...foi a negação da política.
Uma negação que torna o povo vulnerável a discursos demagogos e populistas.
Foi a superficialidade e a intolerância.
Foi o orgulho da ignorância.
Foi o provincianismo.
Foi a arrogância de quem se nega a pensar e exige que lhe deem respostas imediatas e simplistas para problemas complexos.
O que elege Trump é a mesma mediocridade intelectual que elegeu Hitler.
A mesma que pretende eleger Bolsonaro no Brasil, que vibra com chacina de bem, diz que bandido bom é bandido morto e acha que o machismo é divertido.
A que fez o Brexit vingar.
Ou a que transformou a Polônia numa semi-ditadura nacional-cristã e que mantém a sombra de Le Pen à espreita na França.
Quem elegeu Trump, portanto, foram os discursos de ódio, o conservadorismo, o nacionalismo. Foi o medo da mudança - só um analfabeto político pode achar que o discurso de Trump representa algum tipo de alternativa.
Negar o mainstream político, as figuras fisiológicas, não significa negar a política em favor de supostos novos heróis, de personificações. Negar o mainstream político é negar toda uma engrenagem social, política e econômica que só se reforça com Trumps e Bolsonaros.
Quem elegeu Trump foi uma direita que sempre se esforçou para ridicularizar o ativismo político alternativo e sempre difamou os movimentos sociais.
Foram os papagaios das redes sociais que criam o seu pensamento por meio de memes.
Foi um sistema eleitoral viciado totalmente favorável à plutocracia, ao qual chamam cinicamente de democrático.
Quando as pessoas se negam a pensar e a dinamizar a concertação política para preguiçosamente se deixarem levar por individualidades demagogas fabricadas justamente para ecoar discursos rasteiros que caem muito bem a quem se satisfaz com a mediocridade da normalidade e do lugar-comum, surgem os Trumps.
No Brasil não surgiu apenas Bolsonaro. Surgiu o MBL, os Revoltados Online. Surgiu toda uma safra plantada pela negação da política.
O primeiro passo para combater essa negação é a autocrítica, mas vivemos num período de polarização em que reconhecer erros é visto como sinal de fraqueza.
O segundo passo é a honestidade. No entanto, vivemos num momento de velocidade supersônica da (des)informação em que tudo vale para derrotar o inimigo.
O terceiro passo é a perseverança numa época em que todos parecem satisfeitos com clichês e discursos empacotados e qualquer coisa mais complexa que manchetes e rodapés é demasiado dispendioso para merecer atenção.
Por sua vez, a negação da política é o primeiro passo para o fascismo.
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