Hoje recebi um e-mail da autoproclamada maior editora literária de Portugal no qual a sua executiva me informava simpaticamente que a minha obra passara no teste de avaliação.
Seguiram-se as condições de publicação. Tudo parecia bem razoável, não fosse um singelo detalhe:
O autor compromete-se a adquirir 250 exemplares a 7,50€ cada.
Um total de quase 2.000€.
Não mesmo!
Ser escritor não significa ser otário, por mais que essas editoras vanity presses não pensem desta forma.
Ter de pagar pelo próprio livro é tatuar na testa um atestado de idiota.
Depois falei com um amigo que trabalha num grupo editorial que me disse o que eu já sabia: uma editora a sério paga aos autores para que sejam publicados e uma editora sanguessuga transforma o escritor em um mero cliente.
Não que as grandes editoras que pagam também não sejam sanguessugas, afinal o valor dos direitos autorais reservado ao escritor é irrisório e patético, mas é assim que tem funcionado o mercado editorial. Além disso, as editoras que pagam aos escritores são extremamente exigentes e é praticamente impossível ser publicado quem não tenha currículo, nome, fama e algumas cunhas, claro.
Cada vez mais a solução para quem não quer ser otário é tentar publicações por meio de financiamento coletivo ou até criar a sua própria editora.
O meio artístico é um dos mais fétidos, viciados e corruptos que há e o literário não foge à regra.
É por isso que eu não compro livros de grandes escritores. Faço download dos (poucos) que me interessam. Pirateio mesmo! A quantidade de livros na minha estante não chega aos cinquenta e a maioria são obras antigas adquiridas em segunda mão ou mesmo gratuitamente.
Só considero justo e digno comprar livros de autores menores, anônimos, rejeitados. Da mesma forma só compro discos de artistas de rua ou independentes.
Cabe a nós fazer desmoronar as fortalezas que aprisionam a divulgação artística, sujeitando-a a meras perspectivas de lucro. Não é errado que uma editora pretenda lucrar com a venda dos livros ou discos que edita, afinal ela tem seus muitos custos. O problema é o lucro ser o único crivo editorial.
Como escritor, quero e devo ser editado e publicado. Mas recuso-me a tratar a minha criação como mercadoria.
Ela é arte, não produto.
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