mercado. A música da banda que eu gostaria de ter não atenderia aos anseios da indústria fonográfica. Minha criação artística é por essência marginal e subversiva, e representa no seu âmago tudo o que a santíssima trindade despreza. A reciprocidade, notem, existe e é orgulhosamente salientada. </span><br />
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Costumo ficar entre dez e catorze horas por dias - às vezes mais - concentrado na criação e aperfeiçoamento da minha arte. Faço-o voluntariamente por puro prazer, sem qualquer tipo de obrigação e sem sentir-me contrariado. Para burocratas e tecnocratas da engrenagem, sou um vagabundo. Talvez o que eles não consigam suportar seja o fato de eu desenvolver uma atividade satisfatoriamente, sem ter a individualidade e a personalidade desintegradas e sem ser lobotomizado, embrutecido, robotizado e transformado em uma peça sua desprovida de humanidade. Talvez por eu ser um coração que bate e sente e não um par de ouvidos que obedece ordens e de coniventes olhos que convenientemente não enxergam.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Eu sou um artista genuíno! Consequentemente - salvo as raríssimas exceções que confirmam a regra, embora eu não me recorde de nenhuma -, não sou economicamente independente. Faço arte por amor, prazer, entusiasmo, deleite e satisfação. Faço arte pela arte. Para desafiar apaixonadamente a inefabilidade da vida. Há mais de dez anos escrevi um poema apologista da pirataria que infelizmente seria engolido para sempre por um antigo computador antes do seu derradeiro pígarro. Mas alguns versos a minha memória logrou resgatar:</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Fazer pirataria</span><br />
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">É fazer arte</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Arte contra o lucro</span><br />
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Arte pela arte</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Subvertendo um produto morto</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">E devolvendo-lhe a vida</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Voltando a ser arte</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Nem embalada</span><br />
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Nem consumida</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Sou um artista que cria, mas, por não ser um assalariado que produz, chamam-me vagabundo. Como ser vagabundo parece-me melhor do que ser idiota útil, aceito a ofensa como elogio. Sou um vagabundo criativo e vivo. Não sou uma carcaça moribunda como a de muitos não vagabundos. Antes de motivar qualquer arroubo de orgulho, essa é uma condição seminal, obrigatória no meu compromisso com a vida.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Por fim, uma palavra aos artistas e intelectuais religiosamente atrelados à santíssima trindade:</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">A arte é uma expressão sublime da capacidade perceptiva humana. Sua utilidade para fins embrutecedores e para a manutenção da engrenagem é uma contradição grotesca e um atentado à sua dignidade. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">A intelectualidade é um mecanismo pelo qual podemos discernir o mundo. Sua utilidade para perpetuar a encenação da desumanização é uma traição à sua própria função e uma das maiores indecências de que a nossa espécie é capaz.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Saudações a todos os artistas e intelectuais comprometidos com a heresia de rebelar-se contra a santíssima trindade e a todos os idiotas inúteis que, à sua maneira, resistem e criam anomalias.</span><br />
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: medium;">Clique <a href="http://minhavidaliquida.blogspot.pt/2016/12/manifesto-sobre-o-estado-fisico-da.html">aqui</a> para ler o Manifesto Sobre O Estado Físico Da Matéria I.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Juliano Mattoshttp://www.blogger.com/profile/11955728092822844407noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5481869326230673666.post-70740037402130431622016-12-26T11:23:00.002-08:002016-12-26T18:06:30.005-08:006 x 9 = 42<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Um número considerável de pessoas que leram a </span><i style="font-family: times, "times new roman", serif;"><span style="font-size: large;">trilogia de cinco livros</span></i><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"> </span><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">de </span><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Douglas Adams</span><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">,</span><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"> </span><i style="font-family: times, "times new roman", serif;"><span style="font-size: large;">O Guia Do Mochileiro Das Galáxias</span></i><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">, tem a sua própria teoria acerca do número 42. Não que eu esteja obcecado com isto, mas me tenho flagrado no exercício de encontrar uma explicação plausível para o dilema, se é que há algum.</span></span><br />
<span style="color: #e69138; font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;">E foi assim que curiosamente percebi durante as minhas divagações ociosas que 42, que é a resposta que, na obra, um supercomputador projetado exatamente para isso encontrou para <i>a vida, o universo e tudo mais</i>, cuja pergunta fundamental não se sabe qual seria*, também é o número de vezes que uma folha de papel precisa ser dobrada para em função do <i><a href="http://misteriosdomundo.org/dobre-um-papel-42-vezes-e-ele-chegara-a-lua/">crescimento exponencial</a></i> chegar à Lua. </span></span><br />
<span style="color: #e69138; font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Ademais, no segundo livro da <i>trilogia</i>, <i>O Restaurante No Fim Do Universo</i>, as personagens Arthur Dent e Ford Prefect encontram, por meio de um jogo de letras baralhadas nas florestas de <i>Flintevudlevix</i> (ou a Terra primitiva, recuada no passado dois milhões de anos e que no presente natural já não existia - fora pulverizada para dar passagem a uma autoestrada espacial), após terem visto, atônitos, um nativo formar a frase <i>quarenta e dois</i> com elas, a seguinte pergunta: <i>"qual é o resultado de seis vezes nove?"</i>. </span></span><br />
<span style="color: #e69138; font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><i>"Seis vezes nove. Quarenta e dois."</i> - é tudo o que dizem. Não é inequívoco que eles assumem o resultado como correto. Contudo, também não o é que o assumem como errado. Alguns leitores da obra sugeriram que o cálculo fora feito pelo autor em <i><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Fun%C3%A7%C3%A3o_de_Conway_em_base_13">base 13</a></i>, embora o próprio pareça ter desmentido tal hipótese.</span></span><br />
<span style="color: #e69138; font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Continuei divagando até que também percebi, meio que por acidente e para meu total espanto, que o resultado de 6 vezes 9 é 54. Até aí não há nada de aparentemente intrigante. Mas e se eu disser que 54 é o resultado da soma de 1, 2, 3, 6, 7, 14 e 21...</span></span><br />
<span style="color: #e69138; font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;">...e que esses são exatamente os divisores próprios de 42, fazendo dele um <i><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/N%C3%BAmero_abundante">número abundante</a></i>?</span></span><br />
<span style="color: #e69138; font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;">No início, com a descoberta do número 42 tanto no livro como no crescimento exponencial de um papel para chegar à lua, achei que fosse apenas uma divertida coincidência. Mas com a relação do número 54 com 42 através dos seus divisores, fica muito difícil acreditar que não seja uma das muitas maluquices bizarras inventadas pela exótica genialidade de Douglas Adams. O que o terá levado a decidir-se por isso eu não sei, mas comecei a achar que talvez haja mais peças para montar nesse <i>quebra-cabeça</i>. </span></span><br />
<span style="color: #e69138; font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Pergunto-me se alguém nesta galáxia também terá chegado a essa relação entre 42 e 54 ou se serei o único maluco.</span></span><br />
<span style="color: #e69138; font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;">No momento encontro-me lendo o quarto livro. Talvez ao fim dos cinco eu consiga encontrar mais algumas peças. Também é provável que não. </span></span><br />
<span style="color: #e69138; font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Pode ser, entretanto, que já haja alguma resposta para o enigma. Se não no quarto (<i>Até Mais, E Obrigado Pelos Peixes</i>) ou no quinto (<i>Praticamente Inofensiva</i>), talvez no considerado sexto livro, escrito por Eoin Colfer e intitulado <i>E Tem Outra Coisa</i>, ou no <i>Não Entre Em Pânico</i> de Neil Gaiman, ou no blogue de algum <i>nerd</i> nos confins da maré virtual. </span></span><br />
<span style="color: #e69138; font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Mas, seja como for, tomei a questão como desafio pessoal e não quero que a resposta, caso haja alguma, me caia de bandeja. Terá de ser eu a encontrá-la. Ou a não encontrá-la.</span></span><br />
<span style="color: #e69138; font-size: medium;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;">* No terceiro livro, <i>A Vida, O Universo E Tudo Mais</i>, a personagem Prak garante, antes de morrer, que a <i>Pergunta</i> e a <i>Resposta</i> são mutuamente excludentes e que por lógica o conhecimento de uma impede o conhecimento da outra, sendo impossível que ambas sejam conhecidas no mesmo universo.</span></span><br />
<br />
<span style="color: #444444; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"></span></div>
Juliano Mattoshttp://www.blogger.com/profile/11955728092822844407noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5481869326230673666.post-70271869050043245142016-12-20T08:22:00.001-08:002016-12-26T18:13:49.216-08:00Neste Natal, esqueça-me<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Entra ano, sai ano, e minha busca por algo que seja mais deprimente e patético que o Natal segue em vão. Não encontro nada. Não existe nada. O Natal é soberano no reino da mediocridade; é o grande pináculo de uma sociedade viciada em comportamentos perniciosos, escrava do consumismo e cada vez mais desprovida de valores afetivos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Cada vez que um amigo me deseja o que podemos sintetizar num genérico <i>Feliz Natal</i>, que também poderia ser traduzido como <i>nossa amizade é fútil e superficial, eu não tenho efetivamente nada para te dizer e para ser sincero não me importo minimamente contigo, mas remeto-te este voto que não passa de um clichê descarado porque é simplesmente o que todos fazem nesta altura do ano, embora ele não signifique absolutamente nada além de falsidade, </i>eu fervo feito uma montanha piromaníaca assassina, como aquela que dizimou Pompeia. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Insisto que não me incluam em círculos de dissimulação. Insisto que não me convidem para celebrações. Insisto que não me deem prendas porque não as retribuo. E as pessoas insistem em fazer tudo isso - ou quase tudo isso, porque as prendas, confesso, são escassas -, sempre cheias de uma simpatia imediata surgida aparentemente do nada. Entra ano, sai ano, e sou obrigado a retribuir sorrisos forçados e a implodir meus sinceros desejos de insultar a todos. Alguns pensam que a ojeriza que sinto do Natal é apenas um capricho, uma forma apelativa de ser <i>do contra, </i>como se o Natal fosse realmente tão encantador que não pudesse existir um real sentimento de repulsa contra ele. A alienação faz estragos maravilhosos nos que não querem ver as coisas como elas são; exime-os de inconveniências, como, por exemplo, a lucidez. Ou como a realidade, e por isso o Natal tem todo esse cenário mágico, onírico, onde todos fingem estar transformados no que há de melhor na espécie humana.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Mas a verdade verdadeira é que simplesmente odeio o Natal com toda a força que minhas entranhas odiosas conseguem odiar. A começar pelas luzes deprimentes que infelizmente fazem parte da tradição natalícia. Todas aquelas bolinhas coloridas extremamente idiotas e parolas, que transformam a cidade numa gigantesca máquina de hipnotização de hordas de <i>zombies </i>consumistas e famílias vulgares. Certamente essas luzes não provêm de fontes ecologicamente responsáveis e configuram um desperdício <i>tolerável </i>por causa da tradição. Luzes que brilham o brilho que nós não conseguimos reluzir em nossas vidas opacas de seres humanos desumanizados. Luzes que ofuscam todo o nosso egoísmo e toda a nossa maldade. Luzes que colorem vidas cinzentas e que nos tentam convencer de que apesar de todos os vícios nefastos com que atravessamos mais um ano absolutamente sem sentido em nossa existência enquanto funcionários funcionais e peças acéfalas de uma engrenagem trucidante, tudo será maravilhoso se nos deixarmos levar pela onda de falsidade e de hipocrisia, se gastarmos cada moeda de nosso ridículo soldo de peça acéfala em futilidades materiais que nos são impingidas por todos os lados, mescladas com ainda mais luzes e ainda mais mensagens fofinhas totalmente vazias, num vexatório festival de sincretismo religioso e materialismo totalitário, para com elas preenchermos as imensas e dolorosas lacunas de nossas vidas e para oferecermos, a quem julgamos merecer, como substituto de afetos que não conseguimos demonstrar ou por inexistência dos mesmos, ou por incompetência. Ou simplesmente por falta de tempo. </span><br />
<span style="color: #f6b26b; font-size: large;"><span style="color: #444444; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;">E não me venham dizer que sou demasiado amargurado. Não é virtude fazer parte de uma festividade que forja (e tenta encenar) sentimentos sem no entanto os manifestar de fato e que está assente em enfermidades sociais.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Mas reconheço que o Natal tenha realmente sua função. Não, ela não é pregar amor, amizade, fraternidade e essas balelas. Ninguém está minimamente preocupado com isso - o Natal é, efetivamente, o ápice de todo o egoísmo que a sociedade desenvolve em cada um de nós. E também não é unir a família; a maior parte das pessoas que conheço é <i>obrigada</i> - por ela, por si mesma ou pelas convenções - a unir-se a banquetes familiares particularmente deprimentes e preferiria, sem sombra de dúvidas, aderir à orgia mais próxima, mesmo que fosse uma orgia de quiabos gosmentos. A grande função do Natal, que faz com que ele seja justificado até para mim, é evidenciar tudo o que temos de pior. É o grande palco de nossas vidas encenadas, onde vemos passar diante de nossos cínicos olhos, em meio às luzes deprimentes, toda a podridão que se espalha à nossa volta e da qual fazemos parte inequivocamente com assinalável contributo. Poucas pessoas a vêem, é verdade, afinal a grande maioria se deixa entorpecer pelas luzes, pelos sorrisos amarelos e pelas mensagens fofinhas e nauseantes de consumismo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Sair à rua em Dezembro é algo que eu costumo evitar, mas nem sempre com sucesso. Na cidade do Porto o fenômeno da gentrificação e da transformação do espaço urbano central num parque de diversões <i>hipster </i>para turismo plastificado se incrementa consideravelmente com multidões de carcaças de capacidade racional condicionada e duvidosa deambulando para todos os lados com sacolas nas mãos, assediando montras, entupindo lojas, esmagando-se em vagões do metro como palitos de fósforos em suas caixas, poluindo a atmosfera com alegria alienante expressa em sorrisos mais falsos que o amor entre uma <i>top model</i> e um jogador de futebol. Famílias inteiras tentando fingir que se toleram e à procura de um sentido que não encontram no resto do ano. Procuram esse sentido em compras, em luzes idiotas e em tradições parolas. Entra ano, sai ano, sempre vazios e insatisfatórios, e todos renovam suas cargas de mediocridade, hipocrisia e falsidade em Dezembro. Em Janeiro - quando muito -, toda essa baboseira de <i>espírito natalício</i> já foi devidamente engavetada para o próximo Dezembro, embora ela nunca seja de fato utilizada em Dezembro algum. Pergunte a quem despreza o sem-abrigo com toda a frieza do inverno. Pergunte a quem buzina e insulta no trânsito, a quem não oferece assento ao velhinho ou a uma pessoa sobrecarregada no transporte público. Pergunte a quem acha que o nariz existe para ser empinado ou a quem se considera a última bolacha do pacote. A quem, de dentro de uma existência moribunda, só consegue reproduzir o que já existe à volta. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: times, times new roman, serif; font-size: large;">Pergunte a quem durante todo o ano se limitou a ser apenas mais um. A quem se satisfez mergulhado na desvirtude, na inversão de valores afetivos. Pergunte a quem traiu o melhor amigo, a quem se ergueu pela mentira e se relacionou por conveniência. Pergunte a quem se utilizou de máscaras sociais para galgar na disputa pela aceitação. </span><br />
<span style="color: #f6b26b; font-family: times, times new roman, serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="color: #f6b26b; font-family: times, times new roman, serif; font-size: large;">Pergunte a quem vai ao talho cheio de espírito natalício mais próximo comprar um pedaço ou o corpo inteiro de um animal que foi brutalmente torturado, morto e esquartejado num matadouro também cheio de espírito natalício para que, cheio de espírito natalício, o possa mastigar em sua ceia pacífica em meio a votos de compaixão. Ou a quem ao ler este parágrafo ache a crítica exagerada e radical, porque afinal não há nada de errado e repugnante em torturar, matar e esquartejar brutalmente para vender como comida suculenta qualquer animal que não seja de uma espécie à qual por convenção cultural decidimos que é errado e repugnante torturar, matar e esquartejar brutalmente para vender como comida suculenta.</span><br />
<span style="color: #f6b26b; font-family: times, times new roman, serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="color: #f6b26b; font-family: times, times new roman, serif; font-size: large;">Pergunte a quem não é capaz de mover uma única vírgula em favor de algo que não seja o próprio umbigo. Pergunte a quem terá o cinismo de enviar aquela mensagem simpática de fim de ano a alguém de quem não se lembra há meses ou mesmo anos. </span><br />
<span style="color: #f6b26b; font-family: times, times new roman, serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="color: #f6b26b; font-family: times, times new roman, serif; font-size: large;">Pergunte a si mesmo.</span><br />
<span style="color: #f6b26b; font-family: times, times new roman, serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="color: #f6b26b; font-family: times, times new roman, serif; font-size: large;">Você que irá fatalmente remeter-me uma mensagem bonitinha e fofinha de Natal, achando que assim poderá respirar a frescura da sensação de ser um bom amigo, enquanto meu estômago dá voltas e eu controlo-me para não responder com um regurgito de ácidas palavras gongóricas.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">E também pergunte por que motivo deveríamos celebrar esta tradição. Sobretudo, por que motivo somos merecedores dela enquanto espécie de purgatório invariavelmente redentor. Ilusões à parte, somos todos tristes figuras patéticas, parte de um mecanismo podre. E o Natal é apenas o ápice do processo de embrutecimento. Compreendo que a grande maioria das pessoas precise encenar. É um atalho para escapar à fustigante realidade. Particularmente, não caibo na encenação. Ela é cada vez mais sufocante e representa tudo o que mais desprezo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Se você se considera meu amigo ou acha que por algum motivo mereço respeito, é sua obrigação esquecer-me neste Natal e em todos os outros.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Juliano Mattoshttp://www.blogger.com/profile/11955728092822844407noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5481869326230673666.post-73155995562482380662016-12-08T11:46:00.001-08:002016-12-26T18:16:57.796-08:00Os 20 álbuns de 2016<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Recentemente adquiri o costume de elaborar uma lista anual dos vinte álbuns mais ouvidos por mim. Este deve ser o quinto ou o sexto ano consecutivo em que <span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">o faço</span>. <span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Os motivos são dois</span>: uma mera sugestão musical e uma análise da variação do que escuto. De certa forma, essa variação é uma representação da <i>modernidade líquida</i>. Explico: de tempo em tempo, a música que ouço varia tão drasticamente em artistas e gêneros que indica por si só a instabilidade, ou a <i>liquidez</i>, da minha vida, admitindo aqui que meu gosto musical obedece não apenas à apreciação artística mas também, em grande medida, ao meu<i> estado de espírito</i>. Sou daqueles que criam trilhas sonoras para cada <i>cena</i> do filme da vida. Além disso, atualmente é tão fácil o acesso a qualquer tipo de música que o acúmulo de material fonográfico disponível em nossos meios digitais de armazenamento de áudio causa uma enorme confusão e sobreposição. Há muito mais música do que tempo para a ouvir. Antes, quando o mundo era mais <i>sólido</i>, ocorria talvez o contrário: pouca música para mais tempo, o que nos fazia repetir à exaustão os <span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">poucos exemplares físicos</span> que tínhamos, decorando-os profundamente do começo ao fim.</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Por que vinte e não dez ou trinta? Não sei. Acostumei-me assim. Talvez vinte seja a medida certa entre a limitação e a abrangência (se não houver limitação perde-se a relevância dos álbuns incluídos e se não houver abrangência o ano fica mal representado, porque em 365 dias muitos sons passam pelos meus ouvidos). Ou talvez seja apenas o meu subconsciente resgatando do passado um já distante período em que, sem Internet, eu me iniciava no mundo da música e assistia aos fins de semana ao <i><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">T</span>op 20</i> da MTV Brasil à espera de um mísero <i>videoclip</i> que destoasse de todo o lixo. </span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: times, times new roman, serif; font-size: large;">Como sempre, a lista mostra como me reinvento enquanto apreciador de música, resgatando velhas paixões e descobrindo novas. É sempre com certo espanto que reajo ao meu interesse súbito por álbuns antigos dos quais nunca suspeitei que um dia me pudessem seduzir. "Ponho-me a ouvir cada coisa,,,", penso. E quando digo <i>ouvir</i>, refiro-me a um cuidadoso processo de captação de percepções, ambiências, técnicas e intencionalidades. Não é apenas romper um silêncio incomodativo. Um álbum só entra em minha lista após ser vasculhado, examinado e digerido. Tento adicionar apenas um por artista ou banda e a ordem obedece ao impacto causado em mim e à durabilidade da <i>relação</i>, mas ela não é tão importante.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Todos os anos tenho dito o que vou dizer agora: 2016 foi o meu ano mais eclético. </span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;">1) Da Lama Ao Caos - Chico Science<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"> <span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">&</span></span> Nação Zumbi (Brasil - 1994)</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: times, times new roman, serif; font-size: large;">2) Singelos Confrontos - Flicts (Brasil - 2013)</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;">3) Acerto de Contas - Paulo Vanzolini (Brasil - 2002)</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: times, times new roman, serif; font-size: large;">4) Samba Esquema Noise - Mundo Livre S/A (Brasil - 1994)</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;">5) Alucinação - Belchior (Brasil - 1976)</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">6)</span> Lua Bonita - Socorro Lira (Brasil - 2011)</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;">7)<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"> </span>Mundialmente<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"> </span>Anônimo:<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"> </span>O Magnético Sangramento da Existência - Maquinado<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"> </span>(Brasil - 2010)</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">8<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">) </span></span>Vinograd - Dobranotch (Rússia - 2014)</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;">9<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">) </span>Do Romance Ao Galope Nordestino - Quinteto Armonial (Brasil - 1974)</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;">10) Estado De Poesia - Chico César (Brasil - 2015)</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;">11) Dividir e Conquistar - Dorsal Atlântica (Brasil - 1988)</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;">12) Convoque Seu Buda - Criolo (Brasil - 2014)</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;">13) Hear Nothing, See Nothing, Say Nothing - Discharge (Reino Unido - 1982)</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;">14) A Love of Shared Disasters - Crippled Black Phoenix (Reino Unido - 2007)</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;">15) We Rock You Suck - Muzzarelas (Brasil - 2010)</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;">1<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">6<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">) </span></span>Entre - Kamau (Brasil - 2012)</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;">17<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">) </span>Braza - Braza (Brasil - 2015)</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;">1<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">8<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">) </span></span>Nº I, II, III & IV - Beatles'n'Choro (Brasil - 2002-2005)</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;">19<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">) </span>Pappo Y Amigos - Pappo (Argentina - 2000) </span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;">20) My Mind Is A Mess - Orgasmo de Porco (Brasil - 2013)</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Com a lista, percebo, meio atônito, que em 2016 quase só ouvi música brasileira. Eu não tinha ideia d<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">e</span> sua esmagadora predominância e fiquei embasbacado. Nunca antes estive tão ligado à música <i>tupiniquim</i>. Dos vinte álbuns, apenas quatro não são brasileiros (dois britânicos, um russo e um argentino). Ademais, este foi o ano do meu regresso ao Nordeste e em que o<i> Manguebeat</i><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"> </span>finalmente me conquistou.<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"> <span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Outra novidade<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"> </span>é a inclusão de dois álbuns de <i>hip hop</i>, depois <span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">de muitos anos sem ouvir nada do gênero.</span></span></span></span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Como ainda faltam alguns dias para 2016 finalmente acabar (vai deixar pouquíssimas saudades, senão nenhuma), não excluo a possibilidade de alterar a lista. Estou sempre ouvindo de tudo e pode ser que algum álbum que me esteja escapando ainda se me revele a tempo. Ou então ficará para 2017, que decerto terá uma lista distinta. Tenho o hábito de guardar em <i>meus favoritos</i> do Youtube álbuns inteiros para não os esquecer antes de lhes dedicar a devida atenção. Neste momento tenho acumulado umas boas dezenas e, pelo que me pareceu depois de uma breve conferida, 2017 poderá ter uma certa tendência experimental, instrumenal e psicodélica, bem como reforçar ainda mais o meu <i>regresso</i> ao <span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">N</span>ordeste. Mas é também possível que essa tendência não se manifeste e surja outra<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">, embora </span>neste momento eu nem consig<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">a</span> imaginar qual poderia ser.</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Claro que há álbuns atemporais aos quais ouço com tanta frequência há já tantos anos que não faz muito sentido serem levados em conta para a lista anual. Exemplos disso são o <i>Division Bell</i> de Pink Floyd ou as discografias de Legião Urbana, Raul Seixas, Enya<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">,</span> Crass e Cólera. A lista é montada tendo em conta a sensação de <i>descoberta</i> ou <i>redescoberta</i>. </span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Por fim, deixo uma sugestão baseada <span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">nela</span>: vasculhem o <i>Manguebeat</i>. Não apenas os grandes ícones do gênero, mas toda a envolvência, tudo o que surgiu a partir deles e passou a orbitar a mixórdia estruturada <span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">na</span> música pernambucana. </span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Aliás, vasculhem também o cinema pernambucano.</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;">Ô terrinha que gosta de uma boa arte... </span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Juliano Mattoshttp://www.blogger.com/profile/11955728092822844407noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5481869326230673666.post-58637985694020619132016-12-04T05:54:00.001-08:002018-04-03T09:48:45.421-07:00Manifesto sobre o estado físico da matéria<div dir="ltr" id="docs-internal-guid-5341f0af-ca1b-8217-0340-6640a53bcfd0" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">A Etimologia poderá ser considerada o mais fascinante dos campos que constituem a gramática. A profundidade e a abrangência de um estudo que une a história humana e a evolução dos seus vocábulos são praticamente infinitas face à nossa fugaz escala de tempo. Através dela, podemos ir em busca do significado que nos escapa de palavras tão triviais quanto misteriosas. Podemos, inclusive, vasculhar os nossos próprios nomes. A constatação de termos à disposição um significado primordial e totalmente inesperado para cada uma das milhares de palavras que compõem o nosso léxico talvez nos indique coerência e certa segurança no percurso das diversas gerações de ancestrais que, de bastão em bastão, nos entregaram o rumo da história. </span></span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Uma noção que podemos discernir da Etimologia, portanto, é a de elementos concretos na formação do conhecimento humano. <i>Concreto</i> é uma palavra que em nosso entendimento intuitivo sugere solidez, cuja aplicabilidade, por sua vez, varia mas quase sempre representa a mais básica compreensão de um estado físico. Nas generalistas aulas de ciências do ensino primário e secundário aprendemos que além do sólido, a matéria pode apresentar os estados líquido e gasoso. Mas estejam tranquilos, porque a física não tem nenhuma importância neste manifesto senão a aplicação metafórica de alguns dos seus termos. Isto é um esboço inerente à Sociologia; apesar de todo o desdém que tem sofrido ao longo dos últimos anos, ela ainda é muito mais inquietante que qualquer equação. </span></span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Façamos um pequeno recuo no tempo pelas mais elementares páginas da história. Se tivermos de utilizar terminologia física para caracterizar a vida dos nossos pais e avós, de que palavra nos serviríamos? Aliás, dentro de todo o nosso léxico, que palavra melhor se adequaria? Ocorre-me apenas uma: o mundo dos nossos pais, por assim dizer, foi um mundo </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">sólido</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">, assente em convenções sociais rígidas e relações afetivas praticamente imutáveis. Perspectivas de pertença, família, emprego, lazer, aptidão e sociabilidade eram perfeitamente identificáveis e mantidas preservadas por toda a vida. Era comum os filhos seguirem os passos dos pais. Era comum famílias conjurarem uniões matrimoniais. Eram comuns os laços de vizinhança. Tradição, provincianismo e conservadorismo foram conceitos edificados por essa vida arraigada à noção de estabilidade e invariabilidade, incluindo a rigidez da constituição classista da sociedade, pouco permeável à inter-transitação. Foi um mundo que garantiu certezas, mas às custas da castração das aspirações individuais. Um mundo ultrapassado e indesejável. Um mundo em estado sólido. </span></span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Nas últimas décadas, no entanto, outro mundo se formou da dinâmica relacional humana. Um mundo no qual nem todos das presentes gerações cresceram, mas que inevitavelmente nos tem obrigado a uma dramática adaptação. Este mundo configura a mais abrupta ruptura com a solidez do passado, assumindo em toda sua instabilidade e transformabilidade um novo estado físico: a liquidez. Zygmunt Bauman, o célebre e quase centenário sociológico polonês, deu a este mundo uma acuradíssima <span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">designação</span>: </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">modernidade líquida</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">. Longe de pretensiosismos em relação ao seu profundo conhecimento, permito-me sugerir um outro termo, nem melhor, nem alternativo ao de Bauman, apenas adicional e talvez complementar: </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">imediatismo mágico.</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"> A vida se nos escapa por entre os dedos e se metamorfa a cada segundo conforme novas camadas que se vão acumulando umas sobre as outras tão apressadamente que impossibilitam o funcionamento do nosso organismo dentro dos seus padrões rítmicos. É um mundo que se transforma sem prestar contas ou oferecer entendimento, como aquele almoço que devoramos rapidamente em virtude de alguma pressa rotineira e que nos empanturra sem no entanto o digerirmos. O mundo atual é um espevitado, porém metódico exercício de indigestão. Não por ser a desgraça que é do ponto de vista humanístico, mas por girar muito além do ritmo biológico do nosso sistema digestivo mental. Não há cérebro que acompanhe a velocidade das informações, vivências e relações que a </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">modernidade líquida</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"> (ou </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">imediatismo mágico</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">) oferece. Quem nunca teve um momento de sensibilidade, como se o tempo desacelerasse só para si, para perceber a expressão de indigestão no rosto das carcaças de uma repartição pública ou de um vagão de metro? Quem nunca sentiu a multidão à sua volta deambulando caoticamente, aparentemente sem destino e demasiado acelerada? Quem nunca teve espasmos de mora? Numa sociedade que produz cotidianos insatisfatórios em vidas homogeneizadas, talvez apenas os mais embrutecidos não questionem, nem uma única vez, o sentido diluído da sua existência. </span></span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Vivemos no mundo acelerado de uma engrenagem desumanizadora. Uma engrenagem que deixou de ser o mecanismo de funcionamento de certas aspirações para ser a própria aspiração. Este mundo que em sua concepção materialista está assente sobre três pilares fundamentais: o trabalho, o consumo e a produtividade. E que apresenta consequências transbordantes que alagam, com toda sua implacável liquidez, nossa noção de sociabilidade e afetividade. Estamos condenados a nunca saber quem de fato somos porque não temos tempo de introspecção. Foi declarada guerra ao </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">ócio criativo</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"> e é dele que mais necessitamos como antídoto do obscurantismo moderno. Quem nunca confortou um amigo confuso e perdido pedindo-lhe que não se preocupasse porque, afinal, estamos todos confusos e perdidos? Mas a questão é: temos mesmo de estar confusos e perdidos? Os jovens são induzidos a acreditar que o mundo é demasiado caótico e instável para merecer apreciações filosóficas, sendo amplamente preferível a objetividade robótica do funcionalismo na engrenagem. Mas devemos perguntar: por que o mundo tem de ser caótico e instável?</span></span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Nossas vidas são uma via expressa por onde passam vertiginosamente, sem ponderações de velocidade, todos os elementos básicos que a constituem. As proporções dramáticas dessa viagem, verdadeira lombra social, têm provocado distorções sobretudo nas relações de afeto através das quais expressamos nosso instinto sociável. As amizades se têm tornado cada vez mais frágeis e desenvolvidas segundo cálculos de conveniência que subvertem os princípios de decência. Os amores estão odiosos e amaldiçoados, configurando fórmulas latejantes de rancores e desavenças, para não dizer de ódio. Os sentimentos mais sublimes, como compaixão, solidariedade e tolerância apresentam-se descartáveis, meros adereços protocolares de ocasião. Nosso chão, no qual se fundamenta a percepção de equilíbrio e estabilidade, é diariamente abalado por tremores simultâneos de epicentros diversos. Tudo se desfaz em ápices, se escoa em córregos, se dilui em complexidades, se derrete em desconsiderações. Nossa humanidade escorre para o esgoto do embrutecimento e da insensibilidade para se perder nas profundezas da nossa essência reprimida pela dinâmica da engrenagem triturante, liquidificante.</span></span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">A informação desinforma, a comunicação descomunica, a conexão desconecta e a virtualização desumaniza. Nunca estivemos tão aptos materialmente para estar juntos uns dos outros e no entanto estamos cada vez mais alienados, confinados em jaulas verticais de aglomerados urbanos desalmados, engavetados como formulários burocráticos em cubículos </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">orwellianos</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">. Decerto nem tudo é negativo no mundo líquido; a ruptura com modelos rígidos e pré-estabelecidos de construção da vida foi um enorme passo no sentido da emancipação humana e catapultou pautas libertadoras que ofereceram um rumo redentor a grupos sociais historicamente estigmatizados. A mordaça da autoridade se desvaneceu consideravelmente com o fim de concepções de mundo proto-mitológicas que beiravam o conformismo fatalista. Mas o rumo equivocado nos trouxe a esta amálgama de incertezas monstruosamente tirânicas. É contra suas consequências que devemos dar uma nova forma à matéria.</span></span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Naturalmente, da trindade física resta-nos o estado gasoso. Porém, enquanto os estados sólido e líquido representam comportamentos e uma dinâmica social, o estado gasoso seria um caminho filosófico percorrido por meio do </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">ócio criativo</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">. Do ponto de vista científico, o estado gasoso representa uma desagregação de moléculas ainda maior que a observada no estado líquido. Como não é isso que se pretende, a sua aplicação se limita à metaforização do exercício racional. Intuitivamente, associamos a filosofia a uma matéria flutuante, como se correspondesse ilustrativamente à magia de materializar a percepção da realidade a partir do espírito. Como bem destacou Carl Sagan, a palavra </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">espírito</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"> significa </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">respirar</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"> em sua origem latina, e como o que respiramos, o ar, é também matéria, por mais minúscula que seja, não se alude aqui a qualquer plano metafísico. Espiritualidade seria a introspecção filosófica, a consciência da própria essência. Dela, podemos impulsionar o motor do </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">ócio criativo</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"> que percorrerá a agreste estrada da vida para revitalizá-la. Por fim, deseja-se que possamos reassumir a capacidade da variação de estado físico naturalmente, conforme nosso próprio ritmo biológico e nossas aspirações individuais. Precisamos resgatar a problemática da existência como uma afirmação da plenitude da vida. </span></span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">A liquidez pode ser um estado versátil e de fácil adaptabilidade, mas percebemos que ele se arrasta pelos canteiros, pelas depressões, que é erosivo e agrava fissuras, além de ser fundamentalmente corrosivo e rasteiro. Sejamos, pois, matéria de espírito, condutores de virtude. Se na física o estado da matéria obedece à temperatura e à pressão, na sociedade as convenções sociais o enquadram e a engrenagem da desumanização baseada em valores corruptos o modela.</span></span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Não podemos subverter definitivamente as leis da física, mas </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">devemos</span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"> subverter a engrenagem social. Subverter pode ser pouco; sabotá-la e destruí-la antes que ela nos <span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">dizime</span> talvez seja o mais sensato. </span></span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Imagine-se um físico, prestes a revolucionar o mundo. </span></span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Tenhamos a humildade que nos é oferecida pela consciência de que a nossa vida não dura mais do que os ridículos 0,16 segundos da escala cósmica de tempo - uma mosca vive, precisamente, 2.419.200 vezes mais na escala humana -, mas não deixemos de ambicionar a plenitude dessa fugaz dádiva que a mãe natureza nos ofereceu. Dignifiquemos a sua preciosidade. Não sejamos moribundos funcionários de funções funcionais. Não releguemos nossas vivências e nossos afetos ao capricho da vaidade. Não sucumbamos perante os vícios que a engrenagem reforça, como egoísmo, vaidade, falsidade, insensibilidade, indiferença e crueldade. Todos eles não passam de sinais de fraqueza. Façamos, sim, experimentos sociológicos, mas não usemos pessoas como cobaias das nossas conjurações. Revitalizemos o humanismo comprometido apenas com a virtude de senti-lo verdadeiramente.</span></span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Sejamos um pouco de Winston Smith e d<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">e</span> gorila Ismael. </span></span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Sintamos definitivamente a juventude latejando dentro de nós e implorando para ser usada, por mais velhos que possamos ser. </span></span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Tenhamos suficiente profundidade mental para e<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">vitar<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"> </span></span>que o </span><span style="background-color: transparent; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">imediatismo mágico </span><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">destrua nossa humanidade.</span></span></span><br />
<span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><br /></span></span></span>
<span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><br /></span></span></span>
<span style="font-size: large;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><br /></span></span></span>
<span style="font-size: medium;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="background-color: transparent; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Clique <a href="http://minhavidaliquida.blogspot.pt/2016/12/manifesto-sobre-o-estado-fisico-da_28.html">aqui</a> para ler o Manifesto Sobre O Estado Físico Da Matéria II.</span></span></span></div>
Juliano Mattoshttp://www.blogger.com/profile/11955728092822844407noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5481869326230673666.post-10371619183352010032016-11-29T18:29:00.001-08:002016-12-26T18:22:22.952-08:00Por que "abandonei" o Facebook<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444; font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Como todos devem saber, sempre tive forte presença no </span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Facebook</span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, dele usufruindo fartamente sem qualquer preocupação com noções de privacidade e sem preocupar-me com exageros de utilização, para os quais eu sempre encontrei uma justificativa plausível segundo meu próprio julgamento. Sou um animal comunicativo, necessitado de informação e, sobretudo, de um canal no qual eu possa expressar a profusão de pensamentos, ideias e opiniões que se me acometem impiedosamente. Durante os últimos seis anos, desde que preteri o finado </span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Orkut</span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> - que tinha um alcance limitado ao Brasil - em favor do </span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Facebook</span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, a dinâmica da minha vida passou a depender fortemente dele. Graças à sua abrangência, fiz muitas amizades, diversos amores, alguns inimigos e alimentei debates infindáveis sobre os mais variados temas, uns descontraídos, outros tensos. Todos os meus dias começavam e acabavam com atualizações do seu </span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">feed</span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> de notícias. Pela </span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">timeline</span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> compartilhei minhas ideias políticas peculiares, meus pensamentos filosóficos, minhas amarguras, medos, vícios e paixões, difundi a minha arte fotográfica e a minha criação poética e todos os detalhes da minha vida, de viagens a sentimentos, de preferências musicais ao fascínio pelas ciências, sem nunca me preocupar com a exposição.</span></div>
<b id="docs-internal-guid-6ce8e51b-3e14-bdee-b551-0a9af098e646" style="font-weight: normal;"><br /></b>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">No entanto, o que mais compartilhei no </span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Facebook</span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> foi, travestida de todas as coisas já referidas, a criação da minha imagem idealizada. Por mais que o processo tenha sido involuntário, a verdade é que eu tentava desesperadamente passar a imagem pela qual as pessoas me deveriam ver. Não é difícil saber que imagem é essa. Todos conhecem o Juliano como o artista intelectual de espírito boêmio e viageiro, o humanista radical amante das filosofias e dos prazeres mundanos, o entusiasta do ócio criativo e da sociabilidade inebriante. Não que eu não seja isso tudo: decerto tentava apenas reforçar com uma concepção imagética o pendor que me norteia por essência. Mas ninguém vê o Juliano problemático, ranzinza e introspectivo, depressivo e procrastinador, desanimado e rancoroso, trivial, imaturo e instável, decadente e solitário. O </span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Facebook</span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> serviu-me de escamoteador, mas, acreditem: também sou tudo isso.</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">E você, que lê este texto, também. Você também tenta escamotear os seus defeitos e reforçar a noção que os outros têm das suas qualidades. Você também tenta omitir fraquezas, medos e o fato de não querer mais nada além de ter o ego acariciado, varrendo para um canto escuro da mente o latejante sentimento de mediocridade, por mais que se tente enganar pensando que não. A mim não engana e não me convenceria caso se justificasse com a mesma matriz argumentativa utilizada por mim para justificar o meu próprio comportamento. Conheço bem como funciona a negação, acredite. Eu assim agia sobretudo pela publicação de postagens escritas, porque simplesmente sou </span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">viciado</span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> em escrever e conjeturar ideias. A maior parte das pessoas o faz pela publicação de fotografias de momentos banais desinteressantes e desimportantes, para passar uma imagem em que querem acreditar que seja verdadeira por mais que não seja. Mas são as opiniões imediatistas da </span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">notícia relevante do momento</span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> que pautam por excelência toda a </span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">dinâmica facebookiana</span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">. Apesar da preferência à escrita, lembro-me de também publicar fotos de antigas aventuras satisfatórias em momentos de auto-estima diluída, por exemplo. Ou de fazer insinuações veladas sobre outrem por puro rancor ou até por inveja. Mas a evidência de um comportamento induzido na </span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">dinâmica facebookiana</span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> está muito mais na nossa postura de aceitação como engrenagem desse mecanismo do que em exemplos concretos.</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Fui peça dessa engrenagem (e dela tirei muito proveito, nomeadamente para fins de experimentação sociológica e filosófica) até há umas poucas semanas, quando, por intermédio de motivações às quais a alusão é escusada, apercebi-me de quão patéticos somos todos nós que diariamente impingimos uns aos outros, de forma assediante, a nossa patológica necessidade de atenção e de auto-afirmação. Sempre tive certa noção de conteúdos fúteis, como auto-retratos em frente ao espelho, fotografias de comida, </span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">memes</span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> de auto-ajuda ou mensagens monossilábicas intimistas. Todavia, fui apresentado a um sentimento inédito; uma verdadeira revelação: o </span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Facebook</span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, ou melhor, a </span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">dinâmica facebookiana</span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, nos está desumanizando, castrando a nossa essência e o nosso verdadeiro caráter. Estamos sendo sistematicamente padronizados, transformados em sujeitos rasos, cheios de manias narcisistas, arregimentados e programados para reagir a qualquer coisa no imediatismo mais indigesto e mais incapacitante da nossa própria racionalidade. Assim, passamos a saber de tudo para não sabermos de nada. Somos induzidos a sentir, num curto espaço de tempo - talvez até em simultâneo -, alegria, amargura, ódio, esperança, preocupação, alívio, desalento, simpatia, solidão, ojeriza, atração, revolta, compaixão, êxtase e o que mais conseguirmos extrair para estar espiritualmente adequados à ordem do dia. Ademais, essa dinâmica configura o que é provavelmente o maior e mais eficaz mecanismo difusor de mentiras e de induções ao erro e à distorção da história da comunicação humana.</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Estamos sendo induzidos a preterir a nossa individualidade, o nosso ritmo biológico, os nossos interesses genuínos e a nossa cognição em nome da participação numa aldeia global cacofônica, arrogante, prepotente, chauvinista, egoísta e complexada. E insensível. Extremamente insensível. Especialmente quando nos deparamos com notícias de tragédias humanas. Nossos pesares e nossas duvidosas campanhas de solidariedade são tão efêmeros e supérfluos que não passam, efetivamente, de </span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">self-marketing</span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">. A </span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">dinâmica facebookiana</span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> é um cotidiano processo de alienação no qual somos mantidos entorpecidos pela velocidade supersônica de um mundo que se desinforma pela informação, se desconecta pela conexão, se descomunica pela comunicação e se desumaniza pela virtualização.</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Isto não seria tão grave caso estivesse confinado ao mundo virtual da Internet, mas a </span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">dinâmica facebookiana</span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> tem ampla e manifesta propagação nas ruas, na </span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">vida real</span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">. Tem moldado comportamentos e condicionado noções de afeto. Tem criado pessoas que se relacionam com o mundo como se tudo se limitasse a abrir e fechar abas de portais ou de bate-papo. Tem concebido relações sociais cada vez mais frágeis, efêmeras e, sobretudo, baseadas em cálculos de conveniência. Zygmunt Bauman tem alertado exaustivamente para as armadilhas do </span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Facebook</span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> e chamou </span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">modernidade líquida</span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> a esta concepção de mundo que se nos desaba (talvez se justifique recomendar aqui a leitura de alguns dos seus livros, como o </span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">44 Cartas do Mundo Líquido Moderno</span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">). Eu a vejo como parte de um </span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">imediatismo mágico</span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">.</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">É possível que a maioria de vocês não se surpreenda minimamente com este texto por já ter uma noção daquilo que ele aborda. Eu não estou escrevendo nada de novo. Isto não é nenhuma nova conclusão avançada e visionária. Não é nenhuma perspicácia acurada e nenhum vislumbre de genialidade. Nada disso. Esta explanação é perfeitamente compreendida pelo que acredito ser até a maioria das pessoas. A diferença seja talvez o estado de consciência, porque assimilei de tal forma a compreensão dessa revelação que agora sinto sincera indisposição perante a simples ideia de atualizar o </span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">feed</span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> do </span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Facebook</span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">. Há semanas que só leio as mensagens privadas que me enviam e absolutamente nada mais.</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Sinto profundo desconforto perante posições unânimes ou comportamentos uniformizados que ofuscam qualquer contraditório (uma das consequências da </span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">dinâmica facebookiana</span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">), mesmo quando se trata de temas pacíficos ou causas sublimes e aparentemente inquestionáveis do ponto de vista moral. Fica-me sempre aquela sensação estranha no ar, aquela desconfiança. Porque, infelizmente, a bondade e a lucidez não são de forma alguma unanimidades sequer à escala da nossa vizinhança, que dirá de uma comunidade tão abrangente conectada num veículo online!</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Excluirei o meu perfil? Não, não para já. Não vejo necessidade de uma atitude tão drástica. Tenho muitos amigos espalhados por países distantes que me são suficientemente importantes para que eu deseje manter a confortável sensação de tê-los ao meu alcance, facilmente comunicáveis, e ademais estabeleço uma clara distinção entre a plataforma comunicativa </span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Facebook</span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> e a </span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">dinâmica facebookiana</span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">, que também pode ser </span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">dinâmica twitteriana</span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> ou </span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">youtubiana</span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">. Como veículo de comunicação e informação, o </span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Facebook</span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> pode ser mantido positivamente mediante uma utilização saudável, construtiva e moderada. Como vício, como portal de egos e como navegação alienante de </span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">zombies</span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> à deriva de uma correnteza embrutecedora, certamente é desprezível e deve ser evitado. E é exatamente isso que venho informar através deste texto.</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Eu sei que há pessoas que me acompanham pelo que escrevo. Sou-lhes grato. Mas sinto-me patético e saturado. Não tenho mais aspirações quanto às batalhas ideológicas e comportamentais na </span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">dinâmica facebookiana</span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">. Elas são estéreis, fazem-nos desperdiçar energias e até boas ideias. A partir de agora, a capacidade escrita e intelectual que adquiri ao longo dos anos - tenha ela a dimensão que tiver - será melhor canalizada nos meus blogues sob a orientação de projetos literários (que são, genuinamente, o que eu mais prezo nesta vida) obedientes somente à minha própria dinâmica. Eventualmente, deixarei </span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">links</span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> no </span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Facebook</span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> (como o de acesso a este texto - cuja publicação tardou até que eu me tivesse assegurado de que estaria fora da </span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">dinâmica facebookiana</span><span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">), porque me importo com a difusão das ideias. Mas não pretendo voltar a entrar na sua dinâmica. Declaro-me voluntariamente exilado dessa aldeia virtual decadente e desumanizadora para encarar o deserto da invisibilidade pelas bordas de uma estrada filosófica rumando em busca da fonte de virtude, onde os laços humanos sejam verdadeiros e duradouros, as ideias redentoras e as capacidades individuais potencializadas.</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: #f6b26b; font-family: "times new roman"; font-size: 18.666666666666664px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Boa sorte aos que ficam. De tudo o que possuem que não seja ostentação superficial e egocêntrica, espero que tenham forças para não perder irreversivelmente a própria humanidade.</span></div>
<br />
<br />
<br />
<br />
<span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: 16px; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">PS: é possível que este texto seja futuramente alterado ou reutilizado como esboço para um exercício mais amplo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Juliano Mattoshttp://www.blogger.com/profile/11955728092822844407noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5481869326230673666.post-6688063232869303432016-10-16T15:25:00.001-07:002016-12-26T18:23:28.371-08:00Da Existência<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;">(...) Não chegaria aos "vinte e catorze" para bruxulear-se; não em insossas confrarias. Carcomeram-se-lhe, espúrias; delas já sorvera a virtude. Seus séquitos bailantes ritmavam-se, desidiosos, em lorpa frivolidade. Os aforismos juvenis parafraseavam a decadência; não queria ser um cadáver e menos ainda atraente. Mais sublime fosse o propósito de alargar a juventude. Tal desejo não seria um adágio presunçoso, tão-somente uma afirmação da vida; da sua inebriante inefabilidade. Tempo houvera em que o envolvia radiância. Na humanidade apostara, entorpecido de esperança. Mas e aquela nossa infâmia, de onde viria? Aquele torpe besunte de imortalidade. A nossa dificuldade de assumir o lugar doutrem. A incompreensão. O egoísmo. A vaidade. A nossa repugnância. A negação da simplicidade.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;">Houvera-se-lhe também tempo de comoção. E houvera sempre uma mocinha; cândida e decerto módica em quase tudo, dos trejeitos ao intelecto, a despeito do seu escamoteado caos. Se de fato tivera rasgos de vida, nela se teriam encerrado. O nevoeiro da noite invernal que se lhe desabava era o corolário de tal ausência. "Ei-la no desfoque das luzes". No desdém à chuva, às gentes, ao futuro. E fazia-o questionar-se: "seria o compromisso com a consciência realmente superior à felicidade?". Sempre o sim impingia-se-lhe. Mas renovava a dúvida: não seria o sim antes uma manifestação de esperança deveras difusa e quiça pusilânime? - não o acometiam afirmações convictas que mitigassem a fleuma. Sufocava-se pela própria dialética, intencionalmente gongórica para se velar. Definhavam-no os silogismos. E de dilemas existencialistas já transbordara. Mas aquele era-lhe copioso tormento. "Valeria a pena importar-se?" - sim e não esfaqueavam-no alternadamente. Dava-se, pávido, à indiferença, ainda que probo, sob vigília dos conjurados escrúpulos. E percebia-se, sempre, amaldiçoado.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;">O sentido da sua vida nestas translaç<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">ões</span> nada seria senão o martírio dos seres aprisionados no espinhoso limbo gnosiológico, já condenados à consciência.</span></div>
Juliano Mattoshttp://www.blogger.com/profile/11955728092822844407noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5481869326230673666.post-66372352933167982722016-10-16T11:23:00.000-07:002016-12-26T18:25:06.432-08:00Sobre a ignorância<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O grande dilema existencialista dos pensadores:</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O compromisso com a consciência seria realmente superior à felicidade, ao bem-estar pessoal?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Sim. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Mas este sim não será, por sua vez, mais uma manifestação de esperança e responsabilidade do que uma afirmação convicta?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: "times" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Será mesmo genuína a felicidade na celebração da ignorância, a despeito de ser uma "bênção"?</span></div>
<br />
<br />Juliano Mattoshttp://www.blogger.com/profile/11955728092822844407noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5481869326230673666.post-78707694389197166212016-07-09T13:26:00.000-07:002016-12-26T18:25:40.579-08:00Erro<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;">Errar é humano.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;">Insistir no erro é mais humano ainda.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #f6b26b; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: large;">Erremos, assertivos, pelo mundo, com o acerto da virtude.</span></div>
Juliano Mattoshttp://www.blogger.com/profile/11955728092822844407noreply@blogger.com0